Se aposta em tudo, nesse mundão de Deus. E não é de hoje. Desde a Idade Média se tem conhecimento da existência de casas de apostas. Elas permanecem muito populares no Reino Unido e na Irlanda, mas literalmente ganharam o mundo nos últimos tempos, quando não mais precisaram de uma estrutura física e se espraiaram no território sem limites da internet. Funcionam como se fossem um mercado, com a tal lei da oferta e da procura: quanto mais pessoas apostam em algum fato ou resultado, mais baixo é o retorno oferecido. Na situação inversa, se pouca gente aposta em algo, mais pagam pelo eventual acerto. Isso é feito através de um cálculo de probabilidades, permitindo margem segura para quem detém o negócio.

Nesses lugares, seja com endereço fixo ou através de um site, se pode apostar em qualquer coisa. Desde o resultado de algum evento esportivo ou de eleições, até quanto tempo vai durar o casamento de determinada celebridade e no sucesso ou fracasso de bilheteria de um filme. Nos últimos meses teve quem colocasse algum dinheiro na hipótese de que haveria um “baby boom”, um crescimento significativo de nascimentos em 2021. Isso porque supostamente o isolamento social ao qual as pessoas foram levadas em virtude da pandemia de coronavírus, manteria os casais mais próximos por mais tempo. Existem também estatísticas que demonstram ter acontecido fenômeno semelhante ao final da 2ª Guerra Mundial e de outras crises nacionais. Assim, tal aposta parecia lógica. Mas já estão revisando isso. Não aconteceu, por exemplo, crescimento na busca por consultas de pré-natal.

Laxman Narasimhan, diretor da multinacional britânica Reckitt Benckiser, maior produtora mundial de produtos de limpeza e uma das maiores em se tratando de higiene pessoal e saúde, deu recente entrevista muito esclarecedora sobre isso. Como eles fabricam e vendem preservativos, perceberam forte queda na procura por eles, ao mesmo tempo em que cresceu a venda de desinfetantes, detergentes e xaropes para tosse, em todos os mercados onde atuam. Ele assegura que as ocasiões íntimas estão diminuindo, sendo essa uma manifestação de ansiedade – que se mostra também numa compulsiva preocupação com a limpeza da casa. Afirma ainda que o bloqueio determinou a drástica redução nas oportunidades de atividades sexuais “externas”, bem como adiou muitas decisões de casais que já estariam juntos, não fosse a situação inusitada.

Informações de 2018 dão conta de que a Reckitt Benckiser tinha, naquela ocasião, 33 diferentes marcas no Brasil. Desde o tira-manchas Vanish e o limpador Veja, passando pelo inseticida SBP e chegando ao preservativo Jontex e ao antigripal Naldecon. Com escritórios e fábricas em 60 países e 40 mil funcionários, havia faturado 15,4 bilhões de dólares. Em função do seu porte, há razoável motivo para se confiar nos seus centros de pesquisa e se levar a sério as observações relatadas pelo diretor na entrevista, que foi distribuída por agências internacionais.

A psicanalista e escritora brasileira Regina Navarro Lins já havia se manifestado e defendido a opinião que o viver juntos, sobre o mesmo teto, dividindo afazeres e preocupações, tende a acabar com as relações sexuais no matrimônio. Autora de mais de uma dúzia de livros sobre sexualidade e relacionamentos amorosos, ela parece estar tendo sua tese de certa forma confirmada pelo maior tempo de convívio “intramuros” entre os casais. Segundo ela, ambos são levados pelo comodismo e pela disponibilidade do outro – não precisa haver a “conquista”. Antes disso, na fase do namoro, a insegurança diante da permanente possibilidade de haver um rompimento na relação, aliado ao fato de estarem menos tempo juntos, são fatores que levam ao efeito inverso. O desafio agora é saber como recuperar essa situação atual. Quem sabe jantares especiais, em casa mesmo, e até eventuais quartos separados possam ajudar nisso.

23.11.2020

Relações sexuais estariam diminuindo, com a pandemia

No bônus musical de hoje, a roqueira Rita Lee canta Amor e Sexo, que está no seu álbum Balacobaco, da Som Livre.

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