O CAFÉ NOSSO DE CADA DIA

Eu sempre digo que se o gosto do café fosse semelhante ao perfume que exala da embalagem recém aberta, eu seria viciado no consumo. Mesmo assim, costumo beber vez por outra, mas em quantidade modesta o suficiente para não agradar aos produtores, nem desagradar meu sistema digestório. Ao contrário de outras pessoas, que bebem várias vezes por dia e em doses de fato muito maiores, eu gosto mesmo é daquela xícara bem pequena, as servidas em bares e restaurantes depois das refeições. E não coloco açúcar ou adoçante, preferindo puro e quente. Também o faço com leite, algumas manhãs.

Pelo que foi colocado acima, se torna lógico afirmar que eu não me enquadro entre os coffee lovers. Tive um colega jornalista que discorria com propriedade sobre tipos de grãos, graus certos de temperatura e tempo para a torrefação, formas distintas de preparo e muito mais. Mas, tanto para ele quanto para qualquer pessoa, me parece que o maior valor do café é ser um companheiro, quando se trata de manter ou levantar o ânimo.

Sou antigo o suficiente para ter vivido, mesmo que por breve tempo, aquele clima de redações onde as características principais eram as existências, sobre todas as mesas, de cinzeiros e xícaras de café. E, aos mais jovens que estejam lendo agora, uma informação surpreendente: não existiam computadores e os telefones todos eram fixos. Mas, vamos voltar ao que interessa, sem criar um cenário bom para filmes de época: a importância do café em nossas vidas.

O café acompanha quem lê e quem escreve, quem recém acordou e quem precisa retardar o sono, quem concluiu uma refeição ou apenas está conversando com amigos, podendo também ser companhia única de quem olha pela janela e busca no horizonte alinhar pensamentos. Ele aquece e revigora. E se trata de bebida universal: desconheço se existe algum país no mundo onde ele não seja conhecido.

Não há comprovação absoluta de onde o café é originário, mas a Etiópia segue sendo apontada como o local mais provável. Existe inclusive uma lenda, atribuindo a um pastor de nome Khaldi, a sua descoberta, há cerca de mil anos. Ele teria notado que as cabras que pastoreava ficavam muito mais ativas e saltitantes após comerem os frutos de um tipo de arbusto, que tinham a cor vermelho-amarelado. Quando faziam isso, elas inclusive conseguiam percorrer distâncias maiores sem demonstrar um cansaço significativo. Então, ele próprio provou tais frutinhas e sentiu uma sensação muito boa. A notícia logo se espalhou e os povos etíopes foram adquirindo o hábito de consumir a fruta crua, misturada com gordura animal. Só mais tarde, buscando alcançar uso medicinal, surgiu a ideia de fazer uma infusão em água fervente.

Quem depois consolidou o uso da bebida como um hábito diário teriam sido monges, para que os longos períodos de leitura e oração fossem mais facilmente enfrentados. Assim, começaram a plantar o arbusto do gênero Coffea em monastérios islâmicos existentes no Iêmen. Isso foi entre os anos de 1250 e 1600. Nesse mesmo período, toda a Arábia já fazia uso e a planta era propriedade protegida, não sendo permitida a exportação de uma única semente. Cuidado que o Brasil, por exemplo, não teve com as sementes de seringueiras.

Também foi no mundo árabe que foram abertas as primeiras cafeterias de todo o mundo, nas cidades de Constantinopla (Turquia) e Meca (Arábia Saudita). Mas, ao mesmo tempo, houve período no qual foi proibido o consumo de qualquer alimento torrado, que atingisse cor próxima ao carvão. Tal lei foi estabelecida pelo temor que esses encontros, somados ao potencial da planta em si, pudessem se tornar embriões de alguma rebelião. A saída mais do que inteligente foi criar uma torra clara, dando origem ao delicioso Café Turco.

De lá, grãos contrabandeados chegaram à Índia. E apenas em 1616 à Europa, com holandeses cultivando a variedade Moka em estufas, na cidade de Amsterdã. A primeira cafeteria europeia foi a Pasquar Rosee, aberta em Londres, no ano de 1652. Ela fez tanto sucesso que provocou reação de donos de tavernas e vendedores de vinho. Esses se uniram a médicos e se tornaram precursores das fake news atuais, difundindo mentiras para tentar frear o novo hábito. Alegavam que o café promovia perda de tempo, conversas triviais e que a bebida era venenosa. Mas essa estratégia não deu certo.

No Brasil as primeiras sementes chegaram em 1727, trazidas da Guiana Francesa. Seu cultivo começou no Pará, sendo mais tarde levado para a região Sudeste, onde tomou grandes proporções. Em 1779 nosso país exportou café pela primeira vez. No Século XIX quase tudo por aqui passou a ser financiado pela riqueza dos cafeicultores, inclusive estradas e ferrovias, construídas para escoar produção. Foi a partir do café que se teve recursos para iniciar a industrialização, por exemplo. Então, o Brasil já representava 70% da produção mundial do produto. Atualmente ela já não é tão absoluta, mas segue extremamente expressiva: em 2020 era de cerca de 40%. Vietnã em segundo e Colômbia em terceiro, também se destacam.

Mas já escrevi demais sobre o assunto. Vou fazer uma pausa, para tomar um cafezinho. Sintam-se à vontade para fazer o mesmo, se é que já não fizeram quando iniciaram essa leitura.

31.03.2023

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O bônus de hoje é duplo. Primeiro temos o áudio de Jorge Ben Jor, com a música Café. Depois é a vez de Bob Dylan, cantando One More Cup of Coffee (Mais um Copo de Café).

Café, com Jorge Ben Jor

É DOSE AGUENTAR O RENATO

No início deste mês comecei a escrever uma crônica para colocar aqui, nesse espaço, atribuindo para a mesma o título de “Entrevistas Irritantes”. Não concluí nem publiquei, do que me arrependo agora. O conteúdo era uma crítica ao treinador da equipe de futebol profissional masculino do Grêmio, Renato Portaluppi. Mais precisamente, defendia a ideia de que são quase insuportáveis as suas manifestações feitas após os jogos que o time disputa. Elas se resumem à repetição interminável das mesmas frases, com variações muito pequenas feitas para adaptar suas respostas ao momento e ao seu interesse. Ele não fala para prestar informações e justificativas ao público torcedor, que no fundo é quem paga todo o custo de manutenção do clube, inclusive o salário daquele que está sendo entrevistado. São apenas estruturas que compõem todo um bem planejado marketing pessoal, servindo para agradar tanto seus patrões quanto seus subordinados, além de manter inebriado parte do imenso público tricolor.

Asseguro a vocês que sou gremista como poucos e que nunca neguei e jamais escondi esse fato. Sou jornalista, mas não trabalho atualmente com cobertura esportiva. E, mesmo que trabalhasse, acredito ser uma besteira enorme a pessoa ter que fingir que nunca torceu ou torce por um clube qualquer, para que não perca sua credibilidade. Esta se conquista é com trabalho bem feito, com profissionalismo, respeito a fontes e ao público, com um posicionamento coerente. Ninguém se torna honesto ou desonesto por torcer para o time A ou para o time B. E temos alguns poucos, porém bons exemplos, mesmo aqui na terrinha. Um deles é o comentarista Adroaldo Guerra Filho, o Guerrinha. Mesmo identificado com o Internacional, ele tem o respeito da imensa maioria da torcida do Grêmio, que vê nas suas apreciações uma postura de observador sério, que relata o que realmente está vendo em campo. Apesar de vez por outra ele deixe escapar algumas pérolas, frutos da sua fina ironia. Mas em doses compreensíveis e aceitáveis.

As frases feitas de Renato já foram aproveitadas até em algumas ações de marketing elaboradas pelo clube. Coisas como “eu confio no meu grupo”. Mas existem outras tantas, de tal forma que haja camisetas para serem estampadas. “Eu dou oportunidade a todos. Estou lapidando o jogador. Eu passo confiança para eles. É como eu sempre digo.” Vejam que todas têm em comum o falar de si próprio, de um trabalho que é supostamente exemplar, único, inigualável, imprescindível. Não raras vezes fala contra a imprensa, contra parte da torcida e cobra coisas dos dirigentes, publicamente, exercendo função que não é sua, invertendo a hierarquia de forma absurda. Ele jamais se contenta em ser apenas o treinador do time. E dele é simplesmente impossível tirar, em quaisquer entrevistas, uma explanação de ordem tática ou técnica.

Existem ainda os mitos, que são involuntariamente alimentados por todos, coisas do tipo “comigo ele joga”. Mentira! Essa história de que recupera jogadores foi a generalização de um que outro caso isolado. A exceção passou a ser contada como se regra fosse. Everton – aquele que veio do São Paulo –, Thiago Neves, Robinho, Tardelli, Maicosuel, André, Henrique Almeida e Rômulo são alguns exemplos gritantes de perda de tempo e de muito, muito dinheiro mesmo. No elenco atual, estão atribuindo a ele contratações de Carballo e de Cristaldo, que talvez ele nem soubesse que existiam antes da chegada. Ambos foram indicados por um departamento informal de desempenho, organizado pela atual direção, antes mesmo de vencerem as eleições e tomarem posse. Do mesmo modo, a ousadia de trazer Luis Suárez foi do presidente Guerra e sua equipe. Renato, a bem da verdade, indicou outros dois que estão dando certo, Vina e especialmente Pepê.

Mas o mesmo Renato tem uma paixão cega por Thiago Santos, Lucas Silva e Diogo Barbosa, que já ultrapassou o limite do razoável. A torcida não os suporta, a imprensa de forma unânime entende que não servem para a ideia de time vencedor que se deseja – não que não possam e devam seguir carreira em outros locais. E ele insiste em colocar todos os três em campo, quaisquer que sejam as oportunidades surgidas. Se elas não aparecem, ele as cria. Exemplos foram o último Grenal e o difícil enfrentamento contra o Ypiranga, no sábado passado. Para Renato não vale a máxima “a voz do povo é a voz de Deus”, pelo simples fato de que ele, na sua concepção, é o próprio Deus. E prefere o ditado ao contrário. Assim, jovens promissores como Kauan Kelvin, Cuiabano e Ronald, no máximo ganham lugar no banco, vez em quando.

Quando o também contestado Thaciano realizava a melhor partida dele com a camisa do Grêmio, Renato o trocou por Gustavinho, que nada acrescentou. Antes disso, ainda no intervalo, entrou Thiago Santos no lugar de Galdino: um protetor de zaga, quando o time precisava atacar e vencer o jogo, que estava mais do que encardido. O que ele conseguiu foi oportunizar um gol para o Ypiranga, como já fizera no Grenal. Foi o que faltava para as vaias aparecerem: os visitantes somavam 3×1 no placar agregado e a classificação para a final escapava entre os dedos, do time com melhor campanha na competição. Foi preciso que ele saísse, após pouco mais de 20 minutos em campo, para Cristaldo vir ajudar na busca do empate e da conquista da chance de decidir nos pênaltis.

A arrogância de Renato está demais. Foge até mesmo dos parâmetros altos que ele sempre apresentou. Ele segue achando que o time não joga nada sem ele. Que o clube não conquista nada sem ele. Que a estátua que ganhou na Arena ainda é insuficiente. É incapaz de se dar conta de que, por maior que seja o seu ego, ele (Renato) jamais terá o tamanho do Grêmio instituição. Assim, enquanto não tiver alguém que o coloque no devido lugar – Guerra havia prometido fazer isso, mas ao que parece não está conseguindo –, ele seguirá com esses delírios. Agora, não se pode deixar de reconhecer a sua imensa importância como ídolo maior da história do clube, a grande contribuição que deu ao longo da história, como jogador e como treinador. Para concluir, como citei o Guerrinha no início desta crônica, vou aproveitar também uma das suas lapidares observações: “Tem certas coisas que os treinadores não fazem nunca, porque há grande chance de que dê certo. Daí, como é que eles ficam?” Renato jamais se curvará ao que observam e pedem a torcida e a imprensa. Mesmo que estejam cobertas de razão.

29.03.2023

P.S.: Como é grande a chance que ele conquiste mais um título, nos jogos finais contra o Caxias, se tornará por mais um tempo imune a críticas de quem vê no futebol algo além do que resultados.

Renato Portaluppi (ou Renato Gaúcho), atual treinador do Grêmio

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O bônus de hoje é o clipe oficial da música Ego, com Willy William. Ele é cantor, DJ e produtor musical francês, famoso por fazer remixes. Também tem histórico de participações vocais em trabalhos de vários artistas da dance music.