O GRUPO ABBA E O NAZISMO

Dentro de exatos 12 dias estará em Porto Alegre, para realização de um show, o grupo sueco de música pop ABBA. Mundialmente famoso desde a sua fundação, em 1972, se trata de um quarteto composto por dois casais cujas iniciais de seus primeiros nomes forma o acrônimo que os identifica perante o público. Pelo menos era assim, se considerarmos o início em Estocolmo, com Agnetha Fältskog, Björn Ulvaeus, Benny Andersson, e Anni-Frid Lyngstad. Hoje em dia, no espetáculo The Show, novos cantores foram incorporados, funcionando o espetáculo como se fosse uma máquina do tempo. Já se apresentaram em mais de 40 países com Camilla Dahlin, Katja Nord Mats Ronander, Janne Schaffer, Finn Sjöberg e Lasse Wellandere. Além claro, dos integrantes da formação original e membros da Orquestra Sinfônica Nacional de Londres regida pelo maestro Matthew Freeman. E agora estarão no auditório Araújo Vianna, no dia 26.

Mas há uma história que vai muito além da música, a ser relembrada nesse momento. E ela envolve Anni-Frid, mais conhecida como Frida, a segunda letra A do grupo. Conforme ela descobriu, em 1977, o seu nascimento fez parte de um experimento nazista. Foi naquele ano que acabou desvendando também a verdade sobre o seu pai, que sempre acreditara ter morrido em um naufrágio. Na realidade ele era o oficial alemão Alfred Haase, que saiu voluntariamente da Noruega, onde convivia com a mãe de Frida, a norueguesa Synni Lyngstad, voltando para seu país natal após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Dez anos antes do nascimento de Anni-Frid – ela é de 15 de novembro de 1945 – os nazistas haviam criado um programa chamado Lebensborn, algo como “fonte da vida”, no idioma alemão. Seu objetivo era ampliar o nascimento de crianças arianas “puras”. Quem o comandava era Heinrich Himmeler, o chefe da Schutzstaffel (SS), que foi também um dos maiores responsáveis pelo holocausto. Assim, além de máquinas de morte, ele também cuidava de um processo de “repovoamento”, com a produção de bebês do mesmo modo que se cria cães por cruzamento. O governo alemão estimulava mulheres escolhidas, fossem elas voluntárias ou não, a se relacionarem com oficiais nazistas. Entretanto, com o passar do tempo passaram também a oportunizar o sequestro de crianças cujo perfil era do seu interesse, as trazendo de países ocupados, como Dinamarca, Polônia, Holanda, Noruega e da então Iugoslávia.

A questão é que com o fim da guerra e a derrota dos nazistas, tanto as mães quanto as crianças nascidas desses relacionamentos passaram a ser fortemente discriminadas. As mulheres eram apontadas nas ruas como “prostitutas alemãs”, enquanto suas filhas e filhos eram chamados de “bastardos da SS” ou simplesmente de “ratos”. Boa parte dessas pessoas ficaram presas em instituições para doentes mentais. O próprio governo da Noruega – e vejam que o problema não ocorreu apenas naquele país – fez de tudo para deportá-las para a Austrália. E o exército firmou parceria com a CIA permitindo que as crianças se tornassem cobaias para experiências com drogas como LSD e mescalina.

Por isso Synni precisou fugir para a Suécia com Anni-Frid. Essa tentativa de recomeço durou pouco, uma vez que sua mãe faleceu. Assim, a menina terminou sendo criada pela avó materna, Arntine, que foi a pessoa que incentivou suas habilidades artísticas. Foi deste modo que ela ganhou um concurso musical, onde conheceu Benny e veio a se casar com ele. Com a amizade que fizeram com o outro casal, nasceu o grupo. A vendagem de álbuns foi gigantesca, graças a sucessos como “Dancing Queen”, “Gimme! Gimme! Gimme!” e “Mamma Mia”, entre outros. E quem for ao show em Porto Alegre com certeza ouvirá todos eles. O acréscimo de outros talentos se deve também às idades atuais de Agnetha (72), Björn (77), Benny (75) e Anni-Frid (76).

14.04.2023

P.S: Esse texto já estava concluído e agendado para postagem no WordPress quando houve o comunicado, pela assessoria do grupo, do falecimento do guitarrista Lasse Wellandere, ocorrido na última sexta-feira. Ele estava listado entre os músicos que estariam em Porto Alegre. Foi vitimado por um câncer.

Björn, Agnetha, Anni-Frid e Benny, em foto dos áureos tempos
As crianças sequestradas que não passavam em testes eram depois executadas
Nem todas as crianças “fabricadas” ficavam com suas mães. Algumas eram criadas em ambientes coletivos

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O bônus musical de hoje é clipe de I Have a Dream (Eu Tenho um Sonho), em apresentação ao vivo do ABBA em 1979.

A INCRÍVEL HISTÓRIA DE NADIA NADIM

Considerando o local onde ela nasceu, podemos afirmar como de fato muito improvável que viesse a alcançar o sucesso que alcançou. Foi na localidade de Herat, no oeste do Afeganistão, no segundo dia de 1988. Naquele ano, Gorbachev anunciou que as tropas soviéticas seriam retiradas do país, o que aconteceu gradualmente até 15 de fevereiro de 1989. Nos anos seguintes houve uma guerra civil sangrenta e, em 1996, os talibãs tomaram o poder. Essa é uma organização fundamentalista islâmica, que faz uma leitura toda própria daquilo que prega a religião. E que, entre outras tantas violências, mantêm as mulheres completamente afastadas da vida civil, sem direitos básicos como estudar e saírem às ruas sem companhia masculina.

Falo de Nadia Nadim, que teve que fugir do país com suas três irmãs e sua mãe – usaram passaportes falsos –, naquele período, após o seu pai ser assassinado. Ele era um general do Exército Nacional Afegão e foi executado pelo talibã, no ano 2000. Com pouca água e menos comida ainda, foram iludidas por um motorista de caminhão que cobrou para levá-las até Londres e as abandonou numa pequena cidade interiorana na Dinamarca. Mas foram acolhidas naquele país, depois de dois meses em um acampamento de refugiados. Lá ela pode então fazer algo que gostava e para o que demonstrou ter bom talento: jogar futebol. Jogou inicialmente em três times de menor expressão (B52 Aalborg, Team Viborg e IK Skovbakken), até ser contratada pelo Fortuna Hjørring, em 2012. Naquele ano fez sua estreia na Liga dos Campeões da Europa e marcou os dois gols da vitória por 2×1 contra o Glasgow, equipe que era a campeã da Escócia.

Foi então contratada pelo Sky Blue FC, de New Jersey, nos EUA. Nos seus seis primeiros jogos marcou sete gols e deu três assistências. Ficou até 2015, quando foi para o Portland Thorns FC. Era ponta-de-lança e com seus nove gols contribuiu para o título de 2016. Na temporada seguinte foram vice-campeãs da liga. Com isso, retornou para a Europa, tendo então defendido as cores do Manchester City e do PSG, gigantes da Inglaterra e da França. Ao longo da carreira também foi muitas vezes convocada pela Seleção Dinamarquesa. Com ela, foi vice-campeã na Eurocopa de 2017, tendo marcado um gol na derrota por 4×2 para a Holanda, na decisão. E hoje está outra vez nos EUA, jogando pelo Racing Louisville FC, no Kentucky.

Mas a história de Nadia vai muito além de uma bem sucedida carreira esportiva. Ela conseguiu se formar em Medicina, pela Universidade de Aarhus, na Dinamarca, e se tornou uma ferrenha ativista em defesa dos direitos das mulheres. Sua preocupação atual está centrada em alertar contra o retrocesso que acontece em seu país natal, com a volta do talibã ao poder, depois de uma nova retirada de forças estrangeiras que controlaram o Afeganistão por vários anos. Desta feita, foram os EUA que saíram de lá, com a população civil local ficando outra vez à mercê da violência de uma ditadura desumana.

Quando recebeu seu diploma, Nadia viralizou com uma declaração singela que fez, na hora dos agradecimentos de praxe. “Mamãe, eu consegui”, disse ela. Agora, no final do ano passado, trabalhava como comentarista para o canal britânico ITV na Copa do Mundo do Catar, no jogo entre Dinamarca e Tunísia, quando abandonou a transmissão ao receber a notícia do falecimento de sua mãe, a senhora Hamida Nadim. Nadia, além do talento com uma bola de futebol e da sensibilidade como trata a medicina – profissão à qual irá se dedicar assim que largue o esporte -, é pessoa extremamente culta. Ela fala nada menos do que 11 diferentes idiomas: árabe, dinamarquês, inglês, francês, espanhol, alemão, persa, dari (uma variante da língua persa, falado no Afeganistão), urdu, hindi e latim.

Em 2019 Nadia foi nomeada pela Unesco como embaixadora pela Defesa da Educação de Meninas e Mulheres. Em recente entrevista revelou sua admiração pela ONG Médicos Sem Fronteiras, onde gostaria de poder trabalhar um dia. E também espera contribuir com a FIFA e a Uefa em programas de valorização do futebol feminino. Um esporte do qual se aproximou, segundo contou na mesma entrevista, também como forma de sentir-se mais perto do pai, que adorava assistir e jogar. Ela encerrou dizendo que, apesar dos seus pouco mais de 30 anos, sentia ter vivido sete ou oito vidas, com isso moldando seu caráter. Mas que não desejava que ninguém passasse pelas mesmas coisas, as privações e o medo. “Nem mesmo meus inimigos”, concluiu.

07.01.2023

Nadia Nadim, com a camiseta do PSG e como médica

O bônus musical de hoje é outra vez duplo. Primeiro temos o clipe de Unstoppable (Imparável), música do filme Mulher Maravilha, com a cantora australiana Sia Kate Isobelle Furler – ou apenas Sia, no seu nome artístico. Ela também é compositora, roteirista, dubladora e diretora. Depois temos o áudio de Mulher, de Erasmo Carlos.

Erasmo Carlos – Mulher

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