A primeira entre tantas coisas difíceis de se entender, quando algum iniciado fala conosco, simples mortais, sobre física quântica, acredito que seja essa história de existirem dois tipos de estudos distintos sobre um assunto que deveria ser único. Se o mundo material é um só, como convivem uma física clássica e uma quântica? Isso me intrigava e ainda intriga, na verdade. Mas uma pessoa simplificou para mim esse primeiro e básico passo rumo à compreensão. Nas palavras desse amigo iluminado, tudo o que vemos, o macro, que vai desde os objetos inteiros diminuindo rumo ao átomo, é tratado tradicionalmente pela clássica. Mas quando dividimos a matéria em algo ainda menor, naquilo que forma o átomo, então mergulhamos na quântica. E passamos a falar de prótons, nêutrons, elétrons e outras partículas que os constituem, os quarks, e ainda mais e mais adiante.

Mesmo assim, poderíamos seguir perguntando: por que a mesma física não continua valendo? Há necessidade de um segundo tipo de estudo, só por causa da dimensão do que é estudado? A resposta dessa vez é simples: existe sim essa necessidade, porque o comportamento da matéria muda de modo absurdo. Toda a lógica que parece mover a física clássica passa a ser subvertida. O que é determinístico na matéria vista macroscopicamente, termina substituído pelo probabilístico na matéria vista microscopicamente. Um ótimo exemplo é aquela máxima de que um corpo não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo: isso é desmentido, uma vez que pode sim. O que não é apenas um detalhe: a sua comprovação colocou abaixo convicções inclusive em outros campos da ciência e da filosofia. Porque a simples ideia de que a matéria não é tão concreta e sólida quanto sempre pareceu, que o espaço e o tempo são simples ilusões, tem inclusive implicações na nossa noção de espiritualidade.

Esse conhecimento aflorou ainda no começo do século passado, quando estudos aprofundados sobre a luz e sua natureza começaram a mostrar que não se sabia de tudo, como se imaginava. Porque se percebeu que a luz se comportava ao mesmo tempo como matéria e como onda, coisas consideradas distintas até então. A onda é um movimento, algo fluído. A matéria ao contrário, substância concreta e precisa. Mas, havendo na luz essa convergência e dualidade, não seria possível supor que o mesmo acontecesse com outras manifestações da matéria? E a resposta outra vez foi positiva, com demonstrações matemáticas e experimentais. Com isso o homem percebeu o imperceptível, reviu o que seria energia e se apropriou de conhecimentos novos, como a existência da antimatéria.

Já era estranho compreender, mesmo sendo absolutamente verdadeiro, que existe mais espaço vazio do que preenchido na matéria sólida. A tampa de madeira da mesa da nossa casa tem muito menos átomos do que a distância sem nada existente entre eles. Se isso, mesmo real nos parece absurdo, muito mais fantástico é o mundo que foi se abrindo com o percurso percorrido pela física quântica, cada vez mais no rumo da essência de tudo. Depois das partículas subatômicas, menor que elas são os “pacotes de onda”; além desses, as supercordas vibratórias; por fim, a energia de fundo, o vácuo quântico. Tudo é energia e vibração, sendo o Universo uma verdadeira sinfonia. O físico alemão Werner Heisenberg, um dos gênios que agraciaram a humanidade com sua inteligência e estudos nessa área, afirmou em seminário na Universidade de Munique, ainda no ano de 1968, que “o Universo não é feito de coisas, mas de redes de energia vibracional, emergindo de algo mais profundo e sutil”. E essa indecifrável “sutileza”, um mero sopro, talvez seja a mais perfeita metáfora de Deus.

A matéria é percebida por nossos sentidos como algo sólido, apenas porque as vibrações da energia nesse caso são tão rápidas que não temos como acompanhar. Para se ter uma ideia, um elétron vibra cerca de 500 trilhões de vezes por segundo. A matéria, portanto, nada mais é do que energia muito condensada, que inclusive pode ser liberada. Quando o homem descobriu isso, inventou a bomba atômica. E como a energia é e está em tudo, a vida e o próprio ser humano também são realizações dela, mais complexas e extremas, além de interativas. E aqui nesse ponto repousa aquilo que escrevi antes: com a física quântica muda profundamente nossa relação com a espiritualidade. O que nos torna singulares é a possibilidade de mantermos contato consciente com essa energia.

Com isso tudo, me resta ir jantar, acompanhado por um bom vinho. Essa também é uma forma de energia muito bem-vinda. Ainda mais com o frio que está fazendo aqui, no Sul desta parte de um dos tantos pequenos pontos desse imenso espaço sem fim. Ou melhor, como o espaço é ilusão, desse insondável mar de vibrações.

02.09.2020

Desta feita o bônus musical é diferente. Na mesma linha do texto, que traz um convite à reflexão, essa música propõe uma interiorização, sugere que se medite. São cinco minutos para mudar nosso padrão vibratório e melhorar nosso dia.

8 Comentários

  1. Li muita coisa sobre a questão do tempo há anos. E, das tantas leituras, cheguei ao princípio da incerteza de Heisenberg. Revivi aquele tempo na tua crônica com prazer. Gostei muito.

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  2. Aula espetacular…simplificou…tornou acessíveis esses conceitos. Ninguém se tornará um expert, mas surge uma luz…obrigado meu amigo!

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  3. Adorei o texto.
    Conseguiu simplificar um assunto que muitas vezes é confuso. Me trouxe muita alegria ler este texto.
    Parabéns.

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  4. Quase deu um nó no meu cérebro, mas é muito interessante, gosto muito desse tema! Estou relendo!!! Grande abraço, meu irmão!

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