Não faço a menor ideia sobre quem inventou e quando as famigeradas tampas metálicas que são usadas em vários vidros de compotas, conservas e outros produtos. Não falo das de fechamento em rosca. Me refiro àquelas outras, que não têm identidade nenhuma, ficando no meio termo entre as que abrem e fecham girando e as de pressão. Elas exigem que você faça uma força descomunal e resistem a qualquer esforço seu. Daí a gente pega uma faca – o que é um risco – ou uma colher, usando o talher como uma espécie de alavanca nas laterais, para que entre ar e a resistência reduza. Mesmo assim, às vezes não adianta. Agora até inventaram um instrumento que faz esse serviço, de alavancar tanto a tampa quanto sua esperança. Comprei um, mas já quebrei, num esforço exagerado. E o café ali, esfriando. Numa fração de segundo você olha com carinho para as embalagens da manteiga ou de mel, tão mais disponíveis, lembrando da fábula da raposa e das uvas: eu nem gosto muito desta saborosa geleia de frutas vermelhas. Mentira! Gosta tanto que veio salivando do supermercado, trazendo o vidro e o pão novinho.

O uso de embalagens de vidro foi um dos grandes avanços da indústria de alimentos. Esse produto é inerte, não reagindo quimicamente com aquilo que armazena. E ainda não confere nem cor nem sabor ao que embala. Essas vantagens são essenciais também para as fábricas de cosméticos e as empresas farmacêuticas. Ainda sobre o uso com alimentos, está provado que quando em vidro eles precisam menos estabilizantes e conservantes. O que é ótimo para a nossa saúde. O vidro é facilmente higienizado, o que permite a reutilização e reduz custos. Garrafas de cerveja são um bom exemplo dessa possibilidade. Outra vantagem imensa é que o vidro é totalmente reciclável, ao contrário de embalagens PET e outras, de plástico, que enfrentam processos mais difíceis. Você coloca no lixo aquele que separa e fica sem remorso. Ainda vai estar ajudando alguém que trabalha na coleta seletiva. O único problema do vidro é a fragilidade, com o risco de quebrar com impactos e quedas.

Sobre tampas metálicas, as mais antigas que encontrei foram as criadas pelo engenheiro William Painter, mas para uso em garrafas. Isso foi em 1892, com essas tampinhas persistindo até hoje em nosso cotidiano. As originais eram feitas de aço bem fino e revestido por estanho. Aplicavam corrugação – aquelas dobrinhas – de 24 dentes e acabamento em verniz. Não me dei ao trabalho de verificar se o material e esse número ainda são os mesmos, atualmente. E também não consegui confirmar se em embalagens de alimentos o uso, com a consequente dificuldade em abrir, começou na mesma época. A questão central é que para as primeiras foram inventados abridores, não havendo problema algum em serem deformadas no momento da retirada. As outras têm que continuar inteiras, para reaproveitamento, uma vez que o consumo de todo o conteúdo não é imediato, o que desaconselha alguma remoção mais radical. Interessante também é o grande número de colecionadores das tampinhas de bebidas: as demais no máximo são destinadas para artesanato, sendo decoradas.

Minhas pesquisas ao menos me levaram a saber que a tecnologia teve muito avanço, ao longo dos anos, propiciando várias alternativas viáveis, quando da escolha de uma embalagem. E mesmo sendo a sua principal função garantir a conservação do alimento, nos aspectos físico, químico e microbiológico, é inegável que o próprio marketing influencia, cada vez mais, no momento dessa decisão. Especificamente sobre as tampas metálicas, li que elas oferecem um fechamento hermético – isso eu já sabia, ora bolas – preservando melhor os sabores, além de serem tão recicláveis quanto o vidro. Tudo bem, eu me rendo. Mas sigo desafiando a indústria a criar uma que faça isso sem torturar o cliente.

Enquanto tal avanço não acontece, busquei algumas dicas e truques, que agora compartilho. Utilizar luvas de borracha, que aumentam a força de tração, ao contrário dos panos de prato. Outra alternativa é dar algumas batidinhas ao redor da tampa, com uma colher de madeira. Mas essa comigo raramente dá certo. Tem gente que recorre ao vapor do secador de cabelos. Isso funciona, devido ao calor que ele libera, recurso que pode ser aplicado também colocando o vidro numa vasilha com água quente. E por que ocorre essa mágica, com a temperatura? Porque o coeficiente de dilatação do metal é maior do que o do vidro. Ou seja, a tampa fica minimamente maior, por algum tempo, facilitando a abertura. Falando nisso, chega de escrever pois está outra vez na hora do café. Com um pãozinho integral, queijo e aquela geleia, evidentemente.

22.05.2021

Não adianta fazer força: ela não vai abrir

O bônus de hoje é a música Não é Proibido, de Marisa Monte. Ela integra o álbum Infinito ao Meu Redor, lançado em 2008. E foi indicada para o Grammy Latino, na categoria Melhor Canção Brasileira.

4 Comentários

  1. bons conselhos para as tuas inquietações: ao pequeno-almoço com o da deliciosa marmelada, pega na faca que te vão dar e com o lado não afiado da faca bata duas vezes na tampa em dois pontos opostos. A tampa vai liberar a pressão e você vai abrir um pouco a jarra. desfrute de sua refeição! 😂🤣

    Curtir

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s