SOBRE O CÂNCER INFANTIL
Tive a oportunidade de assistir, na última segunda-feira, uma entrevista concedida pelo médico pediatra Algemir Lunardi Brunetto, que foi um dos fundadores do Instituto do Câncer Infantil, existente em Porto Alegre há quase 30 anos. Hoje superintendente da instituição, ele sentiu necessidade de sua criação ao retornar de especialização que fizera na Inglaterra, em 1990, e perceber que por aqui havia uma lacuna no que era oferecido pelo sistema de saúde brasileiro. Com o apoio recebido do jornalista Lauro Quadros, que liderou uma campanha pública, bem como com o engajamento de outros parceiros, o projeto de construção de um centro de referência para esse fim tomou forma e se tornou realidade.
Na entrevista ele lembrou que aquele dia era oficialmente dedicado ao tema, em todo o mundo. O Dia Internacional de Luta Contra o Câncer Infantil foi instituído pela Childhood Cancer International (CCI), em 2001. O objetivo era educar o público em geral, bem como profissionais de saúde, sobre a seriedade da doença, buscando também favorecer o acesso aos melhores tratamentos e medicamentos, não importando em que lugar do mundo estivessem as crianças e os adolescentes acometidos. Também incluem como objetivo expressar apoio a vítimas, sobreviventes e familiares. No Brasil há uma segunda data, o Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil, que é o 23 de novembro. Essa foi criada por lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2008, buscando estimular a disseminação de informações sobre formas de identificação de sintomas, por exemplo, tendo em vista que isso tem importância primordial para o diagnóstico precoce e o aumento nas chances de cura.
Segundo relatou Brunetto, hoje em dia é possível ser atingido índice próximo de 80% de recuperação, para determinados tipos de câncer, desde que o diagnóstico seja feito a tempo e o tratamento cumprido à risca. Triste é que esses números ainda são os verificados nos países ricos. Naqueles de renda per-capita menor, ele cai para a metade. Também se sabe que a imensa maioria de todos os casos de cânceres pediátricos acontecem nos países da América Latina e do Caribe, com quatro casos a cada cinco do total. Isso significa cerca de 18 mil novos diagnosticados por ano.
O câncer é uma doença que se instala quando ocorre a multiplicação desordenada de células de determinado tecido, podendo ocorrer em qualquer local do organismo, em qualquer idade. Ele é gravíssimo e traz associado o risco do problema se estender aos órgãos próximos, mas também a outros mais distantes, devido ao que chamam de metástase. Em crianças e adolescentes a doença é tida como mais rara. Chegam no máximo a 3% do total, quando o número é visto junto com a população adulta atingida. Mesmo assim, no Brasil isso equivale a aproximadamente 12.600 novos casos por ano, com a região Sudeste liderando o número, seguida pela Nordeste e com o Sul em terceiro. Quem perde a vida entre 1 e 19 anos de idade, em nosso país, em 7% dos casos teve o câncer como causa.
Quem vive o problema não tem a sensação de ser uma estatística, um número como os que citei acima. O que sente e enfrenta é um turbilhão de sentimentos que chegam a ser até contraditórios. Eu vivi situação como essa, minha família sofreu com isso. Perdemos um filho com três anos e meio, vitimado por um meduloblastoma que ele enfrentou com uma coragem que eu não teria, por quase dois anos. A dor e as cicatrizes são eternas. Mas durante aquele tempo aprendi a respeitar e admirar os profissionais de saúde que trabalham armados não apenas de conhecimento técnico, como também determinação, persistência e muita esperança. Isso tudo aconteceu em outra instituição, também em Porto Alegre, o que nunca me impediu de ter criado um vínculo à distância com o pessoal do ICI. Sou um dos tantos modestos colaboradores, do ponto de vista financeiro. Entretanto, reservo a eles carinho e as minhas mais sinceras vibrações e preces, para que nunca lhes falte coragem, não importando quantas batalhas ainda venham a perder. Porque vitórias também acontecem, são muitas e têm aumentado. E cada uma delas é única e engrandecedora, justificando o trabalho de todos eles.
Não podemos evitar que esse problema surja nas nossas famílias, que acometa uma das nossas crianças. Mas podemos permitir com o nosso apoio que centros de excelência no tratamento, como o Instituto do Câncer Infantil, tenham condições de continuar e ampliar o seu trabalho. Locais onde exista a necessária infraestrutura para diagnóstico, cirurgia, quimioterapia, radioterapia, tratamento de eventuais complicações de ordem clínica, apoio psicossocial e reabilitação, são essenciais para o prosseguimento dessa luta. E a cura, definitiva e para todos, um dia ainda há de chegar.
17.02.2021
O bônus musical de hoje é uma canção que exalta a esperança: dos Titãs, Enquanto Houver Sol. No clipe, o uso de animação de bonecos, o que também dá um toque de infância e magia.