Evidente que não posso assegurar que isso seja verdade. Entretanto, consta que certa vez foi perguntado a Galileu Galilei (1564-1642) quantos anos ele tinha. “Entre oito e dez”, respondeu ele, para surpresa do interlocutor. “Como assim, se o senhor já tem barba e cabelos brancos?”, insistiu o homem. “Porque tenho na verdade apenas os anos que me restam de vida, uma vez que os já vividos não os tenho mais”, explicou o astrônomo, físico e engenheiro florentino. E, diante da surpresa do outro, concluiu dando um exemplo: “Do mesmo modo, não tenho mais as moedas que já gastei, mas apenas as que ainda estão comigo”.

Esse ensinamento, tendo ou não ocorrido tal diálogo, é um fantástico modo de explicar a necessidade de valorizarmos o tempo que nos resta na vida. Ele tentou dizer que não adianta ficar lamentando aquele que já passou, uma vez que muito mais proveitoso é nos dedicarmos a algum tipo de vida útil, tanto para nós quanto para os outros. Lamentações e remorsos são pesos compreensíveis, mas inúteis, desnecessários. Isso porque não vão de modo algum alterar o passado, mas ficam causando problemas no presente. E tirando o nosso foco do futuro, que é o tempo que escoa na ampulheta, inexoravelmente.

Bem mais recente do que a recomendação de Galileu, um texto que foi atribuído ao espírito Emmanuel, psicografado por Chico Xavier, também nos teria lembrado algo semelhante. “Embora ninguém possa voltar atrás e ter outro começo, qualquer um pode começar de novo e ter um novo fim”. Uma verdade incontestável, mesmo que muitas vezes ela passe a todos despercebida. Esse é um conselho clássico sobre a necessidade de se aproveitar melhor o tempo. Um chamamento para que se assuma nossa responsabilidade de cocriadores, sinta-se ser intransferível se honrar a centelha divina que é a nossa vida.

Eu mesmo passei a imaginar esse cronômetro digital, que segue numa triste contagem regressiva, tendendo a zero. Com um otimismo um tanto maior do que o de Galileu, tenho que dizer e me contentar talvez com mais uns dez ou 15 anos. Com essa segunda alternativa eu passaria dos 80, iria além da expectativa de vida média dos brasileiros, que hoje está em 77 anos. Ela tem melhorado muito com o correr do tempo e com a adoção de medidas sanitárias, o surgimento de vacinas, o avanço das ciências da saúde, as descobertas da ciência tornando os remédios muito mais eficazes. Em 1960, para se ter uma ideia, era de apenas 48 anos. De um modo simplista, se pode afirmar que ao longo de 62 anos ganhamos de presente 29. Quase a metade, algo expressivo se formos considerar que, para quem chega ao final da vida, quaisquer 24 horas seriam recebidas de braços abertos. Se a pessoa estiver com saúde e lucidez, evidente.

A situação poderia ainda estar melhor, não fosse pelo imenso retrocesso que sofremos nos últimos seis anos. O negacionismo, que reduziu de forma drástica a cobertura vacinal; o desmonte de políticas públicas que priorizavam pessoas em situação de vulnerabilidade; o fim do Mais Médicos; o aumento da mortalidade infantil devido ao descaso; a descontinuidade da merenda escolar; cortes profundos no programa Farmácia Popular e outras tantas ações danosas e omissões criminosas. Isso tudo no mínimo freou a velocidade da melhora, reduziu o futuro de muitos, matou a esperança de tantos. Coisas que, felizmente, começam a ser revertidas.

Sobre o que escrevi acima, imaginando o tempo que talvez me reste, asseguro que não representa o meu desejo. Por mim, fico na torcida para que o juiz seja generoso nos meus acréscimos. Coisa tipo Copa do Mundo do Catar, quando aqueles outros árbitros levaram tudo ao extremo. Se der, não fico triste. Desde que não incomode ninguém, desta vida só saio morto. E provavelmente contra a minha vontade

06.02.2023

Galileo di Vincenzo Bonaulti de Galilei, mais conhecido como Galileu Galilei

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