O NAVIO ENCONTRADO NO DESERTO

Uma descoberta surpreendente e lucrativa ocorreu no ano de 2008, em plena área desértica existente da localidade de Oranjemund, na região de Karas, no sudoeste da Namíbia. O nome da cidade vem do idioma alemão, significando Boca do Orange, uma vez que ela fica na margem norte da foz do Rio Orange, na fronteira com a África do Sul. Seus pouco mais de 4.000 habitantes se dedicam, em sua maioria, à mineração de diamantes. Mas o achado estava mesmo era repleto de ouro.

O vento movimentou dunas de areia no deserto existente ao longo da costa e descobriu parcialmente os restos de um navio português que havia afundado mais de 500 anos atrás. Obviamente, quando ocorreu o naufrágio ele navegava pelo Atlântico. Ele era o Bom Jesus, que fazia o caminho ligando Índia e Europa, carregado de tesouros, entre os quais lingotes de ouro e de cobre. As autoridades locais, depois de alertadas pelos mineradores que trabalhavam nas proximidades, enviaram uma equipe de especialistas para desenterrar todos os destroços. Também foram encontradas mais de duas mil moedas de ouro. Esse tesouro teve uma avaliação de aproximadamente R$ 13 milhões.

A explicação para o estranho fato de o navio ter sido encontrado alguns quilômetros dentro do continente é um fenômeno climático. Ao longo dos anos, houve o recuo das águas costeiras. Então, o local onde o navio naufragou, que era bastante próximo da praia, terminou se tornando uma ampliação da área do deserto. Ou seja, o deserto avançou sobre um espaço que antes era do oceano. O inusitado desta ocorrência foi ter sido ele encontrado fora do fundo do mar. Entretanto, não são poucos os navios que afundaram naquela região em tempos passados. Aliás, o local é conhecido como Costa dos Esqueletos, mas não por causa do número não determinado de marinheiros que podem ali ter perdido suas vidas. O motivo é a existência de muitos ossos de baleias e de focas, que cobrem grande extensão do território.

A razão principal dos naufrágios está nas correntes oceânicas, que não são nada favoráveis, somadas aos ventos fortes e à formação bastante fácil de neblina. Estima-se que mais de mil navios dos séculos 19 e 20 tenham sido perdidos por lá. E seguem ocorrendo casos na atualidade, apesar de todos os recursos modernos. Em 2018, por exemplo, o navio de pesca japonês Fukuseki Maru encalhou e foi depois tragado pelo mar, a dois quilômetros deste ponto fatídico. Felizmente os 24 tripulantes foram todos resgatados a tempo.

O deserto, que é um dos mais antigos do mundo – pouco anterior aos que existem no Chile e no Peru –, com mais de 55 milhões de anos, enfrenta média de 300 dias por ano de sol tão intenso que a temperatura atinge facilmente 60 graus Celsius durante o dia. Nas noites de inverno isso cai para 15 graus negativos, com a mesma facilidade. Ainda assim, até o século passado ele era habitado pelo povo indígena San, de caçadores-coletores. Eles já estavam por lá milhares anos antes do nascimento de Cristo, caçando e vivendo de um plantio bastante pobre. Hoje estão por lá hienas, leões e elefantes, além de muitos répteis e insetos. Moradores para os quais com certeza a riqueza descoberta no Bom Jesus não faria diferença alguma.

02.12.2022

Restos do navio Bom Jesus, descoberto no deserto. E mostra das moedas encontradas

O bônus musical de hoje é uma dança tribal do Makgona Ngwao, um grupo cultural da Namíbia.

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QUEM CONHECE TRISTÃO DA CUNHA?

A sua autonomia praticamente equivale àquela de um país independente, apesar de fazer parte de um território ultramarino britânico, junto com Santa Helena e Ascensão. As três ilhas se localizam no sul do Oceano Atlântico, mais ou menos a meio caminho entre o extremo sul do Brasil e a África do Sul. Sua população total não chega a 300 pessoas, que vivem da agricultura – plantam batatas –, da pesca e do trabalho na única indústria local, uma fábrica que processa lagostas.

Existem uma escola infantil, um hospital minúsculo, duas igrejas e uma piscina, como locais públicos. Também há uma loja e uma agência dos correios. Além disso e das residências, os moradores também têm uma casa de palha que serve como museu, apesar de raramente ocorrerem exposições. Uma rádio FM e um serviço bastante caro de internet são lá encontrados. O território todo fica ao lado de um pico vulcânico. E a terra arável pode ser vista totalmente em uma única foto aérea.

Não há aeroporto e o acesso à ilha, desse modo, pode ser feito apenas por barcos, que utilizam um porto extremamente simples. A terra mais próxima está em Santa Helena, cerca de dois mil quilômetros adiante. Quem parte da Cidade do Cabo, na África do Sul, leva três dias para chegar em Tristão da Cunha. E por lá pode permanecer ao longo do dia, mas à noite não pode ficar em terra. Ou seja, precisa dormir no próprio barco. Isso é um dos sinais que evidenciam que os residentes não querem muito a companhia de ninguém. Por lá não há quase nada, mas eles não se importam com isso. Desde que continuem sozinhos.

A última erupção do vulcão local foi em 1961. Quando as evidências se tornaram mais graves, toda a população foi transferida para Calshot, no Reino Unido. Tão logo o vulcão se estabilizou, todos retornaram para suas casas e suas vidas mais do que pacatas. Inacreditável é que nos seus 207 quilômetros quadrados de área, eles possuem tecnicamente uma capital, que se chama Edimburgo dos Sete Mares e fica situada numa fajã – êta palavra interessante – na extremidade noroeste da ilha. As fajãs são pedaços de terra plana, geralmente cultiváveis e com uma extensão pequena, que resultaram do derramamento de lava vulcânica sobre o mar ou por sedimentos que se desprenderam de encostas.

Importante salientar que Tristão não é um homem muito triste, coisa assim de aumentativo. É apenas um nome próprio masculino, sendo de um dos Cavaleiros da Távola Redonda, aquela do Rei Arthur. Também aparece em obra de Wagner, como um dos personagens principais de Tristão e Isolda. Esse especificamente, o da Cunha, era um explorador português e comandante naval, nascido em 1460. Ele foi um dos cavaleiros do conselho de Dom Manuel I, sendo nomeado vice-rei e governador da Índia Portuguesa, cargo que não chegou a ocupar em função de ter enfrentado problema físico grave, uma cegueira temporária.

Foi ele que em 1506, no comando de uma frota de dez navios de carga, “descobriu” esse grupo de ilhas remotas. Mesmo que o mar revolto na ocasião sequer tenha permitido desembarque, ele se encarregou de batizar a principal delas com seu próprio nome, num surto da mais absoluta modéstia. Sobre as três ilhas: Santa Helena foi o local da morte de Napoleão, em 1821, e ela se tornou colônia da coroa britânica em 22 de abril de 1834. Em 1922 foi a vez de Ascensão ser anexada e, por fim, em 12 de janeiro de 1938 isso ocorreu com Tristão da Cunha.

Talvez como recurso de ilusão, que os ajude a acreditar que ainda são um grande império, os britânicos mantêm, além da ultrapassada família real, diversas áreas sob sua jurisdição no planeta. São 14 no total os chamados Territórios Ultramarinos Britânicos (United Kingdom Overseas Territories – UKOTs). Todos como monumentos que apontam para o passado e jamais para o futuro.

09.09.2022

Vista aérea de Tristão da Cunha

O bônus de hoje oferece Dança da Solidão, música de Paulinho da Viola, na voz de Júlia Rocha. Ela está acompanhada por Henrique Sete Cordas (violão), Fabiano Lie (cavaquinho) e Átila Souza (pandeiro)