Uma das músicas mais populares – há quem prefira qualificar, com um certo exagero, como uma das mais bonitas da história – é Amazing Grace (Maravilhosa Graça, em português). Não sei se ela pode ser chamada de gospel e até prefiro que não, considerando que eu devo admitir um certo ranço com esse gênero musical. Mas, inegavelmente se trata de uma canção cristã, quase um hino, que também é cantada e apreciada mesmo por quem não professa essa fé. Pode provocar sensações semelhantes, por exemplo, às trazidas por Aleluia, de Handel; ou pelas versões de Ave Maria, de Schubert e de Gounod. Ou ainda pela menos clássica, porém igualmente sensível Hallelujah, de Leonard Cohen.

Agora, para que se possa entender melhor a música, nós precisamos conhecer um pouco da história do seu compositor, o inglês John Newton (1725-1807). Esse londrino era filho de um capitão de navio da marinha mercante e tornou-se órfão de mãe com apenas seis anos de idade, ao ser ela vitimada pela tuberculose. Com 11 passou a acompanhar seu pai em algumas viagens e terminou, por influência dele, ingressando mais tarde nos quadros da Marinha Real. Entretanto, ficou por pouco tempo nela, desertando. Acabou preso e açoitado, mas conseguiu de seus superiores a liberdade para trabalhar como seu pai, em navios de carga.

Voltou ao mar na qualidade de traficante de escravos. Uma pessoa de temperamento difícil, certa vez se indispôs com o capitão de um destes barcos no qual praticava essa função indigna e foi ele próprio detido nos porões da embarcação, pelo restante da viagem. Não morreu de fome porque os escravizados dividiam com ele a sua precária alimentação. Essa situação pessoal, somada ao que sentiu em uma oportunidade na qual um navio onde estava foi afetado por uma violenta tempestade, com o marinheiro que o substituíra no convés ter sido logo após jogado ao mar, esses dois fatos alteraram a forma com ele encarava a vida. Foram momentos nos quais ele se deu afinal conta da fragilidade humana, da nossa insignificância e do absurdo que era tratarmos outros homens e mulheres como se não fossem iguais a nós.

O terceiro e decisivo passo para a sua “conversão” foi a leitura do livro Imitação de Cristo, de Tomás de Kempis (1380-1471), um monge católico e escritor místico nascido na Alemanha. A obra discute uma pedagogia religiosa, indicando o que seria o caminho para uma vida interior. Ou seja, oferece reflexões destinadas a alimentar o espírito cristão. Mas, independente da qualidade e da profundidade daquele texto, foi o que o tocou para dar uma guinada na sua história pessoal. Logo após ele compôs Amazing Grace, utilizando uma melodia que ouvira quando ainda estava no tráfico negreiro. Ela é um canto de lamento daqueles que perdiam sua liberdade, na África Ocidental. Sobre ela Newton colocou a letra que até hoje toca fundo em muitos que ouvem a canção.

A Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos atualmente abriga um enorme número de gravações desta música. Foi necessário nomear pessoas para que tratassem apenas dela, uma vez que é a maior das coleções deste tipo de uma única obra musical. São inacreditáveis 3.790 gravações, além de manuscritos. Para que se tenha uma ideia de tempo, se cada uma delas tivesse a duração de cinco minutos – muitas têm mais de sete –, seriam necessárias duas semanas inteiras para ouvir todas. Aretha Franklin a adaptou para o soul e jazz. A interpretação de Ray Charles é impactante. Elvis Presley também gravou, assim como Joan Baez. E Andrea Bocelli emocionou o Papa Francisco durante uma das suas apresentações. Por tudo isso, a recomendo aqui.

20.05.2023

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O bônus de hoje é Amazing Grace, em interpretação do Il Divo, um quarteto musical do Reino Unido que combina ópera e música clássica com pop e outros gêneros. Podem ser postas legendas em português, quando se vê o vídeo no YouTube.

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