A inveja e a admiração são como as duas faces de uma mesma moeda, ambas refletindo sentimentos que expressamos diante de um outro e que só em função dele mesmo podem sobreviver. Explicando melhor, inveja e admiração só existem quando projetadas em alguém e jamais por vida própria. Estava aqui pensando nisso e nem sei qual a razão. Apenas ócio, talvez. Mas, já que comecei vou tentar ir adiante.
A inveja é desejo de posse exclusiva; a admiração tem possibilidade de compartilhamento. Quando se inveja, se quer que a condição do outro seja nossa e não dele. Quando se admira, se deseja que as qualidades que se vê em alguém possam iluminar as nossas próprias, sendo bom exemplo e motivação. Quem inveja quer ser o invejado; quem admira gostaria de ser como o admirado. Mesmo assim, esses sentimentos são meio que irmãos, estando a diferença na carga emocional que carregam, que pode ser positiva ou negativa.
Existem, claro, as invejas genéricas, não maliciosas e que se confundem com a admiração. Essas em geral não são por uma pessoa, mas por aquilo que ela representa. Sempre invejei, na juventude, quem tinha toda aquela habilidade necessária para jogar um futebol de qualidade. Mas nunca desejei ser eu mesmo um Zico ou um Falcão: a mim bastaria não estar na categoria dos “pernas-de-pau”. Por eles e outros “craques” mantenho admiração, mesmo que por alguns dos demais apenas pelo que faziam dentro das quatro linhas e nunca pelo seu comportamento fora delas. Não foram poucos os gols contra que tantos deles marcaram ao longo de suas vidas, apoiando causas e pessoas execráveis.
Há admirações que podem parecer incontestáveis, como se fosse uma prova a desmentir Nélson Rodrigues e a sua afirmação de que “toda a unanimidade é burra”. Quase não se teve tempo para admirar o Papa João Paulo I, que ficou apenas 33 dias no comando da Igreja Católica, mas quem poderia não gostar do seu sorriso sincero como o de uma criança? Temos ainda o pacifista indiano Mahatma Gandhi; a genialidade humilde de um Einstein, com sua língua de fora eternizada em fotografia; a luz suave do médium Chico Xavier, de Madre Teresa de Calcutá – que na verdade nasceu na Macedônia – ou de Dalai Lama; a inteligência de Marie Curie; a inquebrantável vontade de um Nelson Mandela, na sua luta por igualdade; a criatividade visionária de Leonardo Da Vinci; a enorme sensibilidade de uma Cora Coralina. Esses são alguns dos tantos nomes que a percepção comum poderia, quem sabe, apontar.
Outras admirações, no entanto, são de fato inexplicáveis. Mas, fazer o quê? Sempre existirá alguém que prefira Ustra ao invés de Arns; Joseph Goebbels no lugar de Paulo Freire; Josef Mengele e não Nise da Silveira. O que representa dizer a tortura ao invés da proteção e acolhimento; a propaganda doutrinária e não a educação inclusiva; os experimentos brutais com seres humanos sendo cobaias ao invés da atenção e do cuidado respeitoso a doentes mentais, por meio da arte. Mas, enfim, são por situações como essas exemplificadas em três comparações que se pode dar razão ao que disse Lulu Santos em uma das suas canções: “Assim caminha a humanidade/Com passos de formiga e sem vontade”.
Admito que todos os exemplos citados, nos dois parágrafos acima, são listas rápidas, incompletas e minhas, estando totalmente sujeitas a “chuvas e trovoadas”. Discordâncias quanto às escolhas feitas não desqualifica em nada serem usadas, seja na íntegra, com alguns acréscimos ou retirada de nomes. Acho também que podemos listar admirações e reconhecimentos coletivos. Aos professores, profissionais da saúde, cientistas, líderes religiosos verdadeiramente desinteressados e muito mais. Não faz mal algum vibrarmos com o conhecimento e a ciência; com vitórias e conquistas alheias no esporte, na economia, na busca da paz e na valorização da vida. Porque esse é um caminho que nos humaniza. E estamos precisando muito de humanidade.
21.05.2022

O bônus musical de hoje é Admiração, com Paulinho Moska. Ele é um cantor e compositor carioca, cujo nome de batismo é Paulo Corrêa de Araújo.
ESPECIAL PARA ADMIRADORES
ELVIS PRESLEY: História, Discografia, Fotos e Documentos, de Gillian Gaar, com tradução de Rosemarie Ziegelmaier
(Capa dura – 120 páginas mais anexos – parcelado em 9 vezes)
Item indispensável para colecionadores e fãs em geral, a caixa Elvis Presley traz um livro em edição de luxo que narra a trajetória da maior estrela do rock’n’roll acompanhado de 29 reproduções de documentos raros. Dividido em capítulos ilustrados com dezenas de fotos marcantes da carreira do cantor e ator nascido no Mississippi (EUA), o volume apresenta sua discografia, filmografia, a passagem pelo exército norte-americano, fatos e curiosidades, as turnês e sua influência no mundo fashion, além de um passeio por dentro da mansão Graceland, cujos arquivos exclusivos proporcionaram os belos artigos de memorabilia incluídos nesse volume.
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Seguramente tua lista é incompleta, mas não tira o valor do que apresentaste, ela nos leva a pensar na complexidade da vida. E nos desafios que temos pela frente, ainda mais este ano.
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No fundo, qualquer lista que se faz é incompleta. E a beleza da vida está na sua complexidade. O que a gente deveria era tornar ela mais simples e agradável, mesmo quando tem tanta gente puxando no sentido contrário.
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Compartilhado no blog, sucesso. Tenho admiração por vc. A força, tudo depende do lado que se usa. O amor e a fé podem ser o poder de maior dano nas mãos excusas.
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Sem dúvida, Edson. Nas mãos erradas, tudo pode causar dano.
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Rs, o mal não está nas coisas, está em nós. “Um Jedi usa a força para conhecimento e defesa, nunca para ataque.” Mestre Yoda
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