Augie Doggie e Doggie Daddy são dois personagens de desenhos animados, pertencentes ao universo Hanna-Barbera. Foi no final de setembro de 1959 que eles começaram a aparecer na programação norte-americana, primeiro como coadjuvantes de Pepe Legal, sendo criação do conceituado animador Al Bertino. Depois, ganharam vida própria. Aqui no Brasil receberam eles os nomes de Bibo Pai e Bobi Filho. São dois cães que vivem suas aventuras juntos, um tentando impressionar o outro, devido à inegável admiração mútua.

Recentemente uma dupla brasileira, também de pai e filho, mas na vida real, passou a habitar nosso noticiário. Ambos militares, são figuras centrais em mais um escândalo envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ou seja, também de meros coadjuvantes, o mais jovem como auxiliar de ordens, seu pai como uma das eminências pardas do antigo governo, agora ganharam vida própria. E no inusitado ramo do comércio de joias, pedras preciosas e ouro, entre outras atividades. Coisas que, supostamente, sempre passaram longe daqueles quartéis que estas figuras deveriam habitar.

O tenente-coronel Mauro Cid é filho do general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, que foi colega de Bolsonaro quando eram cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras. A AMAM fica em Resende, no sudoeste do Rio de Janeiro. Talvez por essa proximidade com o pai, o ex-presidente nomeou o filho como um dos quatro ajudantes de ordens aos quais tinha legalmente direito. Com o tempo, ele acabou de tal forma conquistando a confiança do seu chefe que se destacou, ficando como o predileto do grupo. Aquele a quem eram confiados os assuntos e as ações de fato importantes, houvesse ou não lisura nelas. E missão dada é missão cumprida, na essência da doutrina militar. Foi assim que lhes coube, aos poucos, cuidar não apenas daquilo que se referia ao cargo do primeiro mandatário da nação, como também a questões particulares. Virou inclusive uma espécie de conselheiro.

Acontece que o governo anterior deixou rastro enorme de irregularidades e ilegalidades, que agora estão sendo apuradas. E as “impressões digitais” de Cid aparecem em muitas delas. Só que o ex-presidente não teve nem interesse (por ser ótimo manter um escudo) nem capacidade (seu poder se esvaiu, sobrando apenas bravata) para proteger quem o protegia, com o tenente-coronel acabando preso, ainda no dia 3 de maio. Também foi autorizada a quebra de seu sigilo telemático pela Justiça e o conteúdo do seu celular chamou muito a atenção da Polícia Federal. O passar do tempo, com o desespero da sua esposa, o pai impotente para agir, a carreira manchada e a solidão da prisão, o homem resolveu “abrir o bico”. E seu advogado de defesa costurou uma delação premiada. Assim, o homem de confiança está transformado num “homem-bomba”.

O depoimento durou muitas horas. Seu conteúdo é pura nitroglicerina, ao que tudo indica, permanecendo ainda oficialmente em sigilo, enquanto seguem investigações. Isso porque uma delação serve para relatar o que houve de fato, mas diligências são necessárias para buscar necessárias comprovações e provas adicionais, da materialidade. Cid foi solto, com o uso de tornozeleiras, proibição de manter certos contatos e passaporte apreendido. Desde então, três semanas se passaram e começa a vazar parte do que ele teria contado.

As acusações “preliminares” eram sobre seu envolvimento no esquema de venda de joias que eram presentes oficiais e que, portanto, deveriam ter ficado como acervo da Presidência da República. Cid filho foi quem as transportou para os EUA em avião da FAB, enquanto seu pai foi o encarregado de vender e guardar os valores para Bolsonaro, a quem entregaram em mãos. Isso teria sido feito com pelo menos quatro conjuntos de bens recebidos pelo ex-presidente em viagens internacionais, configurando no mínimo os crimes de peculato e lavagem de dinheiro. Mauro Cid também foi investigado por estar no centro do esquema criminoso de inserção de dados falsos sobre vacinação contra Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde, que teria possibilitado a fraude dos cartões de vacinação dele, de Bolsonaro e de membros das famílias de ambos. Ao que tudo indica, as imputações foram confessadas.

Foi o tenente-coronel que ajudou Bolsonaro a compor o discurso que o ex-presidente fez em uma constrangedora reunião para a qual foram convocados embaixadores para atacar as urnas eletrônicas e colocar em dúvida a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro. Sonhavam em obter apoio internacional para um eventual golpe. O único resultado que alcançaram, no entanto, foi a inelegibilidade de Bolsonaro, que já foi julgado e condenado pelo absurdo. Mauro Cid também foi indiciado pela Polícia Federal por espalhar fake news sobre a vacinação contra Covid-19. Foi ele o responsável por entregar a Jair Bolsonaro, durante uma transmissão ao vivo, o papel com supostos estudos que levaram o ex-presidente a relacionar aquela vacina ao vírus HIV, que causa a Aids. Novamente, a confissão contemplaria isso.

Agora, o mais grave de tudo surgiu quando a perícia feita no celular de Mauro Cid comprovou o seu envolvimento em uma trama golpista com integrantes das Forças Armadas. Ele trocou mensagens e áudios com o ex-major Ailton Barros, nos quais ambos discutiam a possibilidade da efetivação de um golpe de Estado no final de 2022 para impedir o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de assumir a Presidência. Nesse aspecto, a sua delação premiada pode abalar as estruturas políticas e militares do nosso país. O site UOL assegura que, questionado sobre isso, ele teria relatado que seu antigo chefe, Jair Bolsonaro, recebeu uma minuta golpista do então assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Filipe Martins. E que, de posse dela, se reuniu com os comandantes militares, buscando definir detalhes do golpe. Cid diz que estava presente na reunião, na qual o almirante Almir Garnier teria garantido o seu apoio, mas que Exército e Aeronáutica não concordaram. Esse crime pode conduzir Bolsonaro direto para as grades. Cid teria a sua pena parcialmente aliviada. Mas, aliviada mesmo estaria a nossa democracia, com o afastamento deste risco.

Pepe é o apelido em espanhol para José, não para Jair. E esse nosso nunca teve nada de legal. Os cães Bibo & Bob sempre se mostraram muito próximos e honestos nas suas relações. Cid & Cid são muito próximos.

25.09.2023

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O general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid e seu filho, o tenente-coronel Mauro Cid
Bibo Pai e Bobi Filho

O bônus de hoje é a música Pais e Filhos, com Legião Urbana.


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