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Blog do jornalista e professor Solon Saldanha

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Publicado em 15/10/202208/01/2023

O TALENTO DE NELSON

por Solon Saldanha.Em Crônicas.2 comentários em O TALENTO DE NELSON

Seguido eu me pego fuçando em velhos arquivos de imagem e som que ainda tenho guardados no HD do meu computador e em alguns externos que também tenho. Podem rir, querendo, mas eu não confio muito nesse negócio de nuvem. Nem quando elas estão no céu, carregadas. Essas podem significar chuva forte e muitos estragos; aquelas virtuais podem ser a perda definitiva de muitas das memórias que eu quero preservar. Pode dar pau em um HD? Claro que sim. A rigor, nada é eterno mesmo. Mas aqui, se o risco é meu, também é a decisão de como e até quando ter tudo disponível. Se as primeiras são controladas por São Pedro ou talvez algum dos seus auxiliares – imagino que todo santo deva ter seus ajudantes, como os de Papai Noel –, não faço a menor ideia de qual seja a santidade do mundo virtual.

Ontem à tarde, ao fazer isso que me dá um grande prazer, voltei a ouvir uma canção da minha época de universitário: Ver-te/Algo Teu, de Nelson Coelho de Castro. Essa é a primeira faixa do quarto trabalho gravado por esse excelente cantor e compositor porto-alegrense, em 1983. Não foi a mais tocada, a mais pedida, a de maior sucesso. Mas tem sonoridade, um doce brincar com as palavras, sendo encantadora. Vim Vadiá foi a que se tornou a preferida das emissoras de rádio e do público. Tão Bonita Voz também marcou época, mais na linha que me agrada. E aquela que adotava um necessário tom mais crítico foi Legislativo.

Nelson começou com 11 anos ao ser integrante do Coral dos Canarinhos do Colégio São João – nessa escola eu joguei futebol de salão tempos depois –, época na qual morava no meu bairro, o Passo D’Areia. Depois a família passou três anos em Curitiba, de onde ele voltou a tempo de ganhar, em 1974, o Prêmio Comunicação, no Festival da Escola Técnica Parobé – onde eu estava, no mesmo ano, cursando o primeiro do curso de Eletrônica. Em 1977 ele se formou em jornalismo – seis anos antes do meu diploma idêntico –, ao mesmo tempo em que lançava seu primeiro espetáculo, E o Crocodilo Chorou, com o seu grupo Olho da Rua. Em 1978 ele integrou o disco Paralelo 30, onde emplacou canções suas ao lado de outras, de Carlinhos Hartlieb, Nando D’Ávila, Bebeto Alves e Raul Ellwanger. No ano seguinte lançou seu primeiro compacto, Faz a Cabeça; produzindo e lançando entre 1980 e 1981 o primeiro disco independente realizado no Rio Grande do Sul: Juntos.

Nelson Coelho de Castro sempre foi múltiplo e eclético. Ele venceu, por exemplo, o 1º Festival Latino-Americano da Canção (Musicanto). Foi também vencedor do Prêmio Tibicuera de Teatro Infantil, com o musical Cidade do Lugar Nenhum. E compôs a canção Armadilha, para a trilha sonora do filme Verdes Anos. Para completar esse “passeio” que mostra atuação em vários campos, em 1985 recebeu o Prêmio Açorianos de Melhor Trilha Sonora para Teatro, ao produzir Força D’Água para a peça Doce Vampiro, de Carlos Carvalho. E ainda foi fundador e o primeiro dos presidentes da Cooperativa dos Músicos de Porto Alegre, entre 1987 e 1989.

Em 2001 ele voltou a ser contemplado com o Prêmio Açorianos, desta vez pelo CD Da Pessoa. No ano seguinte fez uma turnê por Munique, Paris e Viena, com Bebeto Alves, Gelson Oliveira e Totonho Villeroy, quando lançaram o CD Juntos 2 – Povoado das Águas. No retorno, os quatro se apresentaram durante o Fórum Social Mundial, que acontecia em Porto Alegre, para um público superior a 70 mil pessoas. E seu mais recente trabalho gravado foi Lua Caiada, de 2010.

Esse é um dos gritantes exemplos da produção musical aqui do Sul, que foge das esperadas músicas nativa e tradicionalista. Que tem ou teria mercado muito além do Mampituba, mas que mesmo sendo aprovada não recebe o destaque que mereceria, considerada a qualidade. Temos que investir mais em olhos de ver e ouvidos de ouvir. E sensibilidade para se perceber a força de versos como “Saudade une nada, saga/ Vai além não mata/ Estraga, vaga/ Um estranho vejo/ Infinito vejo/ Quanto brilho tinha/ Quando sofro minha/ Não escondo nada/ Nem por nada minha/ Oh! Saudade minha/ Nem responde mais a dor”. Fica o desafio: encontrem essa canção, porque as ofertadas no bônus serão outras.

15.10.2022

Nelson Coelho de Castro, em foto de Joana Carolina

O bônus de hoje é outra vez duplo, com duas canções de Nelson Coelho de Castro. Ver-te/Algo Teu, com fotografias do compositor. Depois temos o áudio de Tão Bonita Voz.

Tão Bonita Voz – Nelson Coelho de Castro
Uma vez
Mensal
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2 Comentários

  1. Laura disse:
    15/10/2022 às 14:13

    Adorei a postagem! Algumas vezes Nelson veio a Lajeado. Quem trazia, hoje é bolsonarista. Nunca entenderam as letras….

    CurtirCurtir

    Responder
    1. Solon Saldanha disse:
      15/10/2022 às 16:01

      Esse pessoal nunca foi bom em “acolherar as letrinhas”, Laura. Lembrei agora de Chico Buarque enganando os censores: “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta”. Ou ainda na espetacular Cálice. Ironia não é para qualquer um. Abraço!

      CurtirCurtir

      Responder

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