UM ASSALTO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

No dia 4 de julho de 1995, em Vila Isabel, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, um deputado federal foi rendido por dois criminosos bastante jovens e entregou, sem reagir, a moto XLX 350 que pilotava, bem como uma pistola Glock calibre 380 que estava portando. No dia seguinte a notícia foi publicada em jornais da capital carioca, sendo muito fácil de ser confirmado o que eu estou relatando, bastando acessar os arquivos existentes. O nome da vítima era Jair Bolsonaro.

O deputado registrou o assalto que sofrera na 20ª Delegacia de Polícia, no Grajaú. E saiu pessoalmente com um grupo de policiais em diligência na favela do Jacarezinho. Sem sucesso na primeira busca, recorreu depois a amigos na Secretaria de Segurança Pública, conseguindo que 50 policiais civis e militares buscassem resgatar seus pertences. Esforço e apoio iguais aos que qualquer um de nós simples mortais obteria, com certeza. Mas esses também não tiveram resultado positivo. Moto e arma só retornaram para as mãos do dono porque um traficante em Acari, tomando conhecimento do fato, determinou que assim fosse feito. Ele queria evitar problemas na sua comunidade.

Bolsonaro, no entanto, não ficou satisfeito mesmo ao ter sido evitado o seu prejuízo. Sentia-se humilhado pela zombaria de pessoas que riam do fato de um ex militar, supostamente treinado e armado no momento, ter sido submetido com tanta facilidade por dois aprendizes de delinquentes. E quem o conhece sabe que ele não esquece de fatos como esse com facilidade.

Apenas oito meses depois um dos assaltantes foi capturado, na Bahia. Jorge Luís dos Santos foi então transferido para uma delegacia do Rio. Mas não houve tempo para sequer ser ouvido de forma adequada, uma vez que na manhã seguinte foi encontrado morto na cela que ocupava. Uma apuração extremamente rápida constatou ser suicídio. Incrível é que ele cometeu esse atentado contra a própria vida amarrando uma camisa em seu pescoço e na grade de entrada, não se pendurando em nada. Coisa assim tipo o jornalista e professor Vladimir Herzog, que morreu nos porões da ditadura militar num raríssimo caso em que a pessoa se enforcou de joelhos no chão.

A esposa do assaltante suicidado, de nome Márcia e com 18 anos, assim como sua mãe e sogra dele, Dona Terezinha, disseram à imprensa no velório que ele não conhecia o tal “nó de marinheiro” usado para amarrar a camisa em seu pescoço. Assim, acreditavam que teria ocorrido um homicídio. Um mês depois ambas foram encontradas mortas a tiros, na Rodovia Dutra. Este segundo crime jamais foi solucionado. O Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro nestas ocasiões todas era o general Nilton de Albuquerque Cerqueira, o mesmo que comandou a Operação Pajussara, quando assassinaram Carlos Lamarca, e que atuou também no Caso do Riocentro, um atentado a bomba que felizmente não deu certo, ou muita gente teria morrido.

Voltando à devolução do produto do assalto, importante ainda é citar que o intermediário junto aos traficantes foi o cabo Ronnie Lessa, que depois levou moto e arma pessoalmente para Bolsonaro. Esse mesmo que, duas décadas depois, no posto de sargento e afastado da Polícia Militar, morava em uma casa no mesmo condomínio fechado – Vivendas da Barra – de onde o agora ex-presidente saiu apenas para tomar posse em Brasília. Lembrando um pouco de sua carreira, Lessa serviu no 9º Batalhão, de Rocha Miranda, integrando um grupo que foi apelidado de Cavalos Corredores. Isso porque percorriam as ruas da favela correndo e atirando para todos os lados. Se envolveu em uma série de mortes e acabou recebendo a “Gratificação Faroeste”, apelido dado a um benefício por produtividade em operações violentas da polícia. Hoje Lessa está preso acusado de ter sido um dos executores da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. Os mandantes, esses por enquanto ainda não apareceram. Eu disse AINDA, porque as investigações, que estiveram travadas nos últimos quatro anos, agora deverão retomar seu curso normal.

16.05.2023

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O bônus musical de hoje é Paz, de Gabriel o Pensador, com participação de Claudia Fuchs.