Depois do cinema ter nos apresentado E.T – O Extraterrestre, de Steven Spielberg, em 1982, uma série de humor da televisão norte-americana tratou de arranjar outra figura nascida fora deste planetinha, para nos fazer companhia. Isso porque o primeiro foi embora, deixando para trás a tristeza de uma então menininha meiga, chamada Drew Barrymore, além de uma legião de milhões de órfãos. Afinal, depois de tantas histórias nas quais os visitantes vindos do espaço queriam era acabar com a raça humana – sendo obviamente impedidos pela coragem de algum combatente do “Grande Irmão do Norte” –, finalmente tínhamos um tão ou mais frágil do que nós. Fragilidade não encontrada nesse novo alienígena, que ganhou como nome uma sigla: ALF, que significava Alien Life Form. Ele esteve presente entre 1986 e 1990 em emissoras de muitos países, incluindo o Brasil.

Este ser estranho é um bípede peludo, com um focinho enrugado que lembra um tamanduá. Ao seguir um sinal de rádio amador, vem até a Terra e cai justo da garagem dos Tanner, uma família classe média da Califórnia, que o adota. O assistente social Willie (Max Weight), sua esposa Kate (Anne Schedeen), a adolescente Lynn (Andrea Elson) e o pequeno Brian (Benji Gregory) ganham essa companhia inesperada, que altera suas vidas. Isso sem contar o gato de estimação Lucky, que fica realmente enlouquecido com essa presença, uma vez que a espécie da qual ALF faz parte se alimenta basicamente de felinos, em seu planeta. Assim, mesmo sendo condição para sua permanência que deixe o bichinho em paz, ele seguido enfrenta problemas para cumprir a promessa.

Inteligente e espirituoso, outra grande dificuldade que ele tem é para entender e se acostumar com os hábitos sociais dos seres humanos. Isso, convenhamos, para quem vê ou vem de fora pode mesmo ser algo realmente surpreendente. ALF também é muito bem humorado e sarcástico. Essa última característica se torna essencial para ele tentar conviver com a complexidade das nossas relações. No início ele precisa ser escondido porque um grupamento do exército está procurando extraterrestres. E há vizinhos intrometidos que tentam descobrir o que está acontecendo na casa dos Tanner. Mesmo assim ele vai aos poucos se tornando um membro permanente e não apenas temporário, enquanto sua espaçonave é consertada. Isso porque descobre que seu planeta foi destruído por uma catástrofe atômica – apesar dele suspeitar que a verdadeira causa tenha sido todos os habitantes terem ligado seus secadores de cabelo ao mesmo tempo, causando uma sobrecarga elétrica insuportável. Esse fato aumenta a solidão e a saudade do personagem.

A série teve 102 episódios e cada um deles recebeu o nome de uma música cujo tema se referia a assunto abordado nele. E muitos outros personagens foram orbitando o grupo central, ao longo do tempo. Destaque para Dorothy, a mãe de Kate, que ALF odeia porque vive ameaçando entregá-lo para os militares; o psicólogo Larry; e uma impagável mulher cega chamada Jody, que não percebe que o amigo não é humano, mesmo ele sendo bem baixinho e peludo. Algumas outras mudanças vão acontecendo na família, como o nascimento de um novo filho do casal, e a necessidade de construção de um pequeno apartamento para que o visitante pudesse ter privacidade – ou para que os outros afinal tivessem a chance de ficar mais longe dele. Crianças e adultos gostavam e davam boa audiência à série.

Na versão brasileira ALF era dublado pelo excelente ator e roteirista Orlando Drummond, que fazia o papel de Seu Peru, na versão original da Escolinha do Professor Raimundo. Experiente dublador, ele já havia nos brindado com inúmeros trabalhos na área, inclusive fazendo a voz de Popeye em antigos desenhos animados. Ele também foi Gargamel, na série clássica dos Smurfs; o Professor Girassol, em As Aventuras de Tintim; o anãozinho Atchim, na Branca de Neve; e a Lebre de Março, em Alice no País das Maravilhas, entre tantas outras vozes. Morador do Rio de Janeiro, fará 101 anos em outubro. Com 99 ainda gravou alguns trabalhos especiais, contratado pela Renault. E entrou para o Livro Guinness dos Recordes por ter sido a voz de Scooby-Doo por nada menos do que 35 anos.

13.08.2020

Baixinho, espirituoso, peludo e muitas vezes sarcástico. Esse era ALF

2 Comentários

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s