Na minha opinião o critério que é determinado há décadas pelo Comitê Olímpico Internacional para designar a classificação de cada país no quadro de medalhas nas edições das Olimpíadas, não é o mais correto. Ele estabelece que se deve considerar primeiro o número dos ouros conquistados, sendo as de prata apenas desempate, com as de bronze seguindo a mesma lógica. Ou seja, trata-se da supervalorização do êxito absoluto, como se alcançar a segunda ou a terceira colocação fosse um detalhe insignificante. Agora, sendo isso certo ou não, a verdade é que foi aceito e segue sendo oficial para quase todos.

Disse “quase” porque existe uma nação no mundo que acredita que toda e qualquer disputa tem que ter suas regras respeitadas, exceto quando isso a pode retirar da liderança. E ninguém por lá tem constrangimento algum em adaptar as especificações, mesmo o resto do planeta sabendo que isso apenas lhe oferece um brilho falso, muito distinto do ouro das medalhas. Falo dos Estados Unidos, que outra vez essa semana adotou esta medida antipática e totalmente sem noção. A de se autoproclamar o melhor a partir da soma das medalhas distintas.

Em 31 de julho a China ocupava o topo com oito medalhas de ouro, seguida pelo Japão (7) e pela França (6). Com um início pior do que o esperado, até porque ainda não se tinha o início das competições de atletismo, nas quais eles devem pontuar muito bem, estavam os EUA apenas em sétimo, com quatro ouros. Foi o que bastou para que eles passassem a anunciar um ranking paralelo, onde lideravam, com um total de 31, somadas com as de prata e bronze. Resta esperar para ver se essa classificação será mantida até o final das competições ou se, na hipótese que assumam a ponta também no critério que o mundo adota, eles revejam a postura. O que não conseguirá mais apagar a arrogância, que está longe de ser pontual e valendo só para esse assunto.

Na Olimpíada de 2008, disputada na China, eles inauguraram a prática. Era inaceitável ficar atrás dos “comunistas chineses”, que ganharam 48 medalhas de ouro contra 36 dos estadunidenses. Então esta mágica foi feita e nos relatos ocidentais ocorreu a inversão no pódio, uma vez que no total deu 112 a 100 para o “grande irmão do norte”. Assim, para o consumo interno deles, o vencedor mudou de continente.

Consideradas as últimas quatro edições dos jogos, apenas em duas delas o Brasil iria ter sua colocação final alterada, caso adotasse esse recurso. Lá em Pequim ficamos na 23ª posição, com três medalhas de ouro e 17 no total. Mas, ganharíamos oito posições, ultrapassando por exemplo Quênia, Jamaica e Etiópia. Em 2012, nos jogos disputados em Londres, onde terminamos em 22º com desempenho idêntico ao de quatro anos antes (três e 17), ultrapassaríamos sete países e seríamos ultrapassados por um. Mas, se deixaria para trás “potências” como Coréia do Norte, Irã e África do Sul. No Rio de Janeiro (2016), onde ganhamos sete ouros e 19 no total, uma neutralidade absoluta: permaneceríamos na 13ª posição, com uma perda e um ganho, pois se passaria da Hungria e o Canadá nos cruzaria. Por fim, em Tóquio (2020) – jogos que ocorreram em 2021 devido à pandemia –, tivemos sete medalhas de ouro e 21 no total, com o melhor desempenho de toda história, não mudando a nossa 12ª colocação independente do critério adotado.

O Espírito Olímpico (*) em tese é uma sensação que une ou deveria unir todos os povos em torno de uma disputa que preserva todas as bandeiras, mas abandona as armas. Algo que propiciaria a união das nações na busca da excelência, da amizade e do respeito. A superação dos limites com o devido valor sendo dado à paz e à ética. Desde seus primórdios um lema é mantido: “Citius, Altius, Fortius” (Mais Rápido, Mais Alto, Mais Forte), sendo ele visto como inspiração na busca para se atingir a humanidade plena, algo acima de quaisquer diferenças. E o mais básico que isso inclui, nos jogos em si, é saber perder. Até porque, no esporte assim como na vida, todos nós perdemos mais vezes do que ganhamos, fato que contribui para dar especial valor e sabor para as vitórias que se alcança.

02.08.2024

(*) Ele foi muito mais abalado, este ano, por uma decisão do COI, que proibiu Rússia e Bielorrússia de participarem nos jogos, devido à invasão da Ucrânia, ao mesmo tempo em que manteve Israel, que invadiu a Palestina e massacra sua população civil. 

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O bônus de hoje é um passeio no tempo. Primeiro relembramos a música One Moment In Time (Um Momento no Tempo), que Whitney Houston gravou especialmente para os Jogos Olímpicos de Seul (Coréia do Sul), em 1988. O sucesso da canção foi tanto que alcançou o primeiro lugar nas paradas da Alemanha e do Reino Unido, além de chegar ao Top 5 da Billboard, nos Estados Unidos e invadir o mundo todo. Depois é a vez de Reach (Alcançar), da cantora e compositora cubana Gloria Estefan em parceria com Diane Warren, que foi uma das músicas oficiais dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. Com ela Gloria chegou a ser indicada ao Grammy no ano seguinte, disputando na categoria de Melhor Performance Pop Feminina.


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2 Comentários

  1. Tiraram justo a Rússia, que poderia ser um problema em algumas modalidades em que ela é muito forte (ginástica artística, por exemplo). Achei errado penalizar os atletas dos dois países e manterem Israel.

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