BLOWIN’ IN THE WIND

Reza a lenda que uma das canções mais famosas do mundo, entre as que são consideradas “de protesto”, foi composta em apenas uns dez minutos. Isso teria acontecido em abril de 1962, em uma casa noturna de Nova Iorque. Quem garantiu ser verdadeira essa história foi o seu próprio autor: Bob Dylan. A melodia, por sua vez, foi inspirada em uma antiga canção afro-americana chamada No More Auction Block, que o mesmo Bob também chegou a gravar tempos depois. Falo de Blowin’ In The Wind.

Canções de protesto são aquelas que nascem com o intuito de chamar a atenção dos ouvintes para algum problema específico. Alguma situação política ou social que esteja preocupando ou atingindo a população de um determinado país, por exemplo. Algumas vezes a sua motivação está na economia, em outras na política ou ainda em questões culturais e comportamentais. Seu sucesso depende muito não apenas da qualidade do que é composto ou do bom nome de quem a criou. A aceitação, com os ouvintes se identificando de imediato com a mensagem, sem dúvida termina sendo primordial. No Brasil, por exemplo, há quem afirme que nossa música popular teria atingido um ponto elevadíssimo, considerada a qualidade das letras, justo no período da ditadura militar.

How many roads must a man walk down (Quantas estradas um homem precisará percorrer) / Before you can call him a man? (Até que possam chamá-lo de homem?) / Yes, and how many seas must a white dove sail (Sim, e quantos mares uma pomba branca precisará sobrevoar) / Before she sleeps in the sand? (Até que ela possa dormir na areia?) / Yes, and how many times must cannonballs fly (Sim, e quantas balas de canhão precisarão voar) / Before they’re forever banned? (Até serem para sempre banidas?)

A canção exalta a conquista da maturidade, assim como a compreensão de toda a importância que tem a paz – não por acaso foi incorporada a movimentos que lutavam contra a continuidade da Guerra do Vietnã. Isso pode ser percebido com muita clareza no trecho reproduzido acima, com a respectiva tradução livre. É como se ele dissesse “cresçam e percebam a beleza da vida e do convívio em harmonia, superem as dificuldades do caminho e sintam a plenitude da existência”. Importante ressaltar que tanto no parágrafo anterior quanto no seguinte, as traduções foram feitas de modo livre, sem compromisso com literalidade.

Yes, and how many years can some people exist (Sim, e quantos anos algumas pessoas precisam existir) / Before they’re allowed to be free? (Até que sejam permitidas ser livres?) / Yes, and how many times must a man turn his head (Sim, e quantas vezes um homem pode virar sua cabeça) / And pretend that he just doesn’t see? (E fingir que ele simplesmente não vê?) / How many times must a man look up (Quantas vezes um homem precisará olhar para cima) / Before he can see the sky? (Até que ele possa ver o céu?) / Yes, and how many ears must one man have (Sim, e quantas orelhas um homem precisará ter) / Before he can hear people cry? (Até que ele possa ouvir as pessoas chorarem?) / Yes, and how many deaths will it take till he knows (Sim, e quantas mortes serão necessárias até que ele saiba) / That too many people have died? (Que pessoas demais morreram?)

A letra destaca ainda a importância da liberdade, a necessidade urgente das pessoas pararem de fingir que não estão vendo os problemas dos outros. Ressalta que se precisa olhar para cima, talvez porque isso nos dê uma dimensão mais exata do quanto o homem é de fato pequeno. Que se precisa ter com o choro alheio a mesma preocupação que temos com as nossas dores. E finaliza colocando que muita gente já perdeu a vida em vão. Desta forma, ela quase se enquadra em categoria similar àquela dos livros de autoajuda. A diferença é que não se trata de alguém jurando que tem a solução para todos os problemas da sua vida, desde que você compre a coleção de frases feitas dele. Nem tampouco se trata de um líder religioso lhe oferecendo a chave para abrir a porta do Céu.

O nome de registro de Bob Dylan é Robert Allen Zimmerman, tendo nascido em uma cidade de Minnesota, nos Estados Unidos, em 1941. É uma figura que alcançou importância mundial por sua atuação de mais de 60 anos de trabalho pela cultura, como compositor, cantor, escritor, artista visual, ator e pintor. Alcançou celebridade nos anos 1960, mas nunca parou de produzir obras que sempre incorporaram influências de ordem política, social e filosófica. Com apenas dez anos de idade tinha como hábito escrever poesias. O ápice de seu trabalho, pelo menos até agora, foi ser reconhecido com o Prêmio Nobel de Literatura de 2016. E se pretendermos descobrir como chegou lá, depois deste percurso, talvez ele responda dizendo que The answer, my friend, is blowin’ in the wind (A resposta, meu amigo, está soprando ao vento) / The answer is blowin’ in the wind (A resposta está soprando ao vento), o belo refrão ou estribilho desta canção que se tornou um hino.

18.02.2023

Bob Dylan

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O bônus de hoje, evidentemente, é Blowin’ in the Wind, que hoje em dia tem centenas de gravações diferentes. Primeiro temos dela um áudio, estando a canção na voz do próprio Bob Dylan. Mas, logo após há um vídeo antigo no qual Joan Baez, que foi sua namorada nos anos 1960, também a canta. Interessante é que, com o término do seu relacionamento, eles continuaram bons amigos e chegaram a fazer algumas turnês juntos.

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Blowin’ In The Wind – Bob Dylan

AINDA O GENOCÍDIO YANOMAMI

A investigação sobre o crime contra a humanidade, que foi cometido por Jair Bolsonaro e ministros seus, que trabalharam diretamente para que o povo indígena yanomami fosse dizimado, cada dia tem mais dados sobre os quais ser fundamentada. Os “indícios” se materializam de tal forma e em tamanho número, que basta um mínimo de boa vontade para que a Justiça chegue aos responsáveis. As violações ambientais, o crime de prevaricação, o desvio de verbas e a omissão de autoridades saltam aos olhos. Tudo isso foi uma constante, uma ação deliberada levada a cabo nos quatro anos do governo anterior, não tendo ocorrido apenas em Rondônia, a bem da verdade.

O jornal O Globo, por exemplo, realizou uma checagem básica feita junto ao Portal da Transparência – o que qualquer pessoa física pode acessar, sem dificuldade alguma – e descobriu bem rapidinho que uma ONG chamada Missão Caiuá, criada por evangélicos e que diz “estar a serviço do índio para a glória de Deus”, recebeu repasses de R$ 872 milhões, feitos pelo último governo. Sua sede fica em Mato Grosso do Sul. Nas redes sociais a organização afirma que cuida da saúde física e espiritual dos indígenas, contando com sete campos avançados de trabalho. Uma das três igrejas que são suas apoiadoras tem o nome de Igreja Indígena Presbiteriana no Brasil, que existiria desde 2008. Mas, aqui entre nós, os povos originários precisam que alguém lhes aponte para uma nova fé ou que respeitem a que eles têm, desde seus primórdios? E ainda custando tudo isso? Eles necessitam é de saúde, acesso à educação, comunicação e transporte, além de respeito à cultura e aos hábitos que lhes são próprios.

Voltando ao caso dos yanomamis, uma das maiores aberrações que foram encontradas mostra que boa parte dos recursos que deveriam ser destinados aos indígenas foram parar justo nas mãos de quem tem invadido e destruído a sua reserva. Como o caso de garimpeiros que constituíram empresas de transporte aéreo, com esse incentivo. Então, passaram também a decidir quem poderia ou não acessar os territórios. Agentes públicos fiscalizadores, profissionais de saúde, sociólogos, jornalistas e antropólogos, por exemplo, começaram a ser barrados. Seis unidades básicas de saúde fecharam por falta de pessoal, de gestão e pelo medo.

Esses mesmos grupos começaram a controlar o alimento disponibilizado para os nativos, que chegavam em quantidades cada vez menores e por preços exorbitantes. Deste modo, além de entrarem as incontáveis doenças que os invasores traziam, também passou a morar lá dentro a fome. Com a floresta sendo derrubada, sumia a chance da caça; com as águas sendo contaminadas por mercúrio, desapareciam os peixes. Ou eles eram pescados trazendo consigo o veneno nas entranhas.

Enquanto isso, o então ministro da Justiça, Anderson Torres, que agora está preso devido aos atos terroristas ocorridos em Brasília, no dia 08 de janeiro, concedia debochadamente medalhas do Mérito Indigenista para membros do governo do qual fazia parte. Receberam indevidamente a honraria Jair Bolsonaro e os ministros Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Tereza Cristina (Agricultura) e o general Braga Netto (Defesa). Essa condecoração, que existe desde 1972, foi criada para agraciar pessoas que se destacam pelos trabalhos de proteção e de promoção dos povos indígenas brasileiros.

O então vice-presidente, um outro fardado, general Hamilton Mourão, ocupava a presidência do Conselho Nacional da Amazônia. Em tese, seria de sua responsabilidade a apresentação de planos e políticas para toda a região. Estava sentado na cadeira desde abril de 2020, tendo ampliado enormemente a participação de militares no órgão, ao mesmo tempo em que restringia a atuação e sequer aconselhamentos que vinham de técnicos do Ibama e da Funai. Nenhum projeto relevante foi gestado nesse tempo todo. Isso até quando faltavam apenas duas semanas para o governo se despedir da mamata. Foi quando ele divulgou o Nossa Amazônia – que ninguém critique o nome, pois ela estava mesmo à disposição apenas do grupo que os apoiavam. Estava se tornando uma propriedade privada.

A Folha de São Paulo, ao noticiar o surpreendente feito no apagar das luzes, foi contundente na apreciação: “se trata de uma coleção de frases e ideias genéricas, com propostas que representam o contrário do que fez o governo Bolsonaro ao longo de quatro anos”. Nesses papéis ficaram as digitais do agora senador pelo Rio Grande do Sul, com eles estando sujos de sangue. Dos indígenas, evidente. Nenhuma gota dos garimpeiros ilegais, dos grileiros, desmatadores, contrabandistas e toda a gama de bandidos que passaram a habitar sem quaisquer dificuldades aquela terra, que virou de ninguém. Foi essa impunidade, por exemplo, que matou o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira.

Apenas a pronta reação do governo Lula está conseguindo estancar o genocídio. Foi decretada Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, criando-se um comitê para gerenciar a crise. Cestas básicas e suplementos alimentares para as crianças desnutridas foram de imediato disponibilizadas. Uma Força Nacional do SUS, com 13 profissionais, passou a agir, com outros oito sendo depois deslocados. E um Hospital de Campanha da Aeronáutica, que estava no Rio de Janeiro, foi levado para Boa Vista. Estas e várias outras iniciativas são louváveis e terão continuidade. O trabalho das ministras Nísia Trindade (Saúde) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas) está sendo exemplar. Mas precisamos também exigir a remoção dos invasores, mesmo que seja necessário fazer uso de contingentes das Forças Armadas. E também que haja a responsabilização e a punição de todos os envolvidos neste quadro de horror que lá foi constatado. É sem anistia, com o rigor da lei sendo aplicado. Devemos isso não apenas aos sobreviventes, mas a todos os que foram massacrados; para as 570 crianças que por lá morreram; e para mostrar que a Nação brasileira não concorda com essa postura fascista de menosprezo à vida e à dignidade das pessoas.

P.S.: Em 2021 Bolsonaro esteve visitando uma área de garimpo ilegal, dentro da terra indígena Raposa Serra do Sol, no Estado de Roraima. Participou de uma confraternização com os invasores, a quem prometeu apoio. Ele pagou as despesas da festa usando o cartão corporativo, conforme foi confirmado a partir da quebra do seu sigilo de cem anos. Custou R$ 163 mil aos cofres públicos.

Também em 2021, uma empresa ligada ao filho O4 (Renan Bolsonaro), recebeu do Governo Federal, no prazo recorde de dois dias, licenças para mineração em vários pontos do país. As áreas juntas somam um total de 6.868,85 hectares. A organização doou para Renan um carro elétrico, estando a situação agora sob investigação da Polícia Federal.

27.01.2023

Precário e estarrecedor: esse é o estado de saúde com a qual a população yanomami foi encontrada

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Depois, tem o bônus musical: Cio da Terra, canção composta por Milton Nascimento (que a canta neste áudio), com letra de Chico Buarque.

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De Milton Nascimento e Chico Buarque, Cio da Terra