Exatos cem anos atrás, um russo chamado Lev Sergeevich Termen inventou um instrumento musical absolutamente revolucionário na época que, em sua homenagem, foi “batizado” como teremin – seu nome ocidentalizado era Léon Theremin. O que ele tinha de diferente era ser um dispositivo eletrônico, sendo controlado sem que houvesse qualquer contato físico do instrumentista. Ou seja, bastava movimentar suas mãos no ar e o músico conseguia a emissão de um som poderoso e característico. Algo como se estivesse tocando um piano ou órgão invisível. O inventor saiu pela Europa fazendo demonstrações e acabou se radicando nos Estados Unidos onde, em 1928, patenteou a sua invenção.
O teremin é composto por uma caixa com duas antenas metálicas nas suas extremidades. Elas “percebem” as posições distintas que as mãos do músico vão adotando e essas oscilações são transformadas em sinais elétricos que, amplificados, viram ondas sonoras que alimentam autofalantes. A invenção de Lev foi possível graças a pesquisas que haviam sido financiadas pelo governo russo, o que causou desconforto em Moscou com o fato de ter sido levada para os EUA. Os direitos foram vendidos por ele para a RCA, uma empresa privada que lançou o produto rebatizado como Thereminvox, sem no entanto alcançar sucesso comercial – até porque isso foi feito em momento pouco apropriado, logo após o início da maior depressão econômica do mundo capitalista, deflagrada a partir do crash da bolsa de Nova Iorque.
Dez anos após sua chegada, Lev partiu de forma misteriosa. Algumas investigações nunca confirmadas oficialmente apontam para a real possibilidade de ter sido ele retirado de sua casa por agentes da KGB, sigla do Komitet Gosudarstveno Bezopasnosti (Comitê de Segurança do Estado), o equivalente russo da CIA norte-americana. Ou seja, uma agência de informação e serviços secretos. Teria sido levado de volta para trabalhar em um laboratório de experimentos na cidade portuária de Magadan, no extremo oriente da Sibéria – a cidade mais próxima fica a mais de mil quilômetros. Voltando ao instrumento, na formatação normal a mão direita controla a frequência e a esquerda cuida do volume. O lançamento do documentário Theremin: An Electronic Odissey, em 1994, foi responsável por uma nova onda de interesse nele. E ainda existem alguns poucos especialistas que se apresentam pelo mundo, com sucesso.
Outro instrumento que independe de contato físico é a harpa a laser. Ele é composto por uma interface de usuário de música eletrônica onde se acopla um display de iluminação a laser. O resultado é a projeção de vários feixes de luz que, quando interrompidos, produzem sons. O tempo e a altura da interrupção é que dão as variações sonoras necessárias para a produção da nota e do efeito que sejam desejados. Dependendo da intensidade da luz, 500 mW ou mais, o uso de luvas e também de óculos é recomendável, para evitar lesões nas mãos e nos olhos.
Há dúvidas sobre quem teria inventado a harpa a laser. O britânico Geoffrey Rose registrou uma patente provisória na Inglaterra, no ano de 1976. Cinco anos depois, Bernard Szajner conseguiu outro registro no escritório de Paris, que não teria encontrando evidências de instrumento similar. Mesmo não sendo exatamente iguais, na verdade similaridade existia, sim. Entretanto, seja quem for o verdadeiro pai do invento, quem o popularizou foram o francês Jean Michel Jarre e o japonês Sumuso Hirasawa. Os críticos do instrumento, com boa dose de razão, dizem que ele é muito mais utilizado para dar espetáculo do que pelo som que produz – ao contrário do teremin, realmente inovador. Seja como for, tanto um quanto outro são alternativas que inovaram uma das mais antigas manifestações artísticas da humanidade, que é a música.
18.07.2020
Bônus 1: Apresentação da húngara Katica Illényi (teremin), com a Gyõr Philharmonic Orchestra – Gyõr é uma cidade localizada no noroeste da Hungria –, sob a regência do maestro István Silló. A música é Once Upon a Time in the West (Era uma vez no Oeste), composta pelo italiano Ennio Morricone, recém falecido, trilha sonora de filme clássico do spaghetti western, que tinha o mesmo nome. Dirigida por Sergio Leone e grande sucesso na época (1968), a película traz Henry Fonda como protagonista, Claudia Cardinale, Charles Bronson e Jason Robards em outros papéis de destaque.
Bônus 2: Apresentação do instrumentista francês Jean Michel Jarre (laser harp), em show realizado na Halle Tony Garnier, uma arena multiuso da cidade de Lyon, em 2016. A música é The Time Machine.
Incrível coincidência, acabamos de ver o filme “Era Uma Vez no Oeste”, mas a música tocada no Teremim fica fantástica. Não tinha conhecemto desse instrumento antes.
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A música sem dúvida ganha alma com ele. Grande abraço!
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Muito legal Solon!! Adoro estes instrumentos. Tem um show do Sting com uma pequena orquestra e gravado na Alemanha onde ele executa o Teremin e canta simultaneamente!
Jean Michel, tenho um Bolachão que ganhei de aniversário no RJ onde ele tb executa em várias faixas esta Harpa!! 🎼🎶👍
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Este é o amigo Felipe, que sabe tudo de música. Aliás, recomendo suas Lives du Balaio. Quanto ao teremim, escrevi justo por ter ficado deslumbrado com o seu som. Vou procurar o show do Sting para ver. Grande abraço!
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Fantástico! Não conhecia este instrumento , muito menos a estória de seu inventor.
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Um dos objetivos do blog é justamente trazer informações não comuns. Bom que isso está sendo alcançado. Grande abraço, amigo!
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Só hoje, com calma e tranquilidade, fiz a leitura deste texto e descobri que elucidou algumas dúvidas que eu tinha. Os 2 vídeos eu já conhecia, mas confesso que nas vezes que os contemplei, fiquei intrigado com tais instrumentos ou engenhocas. Pensei: Quem foi o gênio que descobriu essa doideira? Preciso descobrir o que é isso! Mas como em nossas vidas tudo é muito corrido, esqueci de pesquisar. Mas felizmente, sou amigo do Solon Saldanha. E hoje ele me entregou de bandeja, a resposta desta dúvida cruel. Meu amigo, adorei o tema e agradeço pelo belo texto! Vou compartilhar com outros que tem a mesma dúvida que eu tive! Sobre as músicas, confesso que, Era uma vez no Oeste do Ennio Morricone, aperta meu coração toda vez que ouço. Uma verdadeira obra de arte! Grande abraço, meu irmão!
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Essa música do filme Era uma vez no Oeste para mim soa como uma verdadeiro hino ou prece. Abraço, Kruger!
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