O BURRO E O CAVALO FALANTE
Para quem modernamente se surpreende no Brasil, com as sucessivas falas de um burro, quero lembrar hoje que já tivemos também um cavalo falante na televisão. Esse outro quadrúpede protagonista, mesmo assim, não foi o primeiro da sua espécie a fazer história. Basta que lembremos que o terceiro imperador de Roma, de nome Calígula, chegou a nomear seu cavalo preferido, Incitatus (Impetuoso), como Cônsul da Bitínia. No que quase foi por aqui superado, quando o burro em questão queria emplacar seu filho como embaixador nos EUA.
Calígula, um déspota absoluto, também odiava as instituições e vivia afrontando o Senado. Por isso deu “poderes” ao cavalo, que podia frequentar quaisquer dependências do palácio. O animal era dedicado a correr e consta que nas noites em véspera de competições, por ordem do imperador, era proibido fazer qualquer barulho na cidade. O objetivo era permitir um sono tranquilo ao atleta equino, sendo que os cidadãos que não obedecessem à ordem poderiam ser punidos com a morte.
Mas, voltemos ao cavalo falante. Ele se chamava Mr. Ed, nome não apenas do personagem, mas também da própria série televisiva, uma comédia produzida entre 1961 e 1966. O criador do programa foi Arthur Lubin, que dirigiu os primeiros filmes de Abbott & Costello. O animal conversava apenas com o seu dono, o estressado arquiteto Wilbur Post, vivido pelo ator Alan Young. Esse terminava se envolvendo em situações bem constrangedoras, em virtude desses “diálogos”. A história tem início quando o profissional e sua esposa Carol Post (Connie Hines) se mudam para uma nova casa e descobrem que o antigo morador simplesmente havia deixado um cavalo no estábulo existente no fundo do quintal. Sem ter para quem repassar o animal, terminam ficando com ele.
Quando Wilbur é surpreendido pela fala do suposto irracional, tenta contar para Carol. Mas com ela Ed nunca conversa e o pobre do arquiteto termina ficando sob suspeita de estar enlouquecendo. Pior de tudo é que o cavalo, além de bem humorado, tem opiniões próprias a respeito de tudo, gostando muito de expressá-las. A interpretação original era feita pelo ator Allan “Rocky” Lane, que conseguia com perfeição traduzir as intenções do animal, muitas vezes manhoso, outras tantas cínico e sempre espirituoso.
O programa era levado ao ar em horário noturno e nobre, pela rede CBS. Uma de suas características era contar com convidados especiais, em vários dos episódios. Ocorreram participações, por exemplo, de Clint Eastwood, Zsa Zsa Gabor e Mae West, entre outros tantos famosos da época. No Brasil começou a ser apresentada pela Bandeirantes, entre 1967 e 1968. Nos dois anos seguintes esteve na Record e depois foi para a Tupi, onde permaneceu até 1974. Por último, foi exibida pelo canal MGM na televisão a cabo. Foram 143 episódios, no total.
Para mostrar que não há preconceito meu, ao menos não nesse caso, saibam que existe um asno do qual sou fã. Falo de Donkey, chamado assim, sem nome próprio, traduzido simplesmente como “O Burro”. Ele é o amigo do ogro Shrek, personagem de animação computadorizada da DreamWorks, cuja dublagem foi feita por Eddie Murphy na versão dos EUA e por Mário Jorge Andrade, aqui no Brasil. E concluo com um preciosismo científico, lembrando que a mesma família Equidae reúne todos os equinos (ou equídeos), que são mamíferos perissodáctilos. Um único gênero existente, o Equus, engloba cavalos, burros e zebras: como Mister Ed, o inquilino do Alvorada e o resultado das últimas eleições presidenciais, exemplares nessa ordem exata.
1º.10.2021

Mostramos abaixo a abertura, trecho e encerramento de episódio do seriado Mr. Ed, da televisão dos EUA. A gravação é de 1961.