Por incrível que pareça, dessa vez o garoto-propaganda tem razão: a tubaína é realmente uma alternativa excelente. Esse é o nome dado aos refrigerantes produzidos em pequena escala, em especial no interior de São Paulo, tendo uma composição na certa menos nociva para a saúde do que tantos outros de secretíssimas fórmulas, muita química e abrangência mundial. Quase todas são engarrafadas em vidro, mas já existe hoje o uso também de embalagens pet e latas.
A tubaína pioneira foi fabricada na cidade de Piracicaba, em 1898, com o nome de Gengi-Birra – a base de gengibre. Depois a mesma empresa lançou a Cotubaína, denominação surgida a partir da palavra cotuba, que significava na época algo como “legal”, “jóia”. Desde então o sufixo se popularizou (algo como Guaraná e Cola), sendo usado por fábricas de vários municípios, normalmente depois de sílaba inicial identificando a localidade. Nasceram Etubaína, Itubaína, Taubaína entre muitas outras. A primeira dessas três citadas é hoje a mais antiga entre as que seguem sendo produzidas, sempre com esse nome no rótulo, tendo sido homenageada em 2013 ao completar um século de existência.
A bebida é feita com guaraná, frutas variadas e flavorizantes, sendo saborosa e barata, o que facilitou sua popularização. Com a ascensão das classes C e D no Brasil, a partir de 2002, famílias passaram a consumir bens e serviços aos quais antes não tinham acesso. Na alimentação houve substancial incremento de carnes vermelhas, bolachas recheadas e refrigerantes, entre outros produtos. Com isso as tubaínas, que antes tinham somadas uma fatia de 20% do mercado nacional, dobraram essa participação. Tal fato obrigou a Coca Cola e a Ambev a frearem sua lucratividade, reduzindo os preços em cerca de 25%, naquele período. A medida deu certo e provocou nova acomodação no tocante às vendas.
Fora do Estado de São Paulo, no entanto, a denominação tubaína ainda é considerada depreciativa, muito mais por preconceito do que por alguma razão lógica. Isso porque os processos industriais são cuidadosos e pouco ou nada devem ao que de moderno existe em estruturas de maior porte e volume de produção. Isso é bastante injusto: na cidade de São Paulo existe inclusive o Tubaína Bar, na Rua Haddock Lobo, duas quadras distante da Rua da Consolação – e cerca de sete quadras longe do Instituto Emílio Ribas, referência no combate ao coronavírus naquela capital. O local tem ambiente retrô muito charmoso, oferece diversos pratos, inclusive vegetarianos, sendo conhecido pelos drinks que serve tendo como base justo esse refrigerante, desde 2009.
Existem tubaínas em todo o Brasil. Não dá para ir a Juazeiro do Norte (CE) e não provar a Cajuína. Nas Minas Gerais há o Guarapan, que tem gosto de maçã. Em Ribeirão Claro (PR) fabricam o Fabiane, de framboesa. A mesma cor de rosa é característica do famoso Guaraná Jesus, que só se encontra no Maranhão. Em São Gonçalo (RJ) bebem o Mineirinho, que apesar do nome não cruza a fronteira. Ele é feito de guaraná com erva chapéu-de-couro. Outra versão tem erva-mate na composição. Mas em termos de guaraná, nada pode ser mais legítimo do que o Tuchaua, produzido na Amazônia. Os catarinenses apreciam uma tubaína feita de abacaxi, chamada Água da Serra. São muitas, mesmo. Mas se todas matam a sede, com certeza nenhuma elimina o coronavírus, pouco importando se quem a bebe é de esquerda ou direita.
A bebida é boa. Quem a anunciou agora, continua péssimo. Não tem humor para ser, por exemplo, como um Carlos Moreno. Este fez centenas de anúncios da marca Bombril, entre 1978 e 2019, com raros intervalos. Era arquiteto, com pós-graduação nos EUA e, como ator, esteve em inúmeros trabalhos – foi inclusive Euclides, o dono da cobra Sílvia, no Rá-Tim-Bum da TV Cultura. Nem para o Tiozão da Sukita o novo garoto-propaganda serviria, porque é incapaz de se constranger com as próprias bobagens e inconveniências. Um pobre bufão que só faz sucesso perante a claque que o acompanha. Melhor a tubaína.
21.05.2020
Abaixo, um dos excelentes produtos existentes no mercado.

Concordo contigo .
Comentário serviu para piada de péssimo mau gosto, imperdoável partindo de alguém que se diz presidente do Brasil.
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Obrigado pela leitura, Rômulo! Siga acompanhando o blog. Abraço!
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Viva a Tubaína! Viva o Brasil profundo!
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VIVA!
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Muito bom Solon! Gosto muito do guaraná Jesus! O problema é que o bufão faz muito mal a saude dos brasileiros e ai, nem Jesus salva!!
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Que Jesus (ele próprio, não o guaraná) tenha pena de nós! E obrigado pela leitura, Vera!
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Não conhecia essa profusão de bebidas! Mas, depois de ler o texto seguinte (comecei por lá) que dá outra conotação ao termo tubaína, nem sei o que dizer aqui. Apesar do guaraná, ficou um gosto muito amargo na boca.
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As bebidas são produzidas por empresas sérias, como nosso presidente não é. Abraço!
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Muito bom, Solon! O virtualidades tem sido uma corrente de ar nesses tempos difíceis!
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Obrigado pela leitura e pelo elogio, Fernanda! Espero continuar merecendo ambos.
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Pobre Brasil…
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Pobre dos brasileiros, num navio à deriva e sem comandante.
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Como pode eu nunca ter tomado tal iguaria?!
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Ainda dá tempo, Karine. E alternativas você viu que não faltam. Abraço!
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