ANTES DE CASAR SARA

Se quando pequeno a gente chorava, como consequência de algum arranhão nos joelhos causado por uma das quedas que se sofria com relativa frequência, lá vinha a observação das nossas mães, enquanto aplicavam mercúrio cromo ou merthiolate: “antes de casar sara”. Que raios! Quem estava pensando em se casar? A única coisa que se queria é que não ardesse tanto. Se bem que talvez a ardência nem fosse assim tão exagerada, mas a gente precisava cumprir com o nosso papel de filhos e filhas, fazendo alguma manha. Mas lembremos que isso nem sempre significa birra ou teimosia: muitas vezes é apenas um charminho ou uma forma de chamar a atenção dos adultos e ganhar um carinho.

Como poderiam elas esperar que se soubesse tratar-se apenas de um modo de dizer que até poderia demorar um pouco, mas iria sarar e nós esqueceríamos do problema, até que se repetisse? E iria se repetir, com toda a certeza. A dor no corpo era passageira, aquela outra com um tanto de vergonha, por termos deixado acontecer outra e outra vez, essa era mais demorada. Ou também nem tanto, porque melhorava um pouco e já se estava repetindo as mesmas brincadeiras. Mas, enfim, a gente não controlava muito os nossos ímpetos, a nossa ânsia de correr além das possibilidades reais do corpo, de ser mais ágil em manobras que não eram recomendadas. Também tinha aquele empurrão no balanço, mais forte do que se poderiam suportar com as mãos nas cordas. Ou o descer em velocidade demasiada do escorregador. Em todos esses casos o chão era o limite.

Há variações para o significado dessa expressão, entretanto não gosto de nenhuma delas. Uma é pueril, dizendo que o poder do amor pode vencer todos os males. Fosse verdade e as mães teriam como impedir todo e qualquer sofrimento dos filhos. Ou existe algum amor maior do que o das mães? Claro que me refiro à maioria delas, porque algumas não conseguem desenvolver vínculos e demonstrar afeto. Um outro, esse bem desrespeitoso, está em dizer que o casamento é uma dor de cabeça tão maior que irá fazer com que se esqueça de todas as demais. Ou seja, uma generalização infundada, uma vez que as experiências da vida são muito subjetivas. Sigo agarrado na que citei na abertura do parágrafo anterior, de que se trata de uma dor passageira e o casamento é apenas uma maneira simbólica de se falar na passagem do tempo. Um modo que usavam para nos lembrar, indiretamente, que éramos apenas crianças, que estávamos fadados a crescer e que então iríamos guardar apenas as boas lembranças da infância, como convém.

Quem dera na adultez os machucados fossem assim tão esquecíveis, leves e passíveis de tratarmos com band aid, aplicado depois do uso de um antisséptico e de um soprinho carinhoso. Nesta fase os machucados são mais profundos, mais dolorosos e difíceis de tratar. E, pior de tudo, em geral não temos mais as nossas mães por perto, nos tranquilizando.

06.05.2023

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O bônus de hoje é a música Quando Casar Sara, com a caxiense Manuela Del Savio Stallivieri.