EU NASCI JUNTO COM O ROCK
Sendo mais preciso, esse estilo musical surgiu um pouco antes do momento em que abri os olhos. Mas essa fase anterior foi praticamente uma pré-história. Entre o final dos anos 1940 e a primeira metade dos anos 1950 foram sendo misturadas, num caldeirão efervescente, coisas distintas como o blues, o soul e o country, nos EUA. Só que essa química deu resultado mesmo foi no final daquela década e início da seguinte. Eu então já estava por aqui, ainda mamando nos seios de uma vizinha e aguentando o frio de Bom Jesus. Ou seja, as canções que ouvia eram bem diferentes, de ninar. Também não fui apresentado muito cedo ao rock: peguei mesmo foram as gerações seguintes. Pulei, portanto, Bill Haley & His Comets, que gravaram o primeiro de toda a história – recomendo o livro Bill Haley: The Daddy of Rock and Roll, de John Swenson, publicado em 1982. Essa banda foi tão revolucionária quanto mais tarde seriam The Beatles e Rolling Stones, com a responsabilidade ainda maior por serem pioneiros.
O rock nasceu ingênuo, do modo como somos na infância, com Rock Around the Clock e os músicos todos tocando com gravatas em roupas escuras e bem comportadas. Apenas na década seguinte viriam rebeldia e extravagância, como quando nos tornamos adolescentes. Guitarras sempre o identificaram, desde o seu começo, fosse única ou com dois guitarristas (base e solo), além de um contrabaixo ou baixo elétrico e da bateria. Nos primórdios havia ainda a possibilidade do uso de piano e saxofone como instrumentos frequentes. E a forma de dançar era muito peculiar. Depois de explodir em sua “terra natal”, o estilo se propagou com facilidade pelo mundo, situação facilitada pela época marcada por grandes mudanças sociais, nos anos 1960. A juventude finalmente tinha uma expressão musical própria, para canalizar toda a sua energia e o seu descontentamento.
A popularidade do rock crescia como cresciam os cabelos dos jovens; no ritmo em que encurtavam os vestidos das mulheres; enquanto eram queimados soutiens em Paris; e protestavam contra a Guerra do Vietnã. Enfim, era o momento histórico do rompimento de algumas amarras. No mesmo momento no qual se tentava sair do planeta, numa disputa entre russos e norte-americanos, também saía da órbita todo um enorme contingente com a experimentação de drogas. E a liberação sexual chegava, de carona, com o surgimento dos anticoncepcionais.
Voltando ao rock, temos que retornar outra vez para a década de 1950 e registrar o trabalho de Chuck Berry, com seus acordes inventivos e com aparência de permanente urgência. E citar o trabalho de outro gênio, chamado Johnny Cash, que trouxe todo um sentimento e sensibilidade country para dentro do rock. Tempos depois, Elvis Presley assumiu uma identidade tão forte que passou a ser chamado de Rei do Rock, ao juntar carisma e sedução, presença de palco e uma quase empáfia. Se poderia seguir com nomes tipo Jimi Hendrix, Bob Dylan, David Bowie, Roger Waters e Kurt Cobain, entre muitos outros, todos essenciais. Astros que brilharam e brilham até hoje. Bandas então, nem se fala quantas mereceriam ser incluídas numa linha do tempo que tivesse a pretensão de fazer mínima justiça à história.
Não há espaço suficiente aqui para se fazer isso. Mas se pode e deve lembrar que esse estilo que influenciou tanto a vida de tantos, com atitudes, linguagem e costumes, segue se alterando e fortalecendo. Com vertentes que vão desde o heavy metal ao soft rock, passando por rock progressivo e clássico, glam, grunge e indie rock. Segmentos que estão contemplando a imensa diversificação que marca o mundo atual em tudo. Galhos de uma mesma árvore, tão generosa na oferta dos seus saborosos frutos.
19.06.2021

O bônus de hoje reúne música com um espetáculo de dança, que nos é oferecido pelo casal Nils e Bianca. A canção é Hey! Baby, um rock and roll composto por Margaret Cobb e Bruce Channel, que foi gravado em 1957, justamente o ano em que nasci.