Quem precisa de um táxi em Porto Alegre e tem a sorte de apanhar o de prefixo 1296, além da tranquilidade de fazer uma viagem segura, com um condutor que está na praça desde 1986, pode ainda ter a chance de uma conversa interessante, de ouvir boas histórias. Mauro Castro é falante e gentil. Natural de Viamão e tendo apenas o Ensino Médio, ele sempre gostou de desenhar e escrever. Começou produzindo fanzines, aquelas publicações produzidas por entusiastas, para seu prazer próprio e dos que compartilham com ele o mesmo interesse. Tanto que o nome vem de fanatic magazine, literalmente “revista do fã”. Depois, no início dos anos 2000, fez uma corrida com um editor do jornal Diário Gaúcho que, gostando da “prosa”, resolveu fazer uma matéria sobre coisas que eram vividas no dia-a-dia dos taxistas. E pediu que Mauro lhe enviasse algum texto sobre isso. Gostou tanto que acabou oferecendo um espaço semanal, ocupado por 12 anos.

Paralelo à coluna, ele criou um blog. E também foi notícia em jornais do centro do país e teve participação em programas de televisão. Guarda orgulhoso fotografias ao lado das apresentadoras Fernanda Lima e Angélica, entre outras com personalidades conhecidas do meio artístico e cultural. Os livros impressos vieram como consequência natural. Já foram quatro até agora, lançados entre 2006 e 2018 – anos do primeiro e do último. Todos eles sempre tiveram o mesmo nome: Taxitramas – Diário de um Taxista. Variam apenas no número do volume. Um quinto está pronto e só não foi ainda impresso e distribuído em função da pandemia pela qual estamos passando. Não existem condições para a realização do lançamento, com sessão de autógrafos e outras atividades quaisquer que demandassem aglomeração de pessoas. Os anteriores estão todos esgotados, sendo agora só encontrados exemplares usados, na Estante Virtual.

Outro produto lançado com sucesso por ele foi um projeto fotográfico, através do Instagram. São fotografias dos mais diversos pontos da cidade de Porto Alegre, diferenciadas pelos horários em que foram tiradas, condições climáticas do momento, tipo de iluminação e outras variáveis, mas sempre feitas de forma indireta, através do espelho retrovisor do táxi do Mauro. A visibilidade alcançada pelo trabalho tem atingido e superado as expectativas. Também já se sabe que teremos em breve uma versão e-book do volume 5 do Taxitramas, com o objetivo não apenas de antecipar-se ao livro físico, como também angariar fundos que permitam sua impressão. Seu primeiro livro foi feito através da Sulina, com esquema tradicional de vendas e pagamento de direitos autorais. Os demais foram todos de forma independente, com a venda sendo basicamente realizada dentro do táxi mesmo.

As histórias contadas pelo Mauro intercalam passagens muito bem humoradas com outras mais sérias, nas quais evidencia uma grande preocupação com questões sociais e com as condições de trabalho desta categoria. Revela também um profundo amor pela profissão e muito respeito pelas pessoas que transporta e conhece. Todos os relatos têm como característica serem uma versão literária de fato realmente acontecido, tendo sido vivenciado por ele ou por algum colega, que lhe contou posteriormente. Ainda referente ao seu bom humor, nas orelhas dos volumes 3 e 4 dos seus livros, colocou fotos suas nas quais segurava cartazes com dois recados. Num deles declarava solenemente “esse taxista sustenta um escritor”. No outro, devolvia: “esse escritor explora um taxista”. Para quem puder ler o que ele escreve, recomendo que faça isso e explore todo o talento que ele coloca à nossa disposição.

05.08.2020