O SEQUESTRO REMOTO DE ÓRGÃOS SEXUAIS
Se você estranhou o título da crônica de hoje, espere então para saber detalhes dessa história que parece absurda, mas é real. Uma empresa chinesa de nome Qiui desenvolveu, algum tempo atrás, um dispositivo eletrônico que tem por objetivo assegurar a fidelidade de parceiros sexuais masculinos. Uma espécie de cinto de castidade, como aqueles medievais que muitas mulheres eram obrigadas a usar. Este como aqueles também é uma estrutura metálica, mas em formato de um tubo, que reveste a genitália deixando apenas pontos de saída para a urina: a sua outra função, portanto, fica de fato impedida. Após colocado ocorre um fechamento remoto, controlado apenas por aplicativo, uma vez que ele não possui trancas manuais. Ele é trancado ou liberado através de anéis que ficam colocados rente aos testículos.
Consta que existem alguns milhares de usuários, em todo o mundo. Seu nome comercial é Cellmate Chastity Cage. Como tal aparelho parece ser pesado, é mais ou menos como se os homens que concordam – ou são obrigados a portá-lo – fizessem musculação localizada, o tempo todo. Pelo menos foi o que me ocorreu agora, quando pensei também no incômodo extra que deve ser, em regiões quentes. Me refiro a regiões do ponto de vista geográfico e não corpóreo.
Mas isso tudo parece agora pinto pequeno, com o perdão do trocadilho, diante de uma dificuldade adicional que apareceu. Hackers descobriram que o serviço de abertura e fechamento era feito à distância e deram um jeito de invadir o sistema. Uma vez feito isso, se apropriam da senha, do mesmo modo que andam sempre tentando fazer com as nossas, de contas bancárias. Uma falha de comunicação entre o celular da parceira ou parceiro da vítima e o gadget permitia um bloqueio que se tornaria definitivo, exceto se o aparelho fosse destruído, numa operação mecânica que, além de muito constrangedora poderia ser bastante perigosa. E o membro do outro passa, figuradamente, a ser do invasor: há um confisco, um sequestro. Isso foi confirmado por pesquisadores de segurança de um site especializado, o VX-Underground, ao fazer coletas de amostras de malware, nas redes.
Homens vítimas dessa profunda indiscrição foram então chantageados. Os hackers exigiam um “resgate”, que deveria ser pago na moeda virtual bitcoin. Virou caso de polícia e não amoroso. Não foi informado pelo fabricante quantos dos seus clientes enfrentaram o problema. Mas sua óbvia responsabilidade fica comprovada e agravada pelo fato deles terem sido alertados, ao menos um ano antes, pelo site Pen Tests Partners, que recomendou que o sistema fosse atualizado. Isso porque teriam ocorrido relatos de usuários que terminaram acidentalmente presos, antes mesmo que a brecha na segurança fosse descoberta. Dias atrás a Qiui postou um vídeo em sua página de suporte ao cliente, demonstrando modo de abertura manual menos drástica. E se oferecendo para tentar resolver “eventual questão inesperada”. Não cita se problemas físicos e psicológicos podem ser incluídos nisso que chamou de eventualidade.
16.01.2021
Depois do inacreditável hábito relatado acima, com a retomada de costume medieval agora adaptado para o sexo masculino, o bônus musical de hoje tem nome mais do que apropriado: Amores Estranhos. Quem canta é a italiana Laura Pausini, em apresentação ao vivo, em Nova Iorque.