DIA DE TÍTULOS

Hoje à noite, se prevalecer a lógica – mesmo ela tendo pouco compromisso de comparecer, quando se trata de futebol –, o Grêmio deverá vencer mais um jogo e conquistar mais uma taça para a sua Sala de Troféus. Campeão gaúcho do ano passado, quando alcançou a quinta conquista em série, no primeiro semestre, ele enfrentará o São Luiz na disputa da Recopa Gaúcha. Isso porque o time de Ijuí foi o campeão, no segundo semestre, da Copa FGF. Evidente que existe uma considerável disparidade técnica entre as equipes e isso, portanto, permite apontar a existência de favoritismo. Ainda mais considerando a euforia que tem tomado conta da torcida tricolor, com a reformulação da equipe para a temporada, em especial com a contratação do uruguaio Luis Suárez.

Vou estar na Arena, de corpo presente. Meu coração, no entanto, vai ficar dividido. Não porque eu esteja pensando no adversário, que sei merecer respeito, mas com o qual não tenho quaisquer vínculos de ordem afetiva. A razão é que hoje também é o aniversário da minha filha, uma grande companheira de arquibancadas no Olímpico e de cadeiras na Arena. Mas ela está longe, morando em outro Estado, e não poderá estar comigo na torcida, logo mais.

Mas são muitas as passagens inesquecíveis dessa parceria, na qual dividimos alegrias e tristezas, multiplicando sempre a paixão em comum pelo tricolor. Ela muito pequena dormiu nos meus braços em pleno jogo decisivo contra os paraguaios do Olímpia, em uma Libertadores. Quando o pessoal que estava sentado na minha frente levantava, ficava difícil ver o que estava ocorrendo em campo, mas valeu muito a pena. Outra vez, em final de Copa do Brasil contra o Corinthians, não aceitou que eu a levasse ao banheiro – e a sua autonomia, como iria ficar? –, se perdendo na volta. Um segredo guardado por anos, para que a mãe não proibisse ir a outros jogos.

Teve ainda a ocasião na qual, no final de um jogo que nem lembro qual foi, ela simplesmente colocou seu dedo no nariz de um “corneteiro”, que havia passado todo o tempo criticando um jogador nosso. E justo o que fez o gol da vitória, ao apagar das luzes. O cara era imenso e estava acompanhado, mas mesmo eu estando resignado com a surra que iria levar ao defendê-la, ele ficou tão surpreso que não conseguiu reagir. Nem ao gesto, nem ao fato da senhora sua mãe ter também sido homenageada por ela. Também perdemos a audição por alguns momentos, com ela trocada por um zumbido mais do que desagradável, quando algum imbecil jogou uma bomba muito perto da gente, na fila de entrada para a final da Libertadores contra o Boca Juniors.

Ela estava comigo no Grenal dos 5×0. E no título da Copa do Brasil de 2016, frente ao Atlético Mineiro. Sofremos diante da televisão na Batalha dos Aflitos; e secamos juntos, felizmente com sucesso, nosso “coirmão” no enfrentamento contra o Mazembe. Corajosa, ela me representou uniformizada e tudo, espremida num cantinho do Pacaembu, em virada histórica contra o Palmeiras. E veio de São Paulo, com viagens de um único propósito, para me acompanhar contra Botafogo, Barcelona (Guayaquil) e Lanús, na reta final da campanha vitoriosa da Liberta de 2017. Estivemos nas ruas, empunhando bandeiras, em tantos títulos gaúchos que somamos. Também saímos cabisbaixos algumas vezes, tristes com algum revés, esperado ou não. Nessas horas, a companhia de um diminuía a dor do outro, do mesmo modo que também multiplicava a alegria quando das vitórias.

Enfim, hoje é o dia do aniversário do meu título de pai. Muito mais valioso que um de Brasileirão, Libertadores ou Mundial. Por mais que eu deseje todos esses outros. E ela também, lógico. Ainda bem que não se é obrigado a escolher entre dois amores distintos. Até porque, se isso um dia viesse a ocorrer, seria a única razão que me levaria a abandonar o Grêmio.

17.01.2023

Solon e Bibiana, em um dos tantos jogos na Arena

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CLUBES DE DITADORES

Não existe documentação que comprove isso, mas consta que Adolf Hitler era torcedor do Schalke 04, time alemão da cidade de Gelsenkirchen, que fica no Vale do Ruhr. Talvez porque em propagandas do Terceiro Reich a imagem daquele time foi usada muitas vezes. O que também pode ter sido ocasionado pelo simples fato de o clube ter conquistado seis títulos nacionais durante a vigência do governo nazista – difícil saber o que foi causa e o que foi consequência. Entretanto, outro fator certamente preponderante é que ele fora fundado por um grupo de mineiros germânicos, legítimos arianos, ao contrário do Borussia Dortmund, por exemplo, que tinha raízes judaicas. O italiano Benito Mussolini, por sua vez, era fanático pelo Bologna, que por uma incrível “coincidência” também levantou seis taças nacionais durante o domínio fascista. Mas depois ele adotou a Lazio como sua segunda equipe, passando inclusive a frequentar o estádio em Roma.

Um terceiro governante extremista, o generalíssimo Francisco Franco, que ficou no poder por 40 anos na Espanha, levava o Real Madrid como seu time do coração, mesmo muita gente duvidando que ele tivesse um. E falo do coração, lógico. Ele teve envolvimento direto inclusive na contratação do craque argentino Alfredo di Stéfano, assim como na construção do estádio Santiago Bernabéu. Foi nessa época que o clube passou a empilhar taças, com os árbitros tendo uma dificuldade estranha em apitar suas partidas com a devida e necessária isenção. O Atlético de Madrid, por sua vez, sempre ocupou o lado oposto no espectro político, sendo os seus torcedores debochadamente chamados de “colchoneros” pelos madridistas, devido ao fato de sua camisa tradicional ter listras na vertical em vermelho e branco. É que o governo distribuía para a população pobre da capital espanhola, naquela época, colchões que tinham estampa semelhante, também listrada e com as mesmas cores. Vizinho de Franco e igualmente ditador por décadas, o português Antônio de Oliveira Salazar era torcedor do Benfica. Mesmo sendo muito mais discreto e aparentando não ter ligações mais profundas com o futebol, ele contribuiu bastante para que o clube alcançasse destaque na década de 1960.

O general Augusto Pinochet, que liderou golpe militar no Chile e chegou ao poder com o assassinato do presidente eleito Salvador Allende, era torcedor do pequeno Santiago Wanderers. Mas, na tentativa de dar algum toque popular ao seu governo, “adotou” estrategicamente o Colo-Colo como uma espécie de time oficial. Houve inclusive o repasse sistemático de recursos e outros tantos incentivos ao clube. O que rendeu ao ditador o título de presidente honorário, em 1984. Tal honraria foi cancelada em 2015, quando os sócios decidiram destituí-lo. E no Brasil, seguindo uma cartilha que recomendava “pão e circo”, os militares passaram a indicar presidente e outros cargos diretivos da antiga Confederação Brasileira de Desportos, a CBD. Não houve um clube único sendo privilegiado aqui porque existia um rodízio entre os ocupantes da cadeira presidencial. Ou seja, ao invés de um ditador se perpetuando no cargo, tivemos vários, o que aplacava as ambições pessoais e ao mesmo tempo dava uma falsa – mesmo que ridícula – aparência de normalidade.

O slogan “Onde a Arena vai mal, time no Nacional” era repetido por boa parte da imprensa e também pela torcida mais pensante, mesmo que isso tivesse que ser feito às vezes de forma discreta. A razão é que quanto mais caía a popularidade da ditadura, mais aumentava o número de participantes do campeonato que era disputado, fora os estaduais. Em 1979 o recorde foi batido, com 94 equipes. Mesmo assim, o formulismo permitiu que o campeão fosse apontado após ter disputado apenas 23 jogos. E aconteceram situações absurdas, como Santos, Corinthians e São Paulo não aceitando fazer parte do espetáculo circense armado – foram substituídos por Francana, Comercial e Quinze de Jaú – e com o Atlético Mineiro desistindo em meio à competição. Então, restaram postulantes clubes “gigantes”, como Colatina, Dom Bosco, Fast, Guará, Itabuna, Leônico, Potiguar e Rio Negro. Tinha até um clube com o nome CEOV, de Várzea Grande. O Internacional, de Porto Alegre, terminou invicto depois de superar algumas dessas potências, como Rio Branco, Desportiva, Caldense e Goytacaz. O Palmeiras, com sete pontos ganhos, terminou em quarto. O Novo Hamburgo somou oito e ficou na posição 74. Até hoje temos matemáticos fazendo cálculos para tentar entender como foi aquilo.

Voltando ao nosso tema central, o brasileiro que sonha ser ditador é um caso atípico. Morava no Rio de Janeiro antes deste período em Brasília, afirma torcer para o Palmeiras, mas veste qualquer camiseta que lhe alcançam. Já foram mais de 15 e o número com certeza irá continuar crescendo. Faz parte de um projeto de marketing para parecer um homem simples, do povo. Assim como usar chinelos e um agasalho bem pobrinho em algumas aparições públicas; ou comer cachorro quente na rua, se babando. E quanto às eleições de outubro, elas vão parecer muito um campeonato de futebol. Será por pontos corridos – os votos –, talvez tenha dois turnos e a imensa maioria dos brasileiros estará torcendo ardorosamente para que não ocorra um bicampeonato. E nem uma decisão final no tapetão.

20.03.2022

Seleção Italiana de 1934 e a saudação fascista, com Mussolini no poder

O bônus de hoje é duplo outra vez. Primeiro temos uma apresentação ao vivo do grupo mineiro Skank com sua conhecida Uma Partida de Futebol. Depois, num ritmo bem diverso da alegria da primeira música, Tributo a Mané Garrincha, de Moacir Franco, em áudio. O maior ídolo da história do Botafogo e segundo maior do futebol brasileiro também é homenageado com a sugestão de leitura feita hoje. Estrela Solitária é um livro que não se pode deixar de ler.

Áudio de Tributo a Mané Garrincha, de Moacir Franco

DICA DE LEITURA

ESTRELA SOLITÁRIA: um brasileiro chamado Garrincha

(Ruy Castro – 536 páginas)

Garrincha fez o mundo rir. Agora ele fará você chorar. Estrela solitária – Mm brasileiro chamado Garrincha conta a dramática história de um ídolo amado por uma mulher e por um povo inteiro, mas que acabou destruído por um inimigo implacável. Esta é mais que uma espantosa biografia. É um livro cheio de revelações até para os que julgavam conhecer Garrincha.

Para os brasileiros de hoje, que só conhecem o seu mito, Estrela Solitária será lido como um romance de paixão e desventura, tendo como cenário o Rio e o Brasil dos anos 50 e 60. Só que os personagens e os fatos são reais. Para descrever essa trajetória, Ruy Castro fez mais de 500 entrevistas com 170 pessoas. Garrincha renasce como um herói tragicamente humano e a obra ganhou o Prêmio Jabuti 1996 de Melhor Ensaio e Biografia. Vale muito a pena ler.

Clicando sobre a imagem da capa do livro, que está acima, você será direcionado para a possibilidade de aquisição. Se a compra for feita usando esse link, o blog será comissionado.