Página 2 de 4

DIA DE TÍTULOS

Hoje à noite, se prevalecer a lógica – mesmo ela tendo pouco compromisso de comparecer, quando se trata de futebol –, o Grêmio deverá vencer mais um jogo e conquistar mais uma taça para a sua Sala de Troféus. Campeão gaúcho do ano passado, quando alcançou a quinta conquista em série, no primeiro semestre, ele enfrentará o São Luiz na disputa da Recopa Gaúcha. Isso porque o time de Ijuí foi o campeão, no segundo semestre, da Copa FGF. Evidente que existe uma considerável disparidade técnica entre as equipes e isso, portanto, permite apontar a existência de favoritismo. Ainda mais considerando a euforia que tem tomado conta da torcida tricolor, com a reformulação da equipe para a temporada, em especial com a contratação do uruguaio Luis Suárez.

Vou estar na Arena, de corpo presente. Meu coração, no entanto, vai ficar dividido. Não porque eu esteja pensando no adversário, que sei merecer respeito, mas com o qual não tenho quaisquer vínculos de ordem afetiva. A razão é que hoje também é o aniversário da minha filha, uma grande companheira de arquibancadas no Olímpico e de cadeiras na Arena. Mas ela está longe, morando em outro Estado, e não poderá estar comigo na torcida, logo mais.

Mas são muitas as passagens inesquecíveis dessa parceria, na qual dividimos alegrias e tristezas, multiplicando sempre a paixão em comum pelo tricolor. Ela muito pequena dormiu nos meus braços em pleno jogo decisivo contra os paraguaios do Olímpia, em uma Libertadores. Quando o pessoal que estava sentado na minha frente levantava, ficava difícil ver o que estava ocorrendo em campo, mas valeu muito a pena. Outra vez, em final de Copa do Brasil contra o Corinthians, não aceitou que eu a levasse ao banheiro – e a sua autonomia, como iria ficar? –, se perdendo na volta. Um segredo guardado por anos, para que a mãe não proibisse ir a outros jogos.

Teve ainda a ocasião na qual, no final de um jogo que nem lembro qual foi, ela simplesmente colocou seu dedo no nariz de um “corneteiro”, que havia passado todo o tempo criticando um jogador nosso. E justo o que fez o gol da vitória, ao apagar das luzes. O cara era imenso e estava acompanhado, mas mesmo eu estando resignado com a surra que iria levar ao defendê-la, ele ficou tão surpreso que não conseguiu reagir. Nem ao gesto, nem ao fato da senhora sua mãe ter também sido homenageada por ela. Também perdemos a audição por alguns momentos, com ela trocada por um zumbido mais do que desagradável, quando algum imbecil jogou uma bomba muito perto da gente, na fila de entrada para a final da Libertadores contra o Boca Juniors.

Ela estava comigo no Grenal dos 5×0. E no título da Copa do Brasil de 2016, frente ao Atlético Mineiro. Sofremos diante da televisão na Batalha dos Aflitos; e secamos juntos, felizmente com sucesso, nosso “coirmão” no enfrentamento contra o Mazembe. Corajosa, ela me representou uniformizada e tudo, espremida num cantinho do Pacaembu, em virada histórica contra o Palmeiras. E veio de São Paulo, com viagens de um único propósito, para me acompanhar contra Botafogo, Barcelona (Guayaquil) e Lanús, na reta final da campanha vitoriosa da Liberta de 2017. Estivemos nas ruas, empunhando bandeiras, em tantos títulos gaúchos que somamos. Também saímos cabisbaixos algumas vezes, tristes com algum revés, esperado ou não. Nessas horas, a companhia de um diminuía a dor do outro, do mesmo modo que também multiplicava a alegria quando das vitórias.

Enfim, hoje é o dia do aniversário do meu título de pai. Muito mais valioso que um de Brasileirão, Libertadores ou Mundial. Por mais que eu deseje todos esses outros. E ela também, lógico. Ainda bem que não se é obrigado a escolher entre dois amores distintos. Até porque, se isso um dia viesse a ocorrer, seria a única razão que me levaria a abandonar o Grêmio.

17.01.2023

Solon e Bibiana, em um dos tantos jogos na Arena

Logo aqui abaixo você encontra uma Chave PIX e um formulário para fazer doações, podendo em ambas as alternativas decidir com quanto quer ou pode participar. A colaboração é importante para a manutenção deste blog, que não é nada barata (e paga em dólares). Depois, tem o bônus musical, que hoje é Ana Vilela, com o clipe da canção Promete. E, para finalizar, pode ser ouvido ou baixado o Hino do Grêmio.

PIX: virtualidades.blog@gmail.com

Uma vez
Mensal
Anualmente

FORMULÁRIO PARA DOAÇÕES

Selecione sua opção e confirme no botão verde abaixo.

Faça uma doação mensal

Faça uma doação anual

Escolha um valor

R$10,00
R$20,00
R$30,00
R$15,00
R$20,00
R$25,00
R$150,00
R$200,00
R$250,00

Ou insira uma quantia personalizada

R$

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmente
Hino do Grêmio, com orquestra e coral

OS GAVIÕES ENGAJADOS

“A democracia alienada é a ditadura disfarçada”. Com essa afirmação tem início o clip oficial do samba-enredo que a Gaviões da Fiel, escola de samba de São Paulo, levou para as ruas no carnaval de 2021/2022. Anos e datas dos desfiles ficaram confusos, desde o início da pandemia. Ele resultou da junção de dois sambas que venceram concursos prévios, levando o título Basta!, assim com a exclamação final, o mesmo que foi dado ao enredo desenvolvido. Os compositores são tantos que, uma vez listados, parecem ser os integrantes de uma ala inteira da escola. Mas vamos lá, respeitando o fato de ser uma produção conjunta, colaborativa. São eles Grandão, Sukata, Jairo Roizen, Morganti, Guiné, Xerém, Ribeirinho, Cláudio Gladiador, Meiners, Japonês da Moóca, Claudinho, Julhyan, Luciano Costa, Felipe Yaw, Marcelo Adnet, Fadico, Júnior Fionda, Fábio Palácio (Mentirinha), Lequinho, Leonel Querino, Altemir Magrão, Sandro Lima, Marcelo Valente e Rodrigo Dias.

A escola cumpriu seu papel ao levar para a avenida uma crítica social, o que não é nenhuma novidade, nem em termos do carnaval em geral e muito menos da Gaviões em particular. O projeto vem assinado pelo carnavalesco Paulo Barros e, conforme sua concepção, conseguiu esparramar no asfalto problemas que vinham sendo enfrentados pela sociedade brasileira. Desfilando desde o ano de 1989, a escola é o braço carnavalesco da maior torcida organizada do Sport Club Corinthians Paulista, que foi fundada em 1969 e tem sede no bairro do Bom Retiro, na cidade de São Paulo. O primeiro título que obteve no Grupo Especial foi em 1995, com o enredo Coisa Boa é pra Sempre. Aquele feito é outro muito lembrado por quem ama o samba.

Mas, por que estou lembrando disso tudo agora? Primeiro que o final do ano se aproxima e a próxima festa de Momo já está programada, com ensaios sendo incrementados em breve. Em geral, deixam só passar Natal e Reveillon. Segundo, para mostrar o quanto esse clube e sua torcida vão além do futebol, mesmo sendo esse o seu foco principal. Vamos lembrar, por exemplo, que nas rodadas finais do Brasileirão desse ano foi essa torcida terminou com barreira feita por viúvas de Bolsonaro, na estrada, o que impediria sua ida até o Rio de Janeiro, onde enfrentou e venceu o Flamengo. Fizeram aquilo que as forças policiais não queriam fazer, permitindo que o trânsito voltasse a fluir com normalidade. O Corinthians, ao lado de Bahia, Vasco da Gama e um pouco também o Grêmio, são clubes que têm preocupação e serviços sociais atuantes.

Alienados seguem querendo romper com a normalidade democrática, em defesa da democracia. Segundo eles, lógico. Ou quem sabe seria melhor dizer “segundo eles, ilógico”? O atentado à gramática resultaria ao menos em uma compreensão mais próxima da realidade. Deixando essa discussão de lado, a Gaviões da Fiel foi a segunda escola a entrar no Sambódromo do Anhembi, no segundo dia dos desfiles. Eles ocorreram fora de época, no final de abril, ainda em decorrência dos problemas trazidos pela pandemia de Covid 19. Ela levantou o público, que cantou junto o samba nas arquibancadas.

Além da letra completamente engajada, também os quatro carros que estiveram no desfile compuseram com perfeição a história que estava sendo contada. O abre-alas homenageava o povo africano, mostrando como os escravizados chegaram ao Brasil. O segundo se referia à desigualdade, dando destaque para a escultura de uma criança negra diante de um prato com ossos. No andar de cima, apropriadamente se via um banquete. Na mesma estrutura móvel, cortiças e favelas, troca de tiros e a falta de oxigênio para tratar internados com coronavírus.

O terceiro simulava um incêndio na mata, mostrava a devastação ambiental e também a resistência dos povos originários. O último pedia paz e celebrava pessoas que lutam por justiça, citando personalidades como Nelson Mandela, Frida Kahlo, Mahatma Gandhi e o cacique Raoni, entre outros. A arte de fato, em muitos momentos, retrata com enorme perfeição a vida. E o Carnaval é uma das maiores expressões da cultura, arte e criatividade do povo brasileiro.

20.12.2022

O bônus musical de hoje é o clipe oficial do samba-enredo citado no texto acima. Com vocês, o excelente Basta!

Uma vez
Mensal
Anualmente

Se você gostou desta crônica ou de outras das nossas postagens, ajude a manter este blog em atividade, com contribuições.
Elas podem ser únicas, mensais ou anuais.
Selecione sua opção e confirme no botão abaixo.

Faça uma doação mensal

Faça uma doação anual

Escolha um valor

R$10,00
R$20,00
R$30,00
R$15,00
R$20,00
R$25,00
R$150,00
R$200,00
R$250,00

Ou insira uma quantia personalizada

R$

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmente