Na noite do último domingo, 12 de março, ocorreu no Teatro Dolby, em Los Angeles, Califórnia, a cerimônia de entrega do Oscar, a maior das premiações do cinema mundial. O evento, que tem repercussões de âmbito planetário, considerando o mercado cinematográfico mundial e o volume de recursos que movimenta, este ano teve uma pitada prévia que envolveu o Brasil e recentes questões suas. A agência DM9 produziu um vídeo com o povo Yanomami, que foi encaminhado para 20 entre os principais indicados, via redes sociais. Nele há fala de Junior Hekurari, que é líder da Urihi Associação Yanomami, feita na sua língua nativa e com legendas. O texto é um alerta sobre a exploração ilegal de ouro feita em terras indígenas no norte do Brasil.

Na mesma iniciativa, os vencedores receberam também uma estatueta alternativa, representando a divindade Omama, evidente que sem o uso de ouro em sua composição. Ela seria a responsável pela criação dos homens e mulheres, que pretendia fossem imortais. Mas seu irmão, de nome Yaosi, trocou o material utilizado, fazendo com que a humanidade fosse concebida como mortal. Também por maldade, esse irmão fez surgir na floresta seres causadores de doenças e epidemias. A resposta de Omama foi trazer os espíritos das águas, dos animais e da própria floresta: os Xapiris. Esses nos protegeriam com seus chás e seus cantos, com sua presença e capacidade de renovação, com seu sopro de vida. Na mitologia, trava-se uma batalha entre o bem e o mal, do mesmo modo que se vê com a presença atual do garimpo ilegal, que profana toda uma área sagrada, levando destruição e morte aos indígenas e todas as demais criaturas da Amazônia.

A primeira das cerimônias do Oscar aconteceu em 16 de maio de 1929, servindo para premiar os melhores filmes feitos nos dois anos anteriores. Apenas 270 pessoas compareceram ao Hollywood Roosevelt Hotel, na cidade de Los Angeles, tendo cada uma delas que pagar ingresso no valor de cinco dólares. Além disso, o resultado já era de conhecimento prévio de todos, de tal forma que não iniciou com aquele suspense que agora caracteriza o anúncio dos vencedores em cada categoria. E foi Louis Mayer, então presidente do estúdio Metro-Goldwyn-Mayer, o idealizador da festa. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas hoje tem membros convidados de 54 países, inclusive do Brasil. Segundo ela própria informa, 44% são mulheres, 37% pertencem a grupos minoritários e comunidades étnicas/raciais sub-representadas.

A estatueta cobiçada tem 33 centímetros, sendo fundida em bronze e banhada em ouro. Foi criada ainda para a primeira entrega, sendo obra do diretor de arte Cedric Gibbons e do escultor George Stanley. Em todos esses anos, nunca houve mudanças que possam ser chamadas de significativas. Ela representa um cavaleiro da Idade Média, portando uma espada sobre um rolo de filme. Cinco raios saem do rolo, identificando as cinco categorias originais da premiação – hoje são 23 delas –: diretores, atores, produtores, técnicos e roteiristas. O custo de produção de cada uma das estatuetas está estimado em US$ 900. O único período em que não foram entregues semelhantes foi durante a Segunda Guerra Mundial. Como estava proibido o uso de metais para quase tudo, sendo a única prioridade a fabricação de armamentos, elas foram confeccionadas em gesso e pintadas com tinta dourada. Entretanto, após terminar o conflito fizeram trocas pelas originais.

Reza a lenda que o nome Oscar foi dado acidentalmente por Margaret Herrick, uma antiga secretária-executiva da Academia, ao dizer que a obra de arte lembrava muito seu tio, que tinha esse nome. No entanto, existe também um esforço para dizer que isso resultou de uma decisão muito mais glamourosa. Segundo essa última, tratou-se de uma escolha planejada. Isso porque a palavra oscar é composta, tendo origem em osgar do inglês antigo. Essa, por sua vez, se trata do resultado da fusão de “os”, que seria Deus, com “gar”, que significa lança. Então, era utilizada para identificar combatentes divinos, que seriam “lanças de Deus”. Uma espécie de super poder que o cinema adora atribuir a si mesmo.

O primeiro filme brasileiro indicado para a disputa do Oscar – na verdade o primeiro de toda a América do Sul – foi O Pagador de Promessas, em 1963. Não venceu nos EUA, mas foi agraciado com a Palma de Ouro, nome dado ao prêmio máximo no Festival de Cannes, na França. Em nosso continente, apenas a Argentina ganhou duas estatuetas, com A História Oficial (1986) e com O Segredo dos Seus Olhos (2010), enquanto o Chile ficou com a terceira e última delas, entregue para Uma Mulher Fantástica (2018). Além daquela indicação pioneira, estivemos na disputa em 1996 (O Quatrilho), 1998 (O Que é Isso Companheiro?) e 1999 (Central do Brasil). Também tivemos a indicação de Fernanda Montenegro ao Oscar de Melhor Atriz, justamente pelo seu desempenho neste último filme citado.

Na cerimônia ocorrida no domingo, a 95ª da história, o vencedor como Melhor Filme foi Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, que mistura ficção-científica e aventura. A mesma produção, que havia sido indicada para concorrer em 11 diferentes categorias, ganhou ainda outras seis estatuetas. Entre estas, a de Melhor Diretor de Cinema, para Daniel Kwan; Melhor Atriz, com Michelle Yeoh; Melhor Ator Coadjuvante, para Ke Huy Quan; e de Melhor Atriz Coadjuvante, com Jamie Lee Curtis. Como Melhor Ator, a vitória merecidamente ficou com Brendan Fraser, pelo trabalho feito em A Baleia.

A cada um de nós, meros mortais, resta ter tempo e dinheiro para ver todos os filmes que forem possíveis, entre os premiados. Sem esquecer que o cinema é muito mais do que aquilo que estes nos oferecem, sendo que há produções maravilhosas que muitas vezes não recebem o devido reconhecimento. E também sobra, tomara que não apenas para todos nós, brasileiros, a esperança que o apelo Yanomami tenha sido visto e ouvido em todo o mundo, vindo a ser de fato considerado.

13.03.2023

As estatuetas da divindade Omama e do Oscar tradicional

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