O MANUSCRITO VOYNICH
Ele foi descoberto no ano de 1912 pelo livreiro bielorrusso Wilfrid Michael Voynich, em meio a centenas de livros antigos, em uma biblioteca jesuíta existente na Villa Mondragone, Itália. Tem 240 páginas e deve ter sido escrito no Século XV – entre 1401 e 1500, portanto. O seu conteúdo incompreensível lhe valeu a alcunha de “o livro que ninguém consegue ler”. E, também por sequer ter um título traduzível, passou a ser chamado de Manuscrito Voynich, referindo o nome do seu descobridor.
A primeira vez que foi mostrado ao público foi em 1915. A partir dela e talvez ainda antes disso, o codex foi submetido a vários linguistas e criptólogos famosos, mas ninguém conseguiu decifrar o seu conteúdo. O alfabeto é um pouco diferente de tudo o que se conhece. A língua também não tem sentido algum, considerando todas as conhecidas, sejam elas mortas ou ainda faladas, tanto no Ocidente quanto no Oriente. O que se pode afirmar, sem chance alguma de erro, uma vez que depende apenas de observação, é que o manuscrito está ricamente ilustrado. Mostra grande número de imagens que vão desde plantas até corpos celestes e humanos. Isso pode apontar quais assuntos aborda, mas o seu conteúdo exato mesmo assim é enigmático.
Explicando melhor o termo que usei no parágrafo anterior, um codex se assemelha a um livro, mas é um precursor seu. Na verdade, se trata de um tipo diferente de veículo, composto de folhas dobradas e costuradas, todas ao longo de uma aresta. Existe desde o Século I. Este é feito de velino, nome dado a um pergaminho mais fino. E neste especificamente algumas páginas estão faltando, como se tivessem sido arrancadas. O próprio nome manuscrito é muito bem empregado, uma vez que serve para identificar todo aquele documento que é redigido a mão, seja uma escrita original ou uma cópia. Vem do latim, com a fusão dos termos manu (mão) e scriptus (escrever). Em geral eles não eram feitos com o objetivo primeiro de publicar, tornar do conhecimento dos outros o seu conteúdo. A intenção primeira seria pessoal ou de registro histórico.
Houve um tempo em que se chegou a suspeitar tratar-se de uma fraude o Manuscrito Voynich. Mas, junto a ele, quando foi adquirido, estava uma carta escrita por acadêmico da cidade de Praga, encaminhada para um jesuíta de Roma com o pedido de que tentasse decifrar o texto. E essa pode ser comprovada como autêntica, sendo de 1666. A partir dela, alguns pesquisadores sugeriram que o documento em algum momento pertencera ao imperador Rodolfo II, que viveu de 1552 até 1612. Sob seu comando esteve o Sacro Império Romano-Germânico, sendo que esse líder ficou conhecido também por seu fascínio por tudo aquilo que se ligava às ciências ocultas. Entretanto, mesmo que ele tenha possuído o codex isso não aponta para a autoria da obra. Outra comprovação de que se trata de algo autêntico veio com uma análise físico-química do velino e das tintas, que apontou para ter ele sido produzido entre 1404 e 1438.
Mais recentemente se buscou ajuda da matemática e da física para que uma tradução fosse obtida. Inclusive pesquisadores brasileiros estiveram contribuindo para tanto: pessoal especializado, em São Carlos, interior de São Paulo, se associou a colegas da Alemanha. Mesmo inconclusivo, o trabalho feito com medidas avaliativas indica que o texto tem sim uma estrutura sintática e que transmite alguma mensagem. Eles buscavam, através de estatísticas, identificar a frequência com que palavras-chave aparecem no texto, como forma de obter sentido por associação. Isso pode ser feito em conteúdos longos, de tal forma que se determina sua organização e encontra conexões. Algo que com outros documentos alcançaram sucesso tal que resultou em uma tradução, mesmo que rudimentar, mas com o Manuscrito Voynich não. Hoje ele se encontra na Biblioteca Beinecke de Livros Raros, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. E segue sendo um grande mistério.
09.04.2024
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