São cinco os principais pilares que tornaram os Estados Unidos a maior potência mundial, posição que mantém pelo menos desde o fim da Segunda Guerra Mundial até hoje, apesar de agora fortemente ameaçada pela China: (1) seu enorme poderio militar; (2) o uso do dólar nas transações internacionais; (3) o inglês sendo imposto como língua internacional; (4) o investimento na sua indústria cultural, que é subsidiada e propagada mundialmente; e (5) o domínio sobre a mídia. Tudo isso está fortemente articulado e cada um destes pontos distintos interage com os demais.
Nos filmes e em seriados da televisão a CIA, os fuzileiros navais e o FBI são sempre imbatíveis e implacáveis, vencendo quaisquer ameaças, venham elas de outros países ou até mesmo de fora da Terra. Seu presidente não apenas é o responsável pela nação, como informalmente preside o mundo todo. Um xerifão a quem todos batem continência e até agradecem por isso, pela subserviência. Coisa assim como o que fez o Bolsonaro diante da bandeira deles. A música americana nos entope os ouvidos e anestesia os neurônios: a maioria dos brasileiros não entende as letras (*), mas fica tentando repetir os fonemas da forma mais parecida possível.
As notícias às quais temos acesso, todos os dias, passam por um filtro que começa nas agências internacionais, as principais delas dominadas pelos EUA, e chegam até à autocensura praticada nos nossos meios de comunicação, seja por questões financeiras – medo de perder os seus anunciantes – ou ideológicas mesmo. Nas escolas, apesar de quase todos os nossos vizinhos falarem espanhol, o que se ensina é o inglês. A desculpa é que você pode viajar para qualquer ponto do mundo fazendo uso dele – o que de fato se tornou verdade, uma vez que em todos os lugares o mesmo argumento foi usado. E assim ele ganha validade, mesmo com o percentual extremamente alto de brasileiros que jamais tiveram sequer uma única oportunidade na vida de viajar para o exterior.
Com o Acordo de Bretton-Woods, que foi assinado em 1944, o mundo todo substituiu o ouro pelo dólar, como moeda global. Como tudo era antes pago com o metal precioso e os países europeus gastaram os tubos em função da guerra, quase todo o ouro ficou em poder dos EUA. Então, a justificativa inicial de que os norte-americanos tinham todo o volume necessário para servir de lastro para as transações serviu, mesmo que com o tempo tenha caído por terra. E passou a funcionar na palavra apenas. A palavra deles é claro, ao melhor estilo do personagem aquele de Jô Soares, um paraguaio em antigo programa de humor que ele apresentava: “la garantia soy yo”. Assim, tomando como exemplo, para que o Brasil comercialize produtos com sua vizinha Argentina, seja comprando ou vendendo, se faz necessário duas conversões das suas respectivas moedas para o dólar. Vai do real ao dólar e do dólar ao peso argentino, ou vice-versa. O que só é muito bom para o “Grande Irmão do Norte”, não para nós. Esse é um modo de exercerem influência política e econômica em escala global, além de garantirem que sua própria moeda sempre estará sólida e em alta.
Finalmente, há o investimento astronômico dos EUA nas suas forças armadas, que não se contentam em ficar no próprio território e se espalham estrategicamente por centenas de bases em todos os continentes. Além disso, vejam que nunca os conflitos que eles estimulam, participando de forma direta ou indireta, acontecem no seu território. Os campos de batalha estão sempre fora, na Europa e no Oriente Médio, em especial, com eventuais incursões pela América Latina e África. Jamais há a necessidade de investir fortunas em reconstrução, por exemplo. O que, aliás, eles estão sempre dispostos a financiar, longe de casa. Derrubam e depois cobram para reerguer.
Quando ocorre de alguns dos seus soldados serem perdas eventuais nessas escaramuças, existe todo um ritual que serve para consagrá-los como “heróis pela causa da liberdade”. Entregam para as respectivas famílias condecorações, uma boa pensão e a bandeira que cobria o seu corpo, que foi cuidadosamente dobrada. A exceção, em volume de perdas humanas, se deu com a Guerra do Vietnã, quando muito mais corpos do que era esperado voltaram para casa em sacos plásticos. Mas, eles trataram de exorcizar isso com uma série de filmes e a apropriação de outras narrativas.
Acontece que agora a força militar chegou a um momento de impasse, pois se mostra incapaz de superar a quem a ela pode se opor. Ainda mais depois do recente acordo de cooperação irrestrita firmado entre China e Rússia. E ainda existe a Coréia do Norte, que possui um contingente significativo de homens e armas. Assim sendo, qualquer conflito tem tudo para resultar em um zero a zero, que não será empate e sim derrota de todos os lados.
Em termos de moeda, está sendo acelerada pela Guerra da Ucrânia uma tendência que vinha de antes: sua troca por outras, primeiro em âmbitos regionais, mas com possibilidade de expansão. A China e a Rússia já têm acordos para compra e venda direto com as suas próprias moedas, o yuan e o rublo, fazendo isso também com outras nações. Esses dois países, mais os outros que formam o chamado Brics – iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China e Soul África –, estudam lançar uma que seja de todos eles. Essa seria ainda adotada pelos Emirados Árabes Unidos, que já confirmaram a decisão. Arábia Saudita, Argentina, Bahrein, Egito, Indonésia e Irã, além de outros dois países da África Oriental e um da África Ocidental, ainda não identificados, também estão desejando ingressar no grupo. Isso causaria grande impacto no comércio internacional, com uma maior competitividade para os que têm moedas mais fracas ou são emergentes.
Enfim, estamos vivendo um momento histórico, sobre o qual teremos uma melhor compreensão apenas no futuro, quando mais distantes dos fatos de agora. A geopolítica vigente está sofrendo forte abalo, a passos largos caminhando para um mundo multipolar. Todos os impérios que já existiram, ao longo da história da humanidade, viveram o seu apogeu e tiveram declínio posterior. É o que está acontecendo agora com os EUA. A queda é inevitável e já está ocorrendo: só não se sabe quanto tempo ainda levará para que ela se conclua.
23.07.2023
* De acordo com pesquisa recente do British Council, apenas 1% da população brasileira fala inglês fluentemente. Aqueles que falam inglês, mas não de maneira avançada, representam 5% do total.

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