Muita gente jura até hoje que essa foi a melhor banda de rock existente no Brasil, se não em todos os tempos, pelo menos ao longo dos anos 1970. O Terço, exageros à parte, com certeza merece uma atenção especial de quem se debruça sobre a trajetória deste gênero musical em nosso país, pois de fato fez história. Dois álbuns seus são fundamentais:  Criaturas da Noite, de 1975, e Casa Encantada, lançada um ano depois. O grupo, que teve algumas alterações ao longo da existência, começou com Jorge Amiden (guitarra), Sérgio Hinds (baixo) e Vinícius Cantuária (bateria). A ideia era batizar o grupo de Santíssima Trindade, mas como previam atritos com a Igreja Católica, foram prudentes e aliviaram um pouco. Mesmo sendo apenas três integrantes, já vinham de dois grupos diferentes, o Joint Stock Co. e o Hot Dogs.

Fortemente influenciados pelo que era feito na Inglaterra, levavam o seu público a uma reação instantânea com as apresentações que faziam em teatros e ginásios. Isso que não existia ainda o apelo e a propagação instantânea de performances que as redes sociais permitem hoje. Na época ir aos shows de rock era também uma forma de protesto e uma válvula de escape. Raros momentos nos quais a aglomeração não era reprimida pela ditadura ainda vigente. Mas, fazer isso enquanto assistiam música de qualidade sem dúvida era muito melhor.

Bom é que agora, além de ainda podermos ver alguns vídeos de relativa qualidade, feitos na época, se pode também ler sobre a história deles. A Editora Ibrasa lançou, ainda no ano passado, O Terço – 50 Anos, livro que foi escrito a quatro mãos por Sérgio Hinds e pelo pesquisador e jornalista Nélio Rodrigues. Esse trabalho foi mais um dos tantos frutos da pandemia, que propiciou recolhimento criativo a muita gente. E nele está relatado com detalhes uma história sonora que começou ainda com a MPB, antes de ingressar no universo do rock progressivo. A leitura oferece um passeio fundamental por detalhes relevantes, como fatos e datas, que ajudam a compreender não apenas o que pensava e fazia a banda, como também um pouco do momento histórico que se vivia.

A primeira gravação veio ainda em 1970, misturando música clássica com folk e rock. Em 1972 houve uma mudança, em termos de sua sonoridade, com o lançamento de um compacto pesado e as músicas Ilusão de Ótica e Tempo é Vento. E a trajetória inicial foi se firmando com a participação em muitos festivais. Com Velhas Histórias, de autoria de Renato Corrêa e Guarabyra, venceram um deles em Juiz de Fora. Em outro, esse um universitário, terminou em segundo com Espaço Branco, de Flávio Venturini – que mais tarde entraria para O Terço – e Vermelho. E no mais concorrido de todos, o Festival Internacional da Canção (FIC), a banda conseguiu um terceiro e um quarto lugares, com Tributo ao Sorriso e com O Visitante, respectivamente, em duas de suas edições. Nessa época a mídia especializada já não cansava de lhes tecer justos elogios.

Ao longo de sua história aconteceram entradas e saídas constantes, em termos de integrantes. Nomes como Cezar de Mercês, Sérgio Magrão, Luiz Moreno, Sérgio Kaffa, Ivo de Carvalho, Ruriá Duprat, Zé Português e Franklin Paolillo foram se revezando, alguns em mais de um momento diferente. Muitos tocaram, antes ou depois, com grandes nomes da música brasileira, como Marcos Valle, Caetano Veloso, Beto Guedes e Elis Regina. Além disso, a banda 14 Bis surgiu a partir de alguns deles. O último dos seus 11 álbuns gravados em estúdio, Tributo a Raul Seixas, foi produzido em 1999. E os seus cinco álbuns ao vivo foram fechados com O Terço 3D, de 2015, oito anos depois do anterior.

27.09.2022

O Terço: banda tem grande importância na história do rock brasileiro

O bônus musical de hoje é Hey, Amigo, composição de Sérgio Hinds e Jorge Amiden, uma das faixas do álbum Criaturas da Noite.

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