Se você foi uma das pessoas que votaram em 2018 movidas pelo ódio que ensinaram a ter do número 13, terá uma oportunidade surpreendente no próximo domingo. Poderá seguir nessa toada, sem desdizer a si mesma, ao mesmo tempo em que se redime das consequências daquele ato. Em Porto Alegre, por exemplo, basta digitar 65. Em São Paulo essa chance aparece com o número 50 e em Fortaleza com o 12 nas urnas eletrônicas. Confirme e pronto! Nada como estar com a consciência tranquila, tendo feito ótimas escolhas.

São muitas as pessoas que cumprem com esse dever cívico, vivenciam esse momento democrático, sem darem-se conta de que ele não dura apenas aqueles poucos segundos, mas permanece vigente por quatro longos anos. Essa decisão é de uma importância enorme, precisando ser tomada com a lembrança do que houve no passado, com a informação confiável do que está acontecendo no presente e com a projeção de um futuro que desejamos e merecemos. Vejamos o caso de Porto Alegre.

No passado, a capital dos gaúchos era muito mais segura e democrática. Priorizava as pessoas, a arte e a cultura; investia maiores recursos em saúde e em educação; trabalhando também com vários projetos de geração de emprego e renda. Porto Alegre tinha passagens de ônibus mais baratas, longe de ostentar o título atual, de mais cara entre as capitais do país. Já teve um orçamento participativo real – não apenas figurativo –; foi modelo para o planeta inteiro, com o Fórum Social Mundial; sediando também outros eventos que atraíram turistas e recursos, trazendo notoriedade e reconhecimento. Entretanto, as últimas três administrações fecharam unidades básicas de saúde; terminaram com o espaço que tinha a economia solidária; deixaram escolas sucateadas; aumentaram em muito o valor do IPTU; não cobraram nada dos grandes devedores inadimplentes; e abandonaram a população de mais baixa renda. Houve ainda casos comprovados de desvios de recursos públicos, como os acontecidos na Carris e no Demhab, entre outros, sem que as devidas providências para responsabilização e ressarcimento fossem tomadas. 

No presente, tem governante se orgulhando por entregar parte de obras que estavam previstas para a Copa de 2014, com a maioria delas ainda seguindo inacabadas, mesmo com cerca de um bilhão de reais que lhes foram destinados. Nossas praças e parques, exceto quando em “áreas nobres” da cidade, como Moinhos de Vento, Parque Moacyr Scliar e Praça da Encol, estão em completo abandono. Podas de árvores são feitas sem conhecimento e sem critério, destruindo a cobertura verde que era um dos orgulhos dos porto-alegrenses. Nunca a população de rua foi tão numerosa quanto agora; faltam vagas em creches; não há profissionais suficientes nos postos de saúde; há precariedade em iluminação pública e calçamento; as ruas estão sujas e as pichações tomam conta. O Mercado Público, depois do incêndio, não foi recuperado e agora querem vender; o trabalho da Guarda Municipal tem sido principalmente multar; inexistem programas de incentivo à microeconomia. Em termos de habitação e saneamento básico, muito pouco ou nada vem sendo feito. E a periferia está jogada à própria sorte.

No futuro, o que desejamos é que ampliem a oferta de atendimento em saúde, com especialidades médicas, exames e cirurgias; que ocorra prevenção, testagem, rastreio e aquisição de vacinas, para real enfrentamento da Covid; a formação continuada dos nossos professores; a universalização da cobertura para a pré-escola e mais atendimento nas creches, permitindo que mães trabalhem; e que se torne multiuso equipamentos escolares, com atividades no contraturno. Queremos inclusão digital; programas de alfabetização; atividades para a terceira idade; hortas e restaurantes comunitários. Desejamos a revisão tarifária, para que as passagens de ônibus fiquem mais baratas; um plano cicloviário que seja consistente. Também a ampliação dos atuais 8,4% para pelo menos 20% do valor das compras públicas destinados para microempresas; incentivo à construção civil e cooperativas; valorização de empreendimentos de bairros; e oferecimento imediato de microcrédito. Queremos centros de atendimento integrado e mais albergues, para população de rua; aluguel social, se necessário. Uma Guarda Municipal com foco comunitário e preventivo; a cogestão dos espaços culturais da cidade, como a Usina do Gasômetro, o Cinema Capitólio, o Complexo do Porto Seco e também os teatros. A utilização de prédios públicos ociosos será decisão positiva; assim como a redução do IPTU. E ainda planos de habitação popular e saneamento básico, com a viabilização de ligações domiciliares à rede cloacal das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs). Para concluir, uma administração que combata toda e qualquer forma de discriminação, como étnicas, sexuais e religiosas.

Se você se identifica com alguns desses desejos expressos acima, saiba que eles compõem parte das propostas de governo da candidata que aguarda seu voto no domingo. O que ela assegura que irá trabalhar para fazer é, sem dúvida, exequível e coerente. Cada item do que VAI FAZER vem acompanhado da explicação de COMO FARÁ. Suas propostas, portanto, não são nada abstratas. O que o outro candidato diz e promete é mais genérico do que remédio em farmácia popular. De concreto, apenas o anúncio de que pretende vender a Carris, a mais antiga empresa de transporte público em atividade no país. Ela não apenas é um patrimônio histórico, tendo sido fundada pelo Imperador Dom Pedro II, em 1872, como presta um relevante serviço por balizar o preço das passagens, impedindo aumentos ainda maiores. O que seus críticos nunca citam é que a Carris ganhou o Prêmio Nacional de Gestão Pública do Governo Federal. Sua venda, portanto, não é para melhorar em nada esse serviço que é essencial, servindo sim para dar satisfação ao setor privado que explora essas concessões e que há anos contribui em campanhas eleitorais.

Confie na força e na competência das mulheres. Contribua com seu voto para que uma delas assuma pela primeira vez na história como prefeita em nossa cidade. Vote sem medo no 65 e acredite: não há a mínima chance de Porto Alegre “virar uma Venezuela”, até porque não existe petróleo no nosso subsolo e nenhuma potência estrangeira irá impor bloqueios e sanções que nos empobreçam mais – nem teriam como fazer. O que pode acontecer é Porto Alegre se transformar numa cidade onde as pessoas sejam mais felizes. Onde seu patrimônio material e imaterial seja preservado. Onde as prioridades sejam a vida, o emprego, o respeito, a saúde, a igualdade, a educação, a dignidade das pessoas. Nosso porto merece voltar a ser alegre. Contribua diretamente para isso e compartilhe dessa felicidade.

26.11.2020

Tudo bem que as eleições desse ano são municipais. Mas fica aqui um bônus musical mostrando que o descontentamento vale para todos os níveis. O clip é Sr. Presidente, de Projota e Tom Leite. Ela já teve mais de 16,5 milhões de visualizações na internet. Se isso virasse voto…

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