Eu era tão mais jovem, ainda estudante e solteiro, que a memória deveria precisar ser buscada muito fundo. Mas o acontecimento não integra aquela categoria dos possíveis de serem esquecidos, não importa quanto tempo passe. Faria uma viagem de ônibus, noturna. Meu lugar ficava no corredor e, quando embarquei, a poltrona ao lado, junto à janela, já estava ocupada. Era uma mulher mais velha do que eu, mas ainda não passível de ser incluída do rol das maduras. Adulta sim, bonita com certeza absoluta. E me recebeu com um sorriso quase protocolar, porém bem interessante. Bagagem de mão posta na parte superior, me acomodei para enfrentar as horas que me separavam do destino. O ônibus não estava lotado e a viagem tinha tudo para ser tranquila.

Trocamos meia dúzia de palavras formais, das quais nem me lembro. E ficamos em silêncio. Não nos conhecíamos e havia muito pouco o que falar. Algum tempo depois, na estrada, tudo quase às escuras e raras cortinas ainda entreabertas, com os passageiros tentando dormir, ela ficou me olhando demoradamente. Algo quase constrangedor. Então, inclinou as costas com mais força contra o banco, levantou os quadris do assento e, com ambas as mãos postas por baixo do vestido, levou a calcinha que usava em direção aos tornozelos. Em outro movimento, curvou-se, apanhou a peça e me alcançou, com um sorriso bem mais insinuante do que aquele da chegada. Não consigo sequer imaginar como deve ter ficado a minha expressão facial, diante do “presente” recebido. Na certa foi algo muito além de surpresa. Ela tinha um cobertor leve, junto à bolsa que estava no chão, entre suas pernas. Com ele foi possível nos cobrirmos, evitando o frio da noite, que caíra bem longe da primavera e do verão. E também eventuais olhares indiscretos.

O primeiro modelo de calcinhas femininas surgiu na Europa, por volta do ano 1790. Ela chegava muito abaixo dos joelhos e tinha cordões para amarrar junto à cintura e nas pernas. Se bem que bem antes, em 1550, Catarina de Médice, uma nobre italiana que se tornou rainha consorte da França, ao ser desposada por Henrique II, já mandara confeccionar uma peça semelhante para uso pessoal. O objetivo era poder montar a cavalo com a perna dobrada, sem que ficasse à vista algo que ela não pretendia mostrar. A história faz esse registro, mas não era algo de uso difundido, sendo rigorosamente restrito.

A Revolução Francesa, aquela mesma que se propôs a trazer igualdade e fraternidade, no quesito liberdade atingiu também roupas. A guilhotina cortava cabeças enquanto a moda reduzia um pouco os muitos panos dos vestidos. Tecidos finos passaram a ser adotados, mais leves e esvoaçantes. Como a musseline, de origem indiana, criada a partir da seda e depois alterada para algodão. Mais fluidos, sendo inclusive um tanto transparentes, passaram a exigir uma nova camada interna, para a proteção das “donzelas”. Antes de tudo surgiram as pantaloons, que iam até os tornozelos e em geral eram confeccionadas em cores próximas à pele. De ruim tinham a enorme dificuldade de serem retirados, quando necessário. Depois vieram as panties, um pouco mais curtas, mas ainda nem de perto práticas.

Dando um considerável salto na história, na entrada do Século XX é que as coisas realmente começaram a mudar. E as calçolas com aberturas frontais, exigidas pelas condições sanitárias e pela facilidade para a prática sexual, sofreram reais e maiores alterações. Os espartilhos, das décadas anteriores, perderam espaço e chegaram os “macaquinhos”. Depois inventaram o lastex, um tecido que combinava borracha com amônia. Ele passou a ser usado para a produção de calcinhas, destinadas apenas ao público jovem. Ou seja, meninas conheceram o produto “reduzido” antes das mulheres adultas.

Essas últimas tiveram acesso em 1939, quando começou a ser vendido em Nova Iorque um “suporte atlético para senhoras”, prometendo um avanço em termos de higiene, por apenas cinco dólares a unidade. Era uma espécie de shorts, mais longos. Nos anos 1950 foram popularizadas as cintas-ligas, o que acrescentou sensualidade às calcinhas. E dez anos depois, com a utilização do nylon em confecções – fora inventado ainda em 1935, pelo químico Wallace Hume Carothers –, tudo ficou mais barato e acessível. Foi quando a grande revolução cultural dos anos 1960 tornou esse acessório uma peça importante na moda, o que vale ainda mais hoje em dia, diante de inúmeras alternativas de modelos e padrões, que agradam os mais distintos gostos. Fica assim cumprida aqui uma totalmente despretensiosa e apenas ilustrativa viagem no tempo. Tão rápida quanto passou aquela minha, no ônibus.

20.08.2021

No bônus de hoje, Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros, com a música Kátia Flávia, a Godiva do Irajá, uma das primeiras canções brasileiras que pode ser identificada como um rap – ou quase isso.

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