Sim, isso existiu. Acredite, havia um Bozo que fazia rir e não chorar. Ele nasceu nos EUA, terra que o outro idealiza e ama mais do que a sua, só que se espraiou por outros países do mundo, que não iriam querer de forma alguma esse nosso. Seu nascimento foi ainda em 1949, tendo sido criado por Larry Harmon, um ator, produtor e empresário – seu nome verdadeiro era Lawrence Weiss – que treinava pessoalmente quem iria viver o personagem. E foram muitos os que estiveram por trás da maquiagem que o identificava. Bozo The Clown, ou simplesmente Bozo, é uma marca registrada e a empresa sua proprietária também detém os direitos sobre O Gordo e o Magro.
No Brasil a franquia fez sucesso entre os anos 1980 e 1990, através da antiga TVS, hoje SBT. Mas muito antes disso e um pouco depois, outros 40 países também tiveram um Bozo para chamar de seu. Nos EUA, como ainda não havia transmissão em rede quando ele surgiu, Larry mantinha vários atores sob contrato, em diferentes estados, para que ele estivesse sempre no ar. Aqui, segundo o relato de pessoas muito próximas de Silvio Santos, ele chegou a pensar em interpretar pessoalmente o palhaço, mas foi desaconselhado por assessores que temiam vexame ou, no mínimo, um retumbante fracasso. Demovido da ideia, entregou para Wandeko Pipoca a honra de começar com o programa que animaria a criançada por mais de uma década.
O pioneiro abandonou o posto, após algum tempo. A razão foi não suportar o anonimato que era exigido: ele era amado quando no palco e totalmente desconhecido, fora dele. Outros dez palhaços/atores o sucederam, nos anos em que a atração continuou no ar. Mas a atração principal não trabalhava sozinha. Outros personagens secundários acompanhavam Bozo, orquestrando com ele todas as brincadeiras: Vovó Mafalda, Papai Papudo, Salci Fufu, Gorila King e Kuki. Para os padrões atuais, a produção era extremamente simples. Num auditório pequeno, repleto de crianças, havia muita cor e painel, onde aconteciam jogos. Havia também participação por telefone.
Além dessa atração importada, o Brasil teve alguns palhaços famosos, a maioria deles com origem circense. Entre eles se pode destacar Arrelia, Carequinha e Piolin. A origem desta atividade se perdeu com o tempo, mas historiadores admitem que a mais provável vem dos antigos “bobos da corte”, que tinham como função distrair reis e nobres, durante a Idade Média. O que de certa forma o difere de outros atores é que o papel é sempre o mesmo: ele próprio, com uma ingenuidade e inocência preparadas para cativar. Já o termo que o denomina teria originado da palavra paglia, em italiano, que quer dizer palha. Isso porque suas primeiras vestimentas eram feitas do mesmo tipo de pano usado para revestir colchões. Esse tecido muito grosso, listrado e acolchoado era o melhor para protegê-lo das quedas que sempre sofria propositalmente ao executar o seu número.
Arrelia (Waldemar Seyssel 1905-2005) começou no circo do seu tio chileno, com seis anos de idade. Sua família iniciou com a atividade ainda na França, a partir do seu avô paterno. Na televisão, teve o Cirquinho do Arrelia, durante mais de uma década, a partir de 1855, na TV Record. Carequinha (George Savalla Gomes 1915-2006) estreou como cantor de rádio em 1938, na Mayrink Veiga. Foi o primeiro a ter um programa televisivo, o Circo Bombril, depois rebatizado como Circo do Carequinha, que comandou por 16 anos na TV Tupi, desde 1950. No final dos anos 1960 trabalhou na TV Piratini, de Porto Alegre. Piolin (Abelardo Pinto 1897-1973) nasceu num circo, quando armado em Ribeirão Preto. Tinha grande habilidade como ginasta e equilibrista, além das atuações cômicas. E foi reconhecido inclusive por intelectuais, durante a Semana da Arte Moderna, em 1922, por ser um genuíno artista brasileiro. Teve trajetória internacional e a data da sua morte, 4 de setembro, foi escolhida como Dia do Circo no Brasil.
Entre fevereiro e maio de 2013 o SBT fez tentativa de reintroduzir o Bozo na sua programação, depois de 22 anos fora do ar. Com uma roupagem nova, muito desenho animado, música e brincadeiras inéditas, mas não deu certo. Não chegou a ser divulgada a razão da desistência, depois de tão pouco tempo tentando. Talvez apenas por serem outros tempos. Neste caso a emissora pode interromper quando bem entendeu. O outro Bozo tem “contrato” de quatro anos, mas uma torcida crescente para que seja rompido muito antes do fim.
02.07.2020
Na foto o ator norte-americano Frank Avruch, lendário Bozo dos Anos 1960, na TV Boston. Faleceu em março de 2018, com 89 anos.

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