DEVOLVAM A MINHA BANDEIRA!

A atual bandeira brasileira foi criada tendo como base e inspiração a anterior, da época do Império. Foi mantido o fundo retangular verde, que abarca toda a sua extensão, bem como o losango amarelo centralizado. O verde era a representação da Casa de Bragança, a família de Dom Pedro I; o amarelo representava a Casa de Habsburgo, a família de sua esposa, a Imperatriz Leopoldina. Logo, eram para Portugal e Áustria as duas primeiras homenagens do símbolo máximo da nossa pátria. Portanto, esqueça aquilo que lhe ensinaram na escola, sobre representar nossas matas e nosso ouro. Até porque a mata não para de incendiar e ser derrubada, sem que os “patriotas” de agora façam qualquer coisa concreta para impedir. E o ouro há muitos anos foi parar nas reservas da Inglaterra.

Sobre essas duas figuras geométricas citadas antes, foi colocada mais uma: o círculo central na cor azul, sobre o qual se aplicam 27 estrelas brancas de cinco pontas cada – antes o que existia nela era o brasão de armas do Império. Cada uma destas estrelas equivale a um dos Estados da federação, mais o seu Distrito Federal. A posição em que elas estão postas é a reprodução exata do céu sobre o Rio de Janeiro, no dia 15 de novembro de 1889, data da Proclamação da República. Essa bandeira orgulha e identifica a nação brasileira, aglutinando todo o seu povo em torno de um sentimento único, junto com o Hino Nacional. Pelo menos era para ser assim – e aparentemente foi –, até que recentemente um grupo político decidiu, por conta própria, declarar-se como único digno e merecedor de portá-la. Mas agora chega! Vamos aproveitar o 7 de setembro, que comemora a Independência do Brasil, para exigir a sua devolução.

Toda e qualquer nação é feita de pluralidades, abarcadas dentro de uma unidade maior. A rigor não deve importar a classe social, nem a condição econômica dos seus cidadãos. A bandeira brasileira abriga gremistas, colorados, vascaínos, corintianos e torcedores de todos os demais times. Paira sobre católicos, espíritas, budistas, umbandistas e pessoas de todos os credos. Inclui simpatizantes de todos os partidos, pessoas de todas as etnias. Têm direito de usar nossa bandeira os conservadores, bem como os adeptos do liberalismo social (esquerda) e do liberalismo clássico (direita). Crianças, adultos e idosos; quem esteja em pleno uso de suas capacidades físicas e mentais, assim como quem enfrente qualquer tipo de deficiência; empresários e trabalhadores; doutores e analfabetos; e mesmo pessoas que não nasceram aqui, tendo optado pela cidadania.

Mas nem todo mundo pensa assim, nos últimos tempos. E as nossas cores, ao invés de unir, passaram a dividir os brasileiros. A bandeira se tornou parte integrante de alguns cenários e desapareceu de outros. Estranho é que muitas dessas mãos que buscaram exclusividade sobre ela, passaram também a desfraldar outras, conjuntamente, em manifestações. Não raras vezes eram vistas a norte-americana, de Israel e até da Ucrânia.

“Nossa bandeira jamais será vermelha”, a cor dos comunistas. Nas bandeiras dos EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido e França, que são as cinco maiores potências capitalistas do mundo, essa cor está presente. Também é bem vermelha aquela que tem círculo branco no centro e suástica preta aplicada, usada sem a menor cerimônia por muita gente que tem vociferado a frase entre aspas com a qual abri este parágrafo. Mas é preciso lembrar que jamais foi proposta a mudança de cores ou desenho, por quem quer que seja. Mesmo com a palavra “Brasil”, de origem no tupi-guarani, significando “vermelho como brasa”.

Eu tenho direito de portar uma bandeira brasileira ou vestir uma camiseta verde e amarela, sem ser confundido com alguém que grita em favor da volta da ditadura militar. Não aceito ser tomado por fascista, mas exijo ser visto como o patriota que sempre fui, pouco importando a cor que esteja vestindo. Do mesmo modo que as pessoas que acreditam e defendem posturas relativas ao espectro da direita, porque isso também é legítimo, não precisam expurgar dos seus guarda-roupas quaisquer peças encarnadas. Tenho certeza que não estou sozinho nesse pensamento e nessa postura. Então, que o dia de amanhã assinale mais do que a Independência: também uma necessária retomada de algo que por direito sempre foi nosso. E digo nosso no sentido de todos.

06.09.2020