CADA MACACO NO SEU GALHO
Chamar de macaco um ser vivo, na natureza, se trata apenas de designar um símio. Existem os grandes (gorilas, chimpanzés, bonobos e orangotangos) e os menores (gibões). Mas todos eles são igualmente primatas. Entre os humanos brancos, de uns tempos para cá, também tem sido esse um lamentável modo de apontar indivíduo igualmente humano, que não tenha pele clara. Muitos estádios de futebol, por exemplo, têm presenciado esse uso mais do que impróprio, criminoso.
No nosso idioma há uma expressão – cada macaco no seu galho – que não está nem nas matas, nem no racismo estrutural. Sinteticamente, ela significa que cada um deve se ocupar daquilo que de fato lhes diga respeito. Manter posição profissional ou social que caiba a si naquele momento, naquela circunstância. Também que não deve se preocupar com assuntos que não sejam da sua alçada, sendo sempre aconselhável evitar qualquer intromissão no que não lhe compete. Existe a suposição não comprovada de que ela teria surgido quando um oficial determinou que cada soldado seu subisse e ocupasse galhos em árvores, nas laterais de um caminho por onde passariam inimigos. Uma emboscada, portanto, ocorrida sabe-se lá em qual de tantas guerras.
Há ainda uma brincadeira infantil, conhecida em alguns rincões brasileiros, que leva esse nome. Várias crianças formam uma roda e vão cantando e girando: são os macacos. No meio, outra criança faz o papel do caçador. Quando alguém grita a expressão citada, como palavra de ordem, todos os macacos precisam se abrigar em lugares mais altos, como cadeiras. Quem não consegue, fica no chão e pode ser “caçado”, sendo eliminado da brincadeira.
A Constituição do Brasil prevê a existência de três poderes distintos, constitutivos da República: Legislativo, Executivo e Judiciário. Essa ideia de tripartição de poderes não é nova nem nossa. Remonta à obra de Aristóteles, na Grécia antiga, que já vislumbrava a existência de três funções distintas e necessárias para a estruturação e o funcionamento do Estado e, por consequência, da sociedade: a edição de normas, a aplicação dessas normas e o julgamento de todo conflito que disso pudesse resultar. Montesquieu, ao escrever O Espírito das Leis e o publicar anonimamente em 1748, corroborou essa ideia original e distinguiu que essas funções teriam que ser exercidas por três órgãos distintos, autônomos e independentes.
No Brasil não existe um quarto poder, como alguns até desejam e gostariam de chamar de “Moderador”. Também não há figuras que sejam “garantidoras” ou “revisoras”. As Forças Armadas, por exemplo, não são um poder legal. Não lhes cabe discutir as instituições. Não é papel delas dar qualquer palpite sobre o seu funcionamento. Elas são uma estrutura burocrática dentro do Estado. Foram criadas, diga-se de passagem, para a defesa da integridade nacional diante de eventual risco externo. Esse é um papel importantíssimo, que se precisa reconhecer, mas não lhes cabe quaisquer outros. Convêm lembrar que elas são subordinadas ao poder civil, exatamente como consta na Constituição. As tropas são formadas pelo alistamento compulsório de jovens, sendo seus oficiais apenas funcionários públicos.
A mesma Constituição define formação e prerrogativas, por exemplo, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF). O primeiro não tem quadro próprio, sendo composto por no mínimo sete membros, três deles ministros do STF, dois outros ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e dois advogados apontados entre seis de notório saber jurídico e idoneidade moral. Além disso, há toda uma estrutura de observação e acompanhamento das suas ações, formada por representantes dos mais variados setores da sociedade. Tudo é feito com segurança, enorme responsabilidade e transparência. Quanto ao STF, sua função institucional é a de servir como guardião da própria Constituição Federal, apreciando casos que envolvam lesão ou ameaça a suas provisões. Ou seja, é a última instância da justiça em nosso país. Ressalte-se que não cabe recurso a nenhum outro tribunal, quanto às decisões por ele tomadas. E muito menos pode ele submeter-se aos caprichos e vontades de outras instituições que não sejam de fato um poder.
15.05.2022

O bônus de hoje é a música Adventure Of A Lifetime (Aventura de Uma Vida), do Coldplay. Essa banda britânica foi fundada em 1996, pelo pianista e vocalista Chris Martin e seu amigo, o guitarrista Jonny Buckland, quando estavam no University College London.
UMA OBRA PRIMA
A recomendação de livro que faço hoje é muito especial.
POVOS ORIGINÁRIOS: guerreiros do tempo, de Ricardo Stuckert
(capa dura – edição bilíngue – 280 páginas – 164 fotos extraordinárias)
Na primeira viagem que fez à Amazônia, em 1997, a imagem de uma mulher Yanomami ficou gravada na memória do fotojornalista Ricardo Stuckert. Quase 20 anos depois, quando voltou à aldeia para fotografá-la outra vez, decidiu assumir a missão de registrar de forma mais ampla a vida dos indígenas brasileiros – uma maneira de prestar-lhes um tributo e ao mesmo tempo torná-los mais conhecidos ao redor do país. O resultado desse tributo é o livro Povos Originários.
Com o olhar amoroso e a habilidade técnica de sempre, Stuckert capturou a beleza e a alma dos povos originários do Brasil em imagens grandiosas, de forte impacto: a mãe que amamenta o filho; as crianças que brincam no rio; o ritual da ayahuasca; o arco e a flecha do caçador; o pajé majestoso; a canoa entalhada no tronco; o Kuarup, homenagem anual aos mortos; o jovem casal grávido; o velho cacique Raoni. Dividido em capítulos que retratam 10 etnias – Yanomami, Ashaninka, Yawanawá, Kalapalo, Kayapó, Pataxó, Kaxinawá, Xukuru-Kariri, Korubo e povos isolados – Stuckert destaca a importância daqueles que estão na linha de frente da luta pela preservação dos nossos recursos naturais.
Entre tudo e todos, onipresente, a floresta. “A fotografia é minha forma de vida, é a maneira como eu vejo o mundo”, ele diz. E Povos Originários é a sua visão dos homens e das mulheres que estão na linha de frente da preservação de recursos naturais de importância capital para a vida em todo o planeta.
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