Uma postagem feita por uma blogueira que reside na cidade do Porto, em Portugal – eu a sigo e ela me segue –, me recordou um hábito que veio da infância e seguiu pelo início da minha adolescência. Ela publicou uma receita clássica de mingau de Maizena, marca que se tornou referência mundial em termos de amido de milho. Um sinônimo, até. Ela começou a ser fabricada nos EUA em 1854 e mantém até hoje a mais conservadora embalagem que se tem notícia, nas cores amarela e preta, não apenas lá como em diversos outros países. Chegou a virar exemplo do que significa ser ortodoxo.

Pois a receita da Maria da Luz era tão clássica quanto. Feita com leite e um pouco de açúcar, além de uma casquinha de limão e canela para se polvilhar no final. Tem também a gema de ovo, mas essa é opcional. Isso fica com gosto de mãe e de saudade. Acredito que quase todo mundo experimentou algumas vezes, mesmo depois de já grandinho. Eu fiz isso, mas também tive uma fase na qual pedi a troca de ingredientes. Chegava do colégio e reabastecia o tanque com um mingau de aveia, por exemplo. O que mais adiante, se não substituído, passou a revezar com algo mais pesado e substancioso. Bendita fase do crescimento! Nela chegou a vez de pelo menos meio pão daqueles d’água, de 400 gramas ou mais – não sei se ainda fazem esses, pois o cacetinho e o baguete parecem ter tomado conta –, cortado ao meio e transformado num sanduíche cavalar, com manteiga, presunto e muito queijo, ou o que mais houvesse. Lascas de carne, por exemplo. Tinha que pegar com as duas mãos e as mordidas não eram fáceis. E posso ainda citar a canjica, feita com cravo e canela, devorada em prato fundo, tendo ou não a adição de um pouco de leite.

O mingau tinha um jeito que lembrava sobremesa – lembrei agora do arroz doce e da ambrosia. Então era um modo de sermos enganados. Ou nos deixarmos enganar. Era doce como viver naquela época, quentinho, aconchegava o paladar. Como eu morei em cidades bem frias no inverno, isso ajudava a gostar dele. Com ele nós também fomos ensinados, uma vez que a expressão “comer pelas beiradas”, que literalmente era usada para que não se queimasse nossas bocas e línguas, valia ainda como um conselho para a vida. E dos essenciais: ter paciência, entender que muitas coisas precisam ser feitas aos poucos, sem pressa. Mas isso em geral a gente só admite, de fato, quando se está muito mais velho.

Sobre o pão francês, o nome cacetinho é adotado apenas no Rio Grande do Sul e na Bahia. Aqui no extremo Sul existem duas versões distintas sobre a razão disso. A primeira diz que se trata apenas do diminutivo de cacete, que era o nome dado à baguete francesa. Outra também liga o termo à França, mas com explicação diferente e mais complexa. Seria em virtude dos fazendeiros de Pelotas, Rio Grande e arredores, que possuíam grande poder aquisitivo, mandarem seus filhos para cursos superiores em Paris, no Século 19. E eles traziam costumes europeus na volta, um deles o bom gosto culinário. A Cidade Luz teria uma rua de nome Cassete, onde existiam inúmeras padarias e confeitarias. Então, passaram a pedir a produção deste pãozinho menor, o “da Rua Cassete”, adiante simplificado para cacetinho. Não sei se uma ou outra dessas explicações está certa, nem da existência de alguma terceira. E também não me perguntem porque em Salvador acontece o mesmo.

A Maizena segue sendo também um coringa na cozinha, tendo uso em vários pratos distintos. Prepara pratos doces e salgados, engrossa os mais diversos caldos, pode ser usada em sopas e cremes. Fora desse território, conforme as experimentações que as pessoas foram fazendo, ganhou as mais diversas funções. Ajuda a tirar manchas de roupas, combate dolorosas assaduras, limpa jóias de prata, tira o cheiro de mofo de livros e serve como shampoo a seco, limpeza facial e como máscara para hidratar os cabelos. Quem não sabia disso, pode recorrer ao oráculo moderno chamado Google e conferir. Agora, essas “mil e uma utilidades”, tipo Bombril, nenhuma delas supera em importância aquela de nos garantir mingaus deliciosos e nutritivos.

26.03.2022

Publicidade da Maizena em revistas, nos anos 1960

O bônus de hoje é a música Velha Infância, com Arnaldo Antunes, Manuela Azevedo, Carminho e Hélder Gonçalves. A gravação está no DVD “Arnaldo Antunes Ao Vivo em Lisboa”.

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