É DOSE AGUENTAR O RENATO

No início deste mês comecei a escrever uma crônica para colocar aqui, nesse espaço, atribuindo para a mesma o título de “Entrevistas Irritantes”. Não concluí nem publiquei, do que me arrependo agora. O conteúdo era uma crítica ao treinador da equipe de futebol profissional masculino do Grêmio, Renato Portaluppi. Mais precisamente, defendia a ideia de que são quase insuportáveis as suas manifestações feitas após os jogos que o time disputa. Elas se resumem à repetição interminável das mesmas frases, com variações muito pequenas feitas para adaptar suas respostas ao momento e ao seu interesse. Ele não fala para prestar informações e justificativas ao público torcedor, que no fundo é quem paga todo o custo de manutenção do clube, inclusive o salário daquele que está sendo entrevistado. São apenas estruturas que compõem todo um bem planejado marketing pessoal, servindo para agradar tanto seus patrões quanto seus subordinados, além de manter inebriado parte do imenso público tricolor.

Asseguro a vocês que sou gremista como poucos e que nunca neguei e jamais escondi esse fato. Sou jornalista, mas não trabalho atualmente com cobertura esportiva. E, mesmo que trabalhasse, acredito ser uma besteira enorme a pessoa ter que fingir que nunca torceu ou torce por um clube qualquer, para que não perca sua credibilidade. Esta se conquista é com trabalho bem feito, com profissionalismo, respeito a fontes e ao público, com um posicionamento coerente. Ninguém se torna honesto ou desonesto por torcer para o time A ou para o time B. E temos alguns poucos, porém bons exemplos, mesmo aqui na terrinha. Um deles é o comentarista Adroaldo Guerra Filho, o Guerrinha. Mesmo identificado com o Internacional, ele tem o respeito da imensa maioria da torcida do Grêmio, que vê nas suas apreciações uma postura de observador sério, que relata o que realmente está vendo em campo. Apesar de vez por outra ele deixe escapar algumas pérolas, frutos da sua fina ironia. Mas em doses compreensíveis e aceitáveis.

As frases feitas de Renato já foram aproveitadas até em algumas ações de marketing elaboradas pelo clube. Coisas como “eu confio no meu grupo”. Mas existem outras tantas, de tal forma que haja camisetas para serem estampadas. “Eu dou oportunidade a todos. Estou lapidando o jogador. Eu passo confiança para eles. É como eu sempre digo.” Vejam que todas têm em comum o falar de si próprio, de um trabalho que é supostamente exemplar, único, inigualável, imprescindível. Não raras vezes fala contra a imprensa, contra parte da torcida e cobra coisas dos dirigentes, publicamente, exercendo função que não é sua, invertendo a hierarquia de forma absurda. Ele jamais se contenta em ser apenas o treinador do time. E dele é simplesmente impossível tirar, em quaisquer entrevistas, uma explanação de ordem tática ou técnica.

Existem ainda os mitos, que são involuntariamente alimentados por todos, coisas do tipo “comigo ele joga”. Mentira! Essa história de que recupera jogadores foi a generalização de um que outro caso isolado. A exceção passou a ser contada como se regra fosse. Everton – aquele que veio do São Paulo –, Thiago Neves, Robinho, Tardelli, Maicosuel, André, Henrique Almeida e Rômulo são alguns exemplos gritantes de perda de tempo e de muito, muito dinheiro mesmo. No elenco atual, estão atribuindo a ele contratações de Carballo e de Cristaldo, que talvez ele nem soubesse que existiam antes da chegada. Ambos foram indicados por um departamento informal de desempenho, organizado pela atual direção, antes mesmo de vencerem as eleições e tomarem posse. Do mesmo modo, a ousadia de trazer Luis Suárez foi do presidente Guerra e sua equipe. Renato, a bem da verdade, indicou outros dois que estão dando certo, Vina e especialmente Pepê.

Mas o mesmo Renato tem uma paixão cega por Thiago Santos, Lucas Silva e Diogo Barbosa, que já ultrapassou o limite do razoável. A torcida não os suporta, a imprensa de forma unânime entende que não servem para a ideia de time vencedor que se deseja – não que não possam e devam seguir carreira em outros locais. E ele insiste em colocar todos os três em campo, quaisquer que sejam as oportunidades surgidas. Se elas não aparecem, ele as cria. Exemplos foram o último Grenal e o difícil enfrentamento contra o Ypiranga, no sábado passado. Para Renato não vale a máxima “a voz do povo é a voz de Deus”, pelo simples fato de que ele, na sua concepção, é o próprio Deus. E prefere o ditado ao contrário. Assim, jovens promissores como Kauan Kelvin, Cuiabano e Ronald, no máximo ganham lugar no banco, vez em quando.

Quando o também contestado Thaciano realizava a melhor partida dele com a camisa do Grêmio, Renato o trocou por Gustavinho, que nada acrescentou. Antes disso, ainda no intervalo, entrou Thiago Santos no lugar de Galdino: um protetor de zaga, quando o time precisava atacar e vencer o jogo, que estava mais do que encardido. O que ele conseguiu foi oportunizar um gol para o Ypiranga, como já fizera no Grenal. Foi o que faltava para as vaias aparecerem: os visitantes somavam 3×1 no placar agregado e a classificação para a final escapava entre os dedos, do time com melhor campanha na competição. Foi preciso que ele saísse, após pouco mais de 20 minutos em campo, para Cristaldo vir ajudar na busca do empate e da conquista da chance de decidir nos pênaltis.

A arrogância de Renato está demais. Foge até mesmo dos parâmetros altos que ele sempre apresentou. Ele segue achando que o time não joga nada sem ele. Que o clube não conquista nada sem ele. Que a estátua que ganhou na Arena ainda é insuficiente. É incapaz de se dar conta de que, por maior que seja o seu ego, ele (Renato) jamais terá o tamanho do Grêmio instituição. Assim, enquanto não tiver alguém que o coloque no devido lugar – Guerra havia prometido fazer isso, mas ao que parece não está conseguindo –, ele seguirá com esses delírios. Agora, não se pode deixar de reconhecer a sua imensa importância como ídolo maior da história do clube, a grande contribuição que deu ao longo da história, como jogador e como treinador. Para concluir, como citei o Guerrinha no início desta crônica, vou aproveitar também uma das suas lapidares observações: “Tem certas coisas que os treinadores não fazem nunca, porque há grande chance de que dê certo. Daí, como é que eles ficam?” Renato jamais se curvará ao que observam e pedem a torcida e a imprensa. Mesmo que estejam cobertas de razão.

29.03.2023

P.S.: Como é grande a chance que ele conquiste mais um título, nos jogos finais contra o Caxias, se tornará por mais um tempo imune a críticas de quem vê no futebol algo além do que resultados.

Renato Portaluppi (ou Renato Gaúcho), atual treinador do Grêmio

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GALILEU E O PASSAR DOS ANOS

Evidente que não posso assegurar que isso seja verdade. Entretanto, consta que certa vez foi perguntado a Galileu Galilei (1564-1642) quantos anos ele tinha. “Entre oito e dez”, respondeu ele, para surpresa do interlocutor. “Como assim, se o senhor já tem barba e cabelos brancos?”, insistiu o homem. “Porque tenho na verdade apenas os anos que me restam de vida, uma vez que os já vividos não os tenho mais”, explicou o astrônomo, físico e engenheiro florentino. E, diante da surpresa do outro, concluiu dando um exemplo: “Do mesmo modo, não tenho mais as moedas que já gastei, mas apenas as que ainda estão comigo”.

Esse ensinamento, tendo ou não ocorrido tal diálogo, é um fantástico modo de explicar a necessidade de valorizarmos o tempo que nos resta na vida. Ele tentou dizer que não adianta ficar lamentando aquele que já passou, uma vez que muito mais proveitoso é nos dedicarmos a algum tipo de vida útil, tanto para nós quanto para os outros. Lamentações e remorsos são pesos compreensíveis, mas inúteis, desnecessários. Isso porque não vão de modo algum alterar o passado, mas ficam causando problemas no presente. E tirando o nosso foco do futuro, que é o tempo que escoa na ampulheta, inexoravelmente.

Bem mais recente do que a recomendação de Galileu, um texto que foi atribuído ao espírito Emmanuel, psicografado por Chico Xavier, também nos teria lembrado algo semelhante. “Embora ninguém possa voltar atrás e ter outro começo, qualquer um pode começar de novo e ter um novo fim”. Uma verdade incontestável, mesmo que muitas vezes ela passe a todos despercebida. Esse é um conselho clássico sobre a necessidade de se aproveitar melhor o tempo. Um chamamento para que se assuma nossa responsabilidade de cocriadores, sinta-se ser intransferível se honrar a centelha divina que é a nossa vida.

Eu mesmo passei a imaginar esse cronômetro digital, que segue numa triste contagem regressiva, tendendo a zero. Com um otimismo um tanto maior do que o de Galileu, tenho que dizer e me contentar talvez com mais uns dez ou 15 anos. Com essa segunda alternativa eu passaria dos 80, iria além da expectativa de vida média dos brasileiros, que hoje está em 77 anos. Ela tem melhorado muito com o correr do tempo e com a adoção de medidas sanitárias, o surgimento de vacinas, o avanço das ciências da saúde, as descobertas da ciência tornando os remédios muito mais eficazes. Em 1960, para se ter uma ideia, era de apenas 48 anos. De um modo simplista, se pode afirmar que ao longo de 62 anos ganhamos de presente 29. Quase a metade, algo expressivo se formos considerar que, para quem chega ao final da vida, quaisquer 24 horas seriam recebidas de braços abertos. Se a pessoa estiver com saúde e lucidez, evidente.

A situação poderia ainda estar melhor, não fosse pelo imenso retrocesso que sofremos nos últimos seis anos. O negacionismo, que reduziu de forma drástica a cobertura vacinal; o desmonte de políticas públicas que priorizavam pessoas em situação de vulnerabilidade; o fim do Mais Médicos; o aumento da mortalidade infantil devido ao descaso; a descontinuidade da merenda escolar; cortes profundos no programa Farmácia Popular e outras tantas ações danosas e omissões criminosas. Isso tudo no mínimo freou a velocidade da melhora, reduziu o futuro de muitos, matou a esperança de tantos. Coisas que, felizmente, começam a ser revertidas.

Sobre o que escrevi acima, imaginando o tempo que talvez me reste, asseguro que não representa o meu desejo. Por mim, fico na torcida para que o juiz seja generoso nos meus acréscimos. Coisa tipo Copa do Mundo do Catar, quando aqueles outros árbitros levaram tudo ao extremo. Se der, não fico triste. Desde que não incomode ninguém, desta vida só saio morto. E provavelmente contra a minha vontade

06.02.2023

Galileo di Vincenzo Bonaulti de Galilei, mais conhecido como Galileu Galilei

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