TREZENTOS

Números são exatos, mas existem exceções. Números são absolutos, mas também podem ser percentuais. Eles informam, identificam, avaliam, qualificam. Nos acompanham a vida toda. Estão nas datas de nascimento, nas portas das nossas casas, nas horas dos nossos dias, nos dias do mês, no valor do dinheiro, na distância, no peso, nas probabilidades de sucesso, na esperança das loterias, nos nossos documentos pessoais. A numerologia acredita que os números têm vibração. Crianças pequenas vibram quando aprendem os números. Chamamos de naturais os números inteiros positivos. Também existem os reais, os racionais e os irracionais – o que os faz parecer com a gente. Alguns são chamados de primos, como se fossem parentes uns dos outros. Pitágoras afirmava que eles eram o elemento fundador do Universo.

Na realidade, um número qualquer não passa de um conceito abstrato e intuitivo, que foi adotado pela matemática com o objetivo de descrever ordem, quantidade ou medida. E todos eles foram assimilados de tal forma pela humanidade que agora integram a nossa estrutura mental, da qual não podem mais ser dissociados. Os números são lógicos, mas não podem ser confundidos com a contagem, com o cálculo. São necessários para ambos os processos, mas existem por si mesmos, sem a necessidade de uma operação que os valide. Nas comunidades humanas primitivas, o que primeiro surgiu foi a percepção do conjunto biunívoco, que compara coisas com outras coisas para determinar se há mais de uma delas ou da outra. Algo assim: você entra em um ônibus e percebe que há mais poltronas vazias do que ocupadas, logo existem mais lugares do que pessoas. Se sobrarem pessoas em pé, é evidente que há mais pessoas do que lugares, independente de qual seja o número de pessoas e de lugares. Faziam isso associando ovelhas com pedras, por exemplo, formando conjuntos ou coleções. Aliás, a palavra cálculo surgiu da latina calculus, que significa pedra. De onde se entende também a razão dos cálculos renais, que incomodam mais do que as aulas de matemática aos não apreciadores das ciências ditas exatas.

Um filme de 2006 recebeu o nome de 300. Assim, apenas um número, mas extremamente simbólico. Ele foi co-escrito e dirigido por Zack Snyder a partir de uma série de quadrinhos homônima, de Frank Miller e Lynn Varley, de 1998. Tanto o filme quanto os quadrinhos são releituras de ficção, feitas sobre a Batalha de Termópilas, que de fato aconteceu durante as Guerras Persas. Esse foi um encontro sangrento entre o exército persa, liderado pelo rei Xerxes, e soldados espartanos, comandados pelo rei Leônidas. Ela ocorreu no ano de 480 a.C., sendo um ato de bravura e resistência como raramente a história registrou. A tentativa do maior império da época de tomar toda a Grécia teria em tese enorme facilidade de ser confirmada, porque as cidades-estado que a compunham estavam divididas devido a rivalidades internas. Depois de cruzar a atual Turquia, centenas de milhares de persas precisavam passar por um desfiladeiro estreito para rumar para Atenas. Foi onde ocorreu a resistência. Por três dias seguidos eles foram detidos e dez mil deles mortos, antes do último espartano tombar. Isso deu tempo para que os gregos se agrupassem e unissem para uma guerra que duraria 12 anos, terminando com sua inicialmente improvável vitória.

Essa crônica de hoje é a de número 300, desde que comecei a publicar no virtualidades.blog, dia 06 de abril de 2020. No primeiro dia, postei três delas; no segundo, mais duas. Dali em diante assumi comigo mesmo o compromisso de ter uma nova, dia sim, dia não. Um mero estímulo de disciplina, para assegurar que eu não iria desistir. Persistência que em muitas ocasiões pode inclusive ter incomodado quem recebe as notificações e convites, pelo excesso. Mas que foi essencial, até agora, para me motivar. Com as 299 postagens anteriores atingi um total de 72.223 acessos nesse período de 588 dias, numa média diária de 122,8. Ou uma média de 241,5 acessos por crônica. Sei que esses todos são apenas números, sendo algo relativo. Podem parecer muito; podem não significar quase nada. Por enquanto é uma pequena história, que segue sendo contada para meus leitores. Alguns deles resistentes como aqueles espartanos, com duas diferenças: podem desistir a qualquer hora – o que espero que não façam – e elas não oferecem o risco dos bem armados persas.

16.11.2021

No bônus de hoje, o áudio da música Números, da banda gaúcha Engenheiros do Hawaii.