A HISTÓRIA DE ZÉ DO CAROÇO

O nome dele era José Mendes da Silva, um nordestino que veio para o sul como tantos outros, no pau-de-arara. Já aposentado, morador da favela existente no morro do Pau da Bandeira, que é vizinho aos bairros da Tijuca e de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, ele implementou por conta própria um serviço que passou a ser referência para sua comunidade. Com um alto falante instalado no telhado da casa onde morava, prestava todos os dias, de graça, informações relevantes, como alertas para o risco de tempestades – o que é sempre perigoso no morro –, notas de falecimento, campanhas educativas as mais diversas, comunicados sobre transporte, serviços de saúde e tudo mais que fosse útil para todos. Figura muito respeitada, ele era chamado pelo apelido de Zé de Caroço, talvez pouca gente sabendo qual de fato era seu nome verdadeiro.

Numa época romântica, na qual o tráfico não tinha ainda a relevância que tem hoje e as milícias não existiam, tudo ia indo bem. Até que uma moradora das proximidades, esposa de um oficial das forças armadas, resolveu implicar com o trabalho do Zé. Achava um absurdo inaceitável o alto falante ser acionado justo na hora da novela das oito, sua predileta. E entrou em guerra contra a prestação de serviço. Ela foi prontamente apoiada pelo marido, que na certa preferia que a desavença fosse na rua ao invés de dentro de casa. Numa época em que o presidente era o general Geisel, evidente que o cidadão não teve dificuldade alguma em “mobilizar a lei” contra o líder comunitário. E a coisa encrespou para o lado dele. A resistência contra a proibição foi parar nas páginas dos jornais e demorou para que houvesse uma solução conciliatória.

Em 1978 a cantora e compositora Leci Brandão, carioca de nascimento mas que hoje é deputada estadual pelo PCdoB, em São Paulo, compôs um samba sobre a figura. De qualidade irretocável, ele é hoje quase presença obrigatória nas boas rodas de samba. Mas houve uma história incrível sobre o seu lançamento. Em 1981 ela o apresentou para a gravadora com a qual tinha contrato, mas essa o recusou. É um samba de cunho social, com crítica à alienação popular que muitas vezes prefere a vida paralela e idealizada das novelas, ao invés de lutar por seus direitos. O que talvez explique a recusa. A sambista foi fiel aos seus princípios: trocou de gravadora, fazendo o registro fonográfico por um outro selo. E a música estourou. Nestas quatro décadas ganhou inúmeras gravações diferentes, como as feitas pelos grupos Revelação e Art Popular. A própria Leci e Seu Jorge têm interpretações impecáveis.

O documentário Zé do Caroço: A Voz do Pau da Bandeira, dirigido por André Miranda e lançado em 2011, conta a história deste precursor das rádios comunitárias. Nele, o filho de José Mendes revela que o pai ganhou esse apelido devido a um sério problema de saúde que enfrentava. Surgiam caroços nas suas articulações, o que causava dores e dificuldade de locomoção. Essa teria sido inclusive a razão de sua aposentadoria ter sido concedida. Ele faleceu no início dos anos 2000, mas teve antes a oportunidade de ver seu nome e sua luta eternizados pelo talento de Leci Brandão.

22.01.2021

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Vista parcial do Morro do Pau da Bandeira

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Logo depois temos o bônus musical de hoje não poderia ser outro além do samba Zé do Caroço. Quem o canta, nesse clip, é o sambista Seu Jorge.

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