NÃO É LOUCURA: É MÉTODO
Várias vezes eu já afirmei que o presidente Jair Bolsonaro é um louco. Peço desculpas aos que têm transtornos psíquicos e admito que não fui muito inteligente, ao adotar essa saída fácil. No caso específico do mandatário isso de fato está longe de ser loucura: é método. É tudo pensado, se não por ele, que jamais transpareceu ser pessoa com luzes suficientes, por alguém próximo que planeja aquilo que ele depois executa.
Desde a sua posse creio que não houve um único dia sequer no qual alguma atitude, frase, ação ou omissão dele e dos seus não nos fosse apresentada, para pautar as discussões. E todos nós caímos como se fôssemos patinhos. Não aquele da FIESP, inchado como o ego da imensa maioria dos empresários que comandam aquela entidade. Mas com certeza grande como a nossa soberba, a nossa certeza de que bastaria ser racional, ter princípios e operar com a verdade. Que esses recursos seriam suficientes para que se abrisse os olhos dos incautos que votaram no fascista sem serem eles próprios fascistas.
Então, Jesus subiu numa goiabeira; as universidades se tornaram antros de drogas e sexo; cessou o desmatamento da Amazônia; não houve mais nenhum caso de corrupção no país; era mentira que estávamos enfrentando uma pandemia; as vacinas implantavam microchips nas pessoas; os venezuelanos já haviam devorado todos os seus cães e gatos, estando agora a consumir ratos; foi comprovada a existência do kit-gay citado durante a campanha eleitoral; o PIX foi ideia do mito; a guerra da Ucrânia só não começou antes porque ele conseguiu adiar; Cloroquina e outros remédios inócuos para tratamento da Covid-19 se tornaram solução milagrosa; as urnas eletrônicas foram fraudadas, inclusive na eleição dele; e ideologia de gênero era o ensino prioritário em escolas públicas. Cito aqui coisas lembradas agora, sem qualquer critério cronológico ou de ordenação hierárquica, quanto ao impacto, por exemplo. E apenas uma amostragem entre tantos absurdos.
Todas essas afirmações acima são falsas, sem exceção. A equipe do Aos Fatos, agregando todas as declarações feitas ou repercutidas pelo presidente a partir do dia de sua posse e atualizadas até 07 de junho de 2022, comprovou que 5.513 delas eram inverídicas ou foram propositalmente distorcidas. Isso em 1.253 dias. Ou seja, dá média de 4,39 feitas a cada 24 horas. Desempenho de um Super Pinóquio. Logo, minha colocação acima, de ao menos uma mentira por dia, é modesta demais. E essa avalanche numérica é a comprovação máxima de que isso não se trata do somatório de lances isolados. Portanto, não se trata de loucura. Jamais se tratou de loucura. Há método e planejamento, articulação para chegar a fins coerentes com sua ideologia.
O objetivo é destruir o que foi a duras penas construído. É por fim ao projeto nacional começado por Vargas e depois ampliado por Juscelino. É fazer com que se volte a ser apenas um território que forneça as suas riquezas, como petróleo, nióbio e minério de ferro, de preferência a preço de banana, além de assegurar boa produção agropecuária para exportação. Nosso meio ambiente não importa. Nosso povo não importa. Interessa é a manutenção de uma elite afinada com esse objetivo, mantendo e ampliando a desigualdade social. E, para assegurar que tais propósitos sejam alcançados, a educação tem que ser destruída; o ódio, o fanatismo e o medo precisam ser semeados; uma falsa religiosidade deve ser estimulada. O que explica as atitudes dele. Ou seja: o homem não é louco. Ele é apenas mau, um instrumento nada inocente e muito útil.
12.06.2022

O bônus de hoje é o videoclipe da música ConvocAção, de Max Gonzaga. Ele foi produzido com a cooperação de mais de 160 pessoas, que doaram seu tempo e seu talento para gravar esse manifesto antifascista. A proposta é chamar todas as pessoas que querem uma vida digna e sem ódio, sem violência e sem barbárie, para que se levantem e se engajem, antes que seja tarde demais.