A cantora norte-americana de música folk e de country rock, Joan Chandos Baez, completou ontem 80 anos. Muito conhecida a partir dos anos 1960, devido tanto ao seu estilo vocal bastante próprio e distinto, quanto pelas opiniões políticas que sempre defendeu abertamente, ela teve papel importante no cenário cultural por longo tempo. Chamava atenção ao se fazer acompanhar pelo seu violão acústico, de modo competente. Mas também pela qualidade do repertório escolhido e pela voz de soprano.

Sua carreira começou aos 18 anos, quando foi considerada a revelação do Newport Folk Festival. No ano seguinte lançou seu primeiro álbum. E prosseguiu gravando um a cada 12 meses, alcançando o destaque com Disco de Ouro, no segundo e no terceiro. Um início meteórico, portanto. Foi quando começou a agregar canções não apenas do seu país, mas da América Latina, incluindo o brasileiro Villa-Lobos. Nesta mesma época incorporou canções de protesto e promoveu Bob Dylan – foram inclusive namorados por algum tempo –, cantando algumas de suas composições, o que ajudou a alavancar seu trabalho. Aliás, o nome verdadeiro dele é Robert Allen Zimmerman e em 2016 foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura.

Muito produtiva, Joan Baez conseguiu ainda em 1996, com o CD Ring them Bells, que revistas especializadas no gênero o considerassem o melhor lançamento em folk contemporâneo. Em 2003 foi a vez de Dark Chords on a Big Guitar. E quando comemorou 50 anos de uma carreira vitoriosa brindou seus fãs com o último CD: Day After Tomorrow. Despediu-se dos shows em 2019 no Teatro Real de Madri, cantando a balada Fare Thee Well (Adeus a Vocês), que estava em seu disco de estreia, lá em 1960. No total foram 30 álbuns, uma discografia que passa por muitos momentos socialmente importantes, para os EUA e para o mundo. De forma especial, pela defesa do pacifismo e na luta pelos direitos civis.

No dia 23 de maio de 1981, Joan Baez esteve na capital paulista. Ela iria participar de um show no Tuca, o Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, mas o então Ministro da Justiça na ainda vigente ditadura militar, Abi Akel, não deixou. Aliás, este ministro foi o mesmo flagrado algum tempo depois contrabandeando pedras preciosas para a Europa, em avião da FAB – no atual governo encontraram foi cocaína, mudando o crime para tráfico, mas não o modus operandi. O detalhe é que a proibição ministerial determinava que ela não poderia subir no palco, então a cantora se apresentou no meio da plateia: cantou Blowin’ in the Wind à capela. Ou seja, nem sequer deu motivos para ser presa, mesmo não privando o público presente da sua voz.

Ela retornou outras vezes ao nosso país, inclusive em 2014, justo o ano no qual se registrava o cinquentenário do início do período ditatorial que a havia censurado. Começou sua turnê por Porto Alegre, passando ainda por Rio de Janeiro, São Paulo e Recife. Desta feita acrescentou ao seu repertório as músicas Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil; além do xaxado Mulher Rendeira, de Zé do Norte; e da marchinha Acorda Maria Bonita, de Volta Seca. Hoje em dia, se não se ouve mais o seu canto – a não ser em gravações –, sua voz ainda continua defendendo as causas que sempre marcaram sua vida. Com a mesma coerência, que essa o tempo não prejudicou em nada.

10.01.2021

Eduardo Suplicy e Joan Baez, na plateia durante show no Tuca, em 1991

No bônus musical de hoje, Joan Baez interpreta Blowin’ in the Wind, de Bob Dylan. A gravação foi feita ao vivo, em 1978.

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