A proposta dos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) é clara e objetiva: plantar 100 milhões de árvores em nosso país, ao longo de dez anos. E não se trata apenas de um projeto: estão realizando isso na prática, tendo acontecido um grande esforço para a concretização disso já na última semana de setembro. A iniciativa faz parte de um programa ainda mais abrangente e corajoso, denominado Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis, que foi deflagrado no início de 2019.
A jornada acontecida dias atrás durou uma semana e tinha inclusive um slogan, uma denominação. Plantemos a Resistência: Contra o Genocídio e os Despejos foi o nome dado à etapa. Ela pretendia ser uma resposta, longe de desejar ser a única, contra o desmatamento recorde e contra as queimadas criminosas que assolam nosso país, principalmente na Amazônia e no Pantanal, estimuladas também pela política praticada pelo governo Bolsonaro. E foi estabelecida em dois eixos de trabalho, um deles com o plantio massivo de mudas nas áreas ameaçadas de despejo, outro com a elaboração de bosques em memória às pessoas mortas pela pandemia do coronavírus. Ainda aproveitaram essa mesma oportunidade para lançar materiais impressos sobre a agroecologia, bem como realizar movimentações em redes sociais e alguns atos, esses todos no modo on-line.
Com o plantio das árvores o desejo é contribuir na recuperação de áreas degradadas. Também conseguirão, com isso, estabelecer agroflorestas e quintais produtivos, com manuseio não agressivo permitindo acesso aos recursos. É o caminho inverso ao proposto pela atual destruição que o agronegócio tem causado, com derrubadas indiscriminadas, implantação da pecuária extensiva e da monocultura, além da aplicação intensa de veneno sobre as plantações e o solo. Tudo trazendo o empobrecimento mineral da terra, a contaminação das águas, o extermínio de muitos animais e até de insetos úteis. Um dos exemplos deste último caso está na redução drástica do número de abelhas, o que prejudica não apenas a produção e o consumo de mel e própolis, mas em especial o essencial trabalho de polinização que elas fazem.
O mesmo MST, demonizado pela direita e pela mídia, hoje é o maior produtor brasileiro de arroz orgânico, que segue sendo comercializado por preço justo direto para a população, apesar do encarecimento do produto industrializado, que foi causado pela falta de uma política de estoques reguladores – em Porto Alegre não é difícil de se conseguir comprar (ao final do texto informo onde encontrar). Do lado oposto está justamente quem deveria conduzir o país de modo simultâneo ao desenvolvimento e à preservação, mas não faz nem uma coisa nem outra. Ao contrário: mantêm o ministro que confessa publicamente querer aproveitar a distração da imprensa com a pandemia mundial, para “passar a boiada”, arrasando com as políticas públicas de proteção, com os mecanismos de regulação, entregando de bandeja as nossas riquezas. A floresta intacta e tudo o que contém, em termos de flora e fauna, mananciais de água, bem como o equilíbrio climático que oportuniza, vale muito mais do que os bois depois sobre o pasto pobre.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) confirma com imagens que a destruição é recorde? Vamos trocar a direção técnica do órgão. Garimpos ilegais estão sendo combatidos por fiscalização? Retirem os fiscais das áreas. Madeireiros derrubam árvores centenárias sem parar, para comercializar ilegalmente a madeira? Não façam mais barreiras nas estradas de acesso. Indígenas tentam se organizar contra a invasão das suas terras para os fins acima citados? Vamos deixar que a contaminação por coronavírus ajude a reduzir ainda mais a população, não enviando qualquer auxílio ou tratamento. ONGs sérias são entrave para o avanço genocida? Se começa por chamar todas de “câncer”, durante entrevistas, para manipular a opinião pública e justificar o incentivo da sua substituição por “missões religiosas”.
Talvez devesse ser dado mais ênfase para as consequências dessa devastação. O clima no Rio Grande do Sul, por exemplo, será alterado a partir do momento que a floresta amazônica for sacrificada. O regime de chuvas vai mudar, a temperatura média deve crescer, com isso trazendo como consequência perdas econômicas muito grandes para nosso Estado. Haverá desertificação e perda de qualidade de vida. Incrível é que os “mocinhos” estão permitindo isso tudo. Atiram com os dedinhos para todo lado, mas não acertam nada e vitimam também a natureza. E os “bandidos”, esses se organizam, mostram empatia e preocupação real com as pessoas e com o futuro. Assim, saem a plantar as árvores que, mesmo não sendo o suficiente para solucionar o problema, podem atenuar. Ou pelo menos servir de exemplo.
03.10.2020
Adendo: Para encontrar arroz orgânico de excelente qualidade e por preço justo, basta visitar a Feira Ecológica do Bom Fim, que ocorre aos sábados, entre 7 e 13 horas, na José Bonifácio. A banca tem o número 183, ficando quase na esquina com o Colégio Militar.

Bônus: Clip da música Queimadas, do mestre de carimbó Lourival Igarapê, com a Banda Lauvaite Penoso, grupo que busca reverenciar a sabedoria popular e a poesia urbana na Amazônia.
Muito bom!
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Obrigado, Cristina!
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