O Museu da Língua Portuguesa foi criado na cidade de São Paulo, por iniciativa da Secretaria de Cultura daquele Estado, e inaugurado em 20 de março de 2006 no antigo prédio da Estação da Luz, uma obra arquitetônica de rara beleza. O investimento foi de R$ 37 milhões, tendo sido importante a participação da Fundação Roberto Marinho e também o patrocínio de várias empresas. O objetivo inicial foi plenamente alcançado, uma vez que se criou um espaço interativo e vivo sobre a nossa língua, com justiça considerada a base da cultura nacional. O local oferecia, desde a abertura, oportunidade de acesso não apenas a novos conhecimentos, mas também a reflexões, sempre com atrativos lúdicos, intensos e prazerosos. A identificação popular foi instantânea e mais de três milhões de visitantes estiveram no local nos primeiros seis anos após sua abertura, o que tornou o museu um dos mais visitados do nosso país e de toda a América do Sul. Atualmente, mais de 260 milhões de pessoas falam português em todo o mundo, sendo esse o idioma oficial de nove países.

Em 21 de dezembro de 2015, um grande incêndio destruiu parte de sua estrutura. O acervo, no entanto, por ser virtual ficou preservado e foi recuperado em sua totalidade. Mas as obras de reconstrução e melhoria nos aspectos de segurança, ampliação de área e adoção de novos recursos tecnológicos, levaram alguns anos. Foi reinaugurado no último sábado, 31 de julho. Compareceram à solenidade um grande número de pessoas ligadas à cultura, além de autoridades convidadas, como os presidentes de Portugal e Cabo Verde; e o ministro da Cultura angolano. O governador de São Paulo e o prefeito paulistano eram os anfitriões, juntamente com a diretoria e funcionários do museu. Jair Bolsonaro, também convidado, preferiu participar de uma motociata em uma cidade do interior do mesmo Estado e não compareceu. Também não enviou ninguém que representasse o governo federal e recepcionasse as autoridades estrangeiras.

A palavra “boçal”, substantivo e adjetivo, tem vários sentidos. O principal deles é aquele que refere a pessoa como tosca, grosseira e estúpida. E ela guarda uma relação etimológica com “boca”. Buscando sua origem, se pode associá-la com o espanhol “bozal”, que derivaria do latim “bucca”. Inicialmente designava “aquele que ainda tem buço” (bozo), aquela penugem sobre a boca. Assim, identificaria o inexperiente, o sem preparo e conhecimento, o desajeitado e bisonho. Mas também traz consigo uma conotação mais severa, porque ainda identifica “focinheira”, que seria o conjunto de correias para prender focinho de animais ferozes, para que não mordam. Daí se torna sinônimo de animalesco.

Outra questão que se levanta é que a palavra é considerada por muitos como racista. Isso porque os negros escravizados que eram trazidos para o Brasil também vinham muitas vezes com essas espécies de focinheiras. Uma violência inacreditável, sendo que depois e por isso mesmo o vocábulo “boçal” passou a identificar os recém-chegados da África, que ainda não falavam o português, dizendo por isso coisas que eram bobagens, erros. O que alcança a acepção que nos interessa nesse texto, uma vez que hoje em dia os que recebem esse qualificativo normalmente o adquirem justo quando abrem a boca. O que sai dela em geral assegura o merecimento, associa de modo indelével o boçal e a boca, indo além do encontro meramente etimológico.

De qualquer modo, como o assunto hoje abraça a língua portuguesa, vamos tentar ajudar aqueles que pretendem chamar alguém por outro termo, sem se afastar do inicialmente proposto. Para tanto, seguem alguns sinônimos de boçal: alarve, asselvajado, avilanado, bárbaro, beócio, besta, bronco, bruto, cavalgadura, desaforado, descortês, deseducado, estúpido, fúfio, inculto, indelicado, grosseiro, grosso, idiota, ignaro, ignorante, imbecil, impolido, incivil, incivilizado, inurbano, jalofo, labrego, lapuz, lerdo, lorpa, mal-educado, néscio, obtuso, panaca, patego, peco, petulante, primitivo, rude, rústico, sáfaro, saloio, simplório, tapado, tosco e xucro. Qualquer um deles pode ser aplicado, não como solução de nada, mas para aliviar um tanto a nossa raiva e evitar que se tenha uma úlcera, por exemplo, antes que o ano que vem termine.

02.08.2021

O Museu da Língua Portuguesa fica no antigo prédio da Estação da Luz, na cidade de São Paulo

O bônus musical de hoje vai em homenagem ao presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que nos deu a honra da presença quando da reinauguração do Museu da Língua Portuguesa. E também para todo o povo português e demais falantes deste idioma em todo o mundo. Assim, nada melhor do que Fado Loucura, gravado ao vivo pela fadista Ana Moura no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, no ano de 2007.


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1 Comentário

  1. Como sempre, muito lúcida e instigante a sua postagem. Isso é raronos dias que correm. No entanto, não quero me furtar à expressão de uma implicância particular: a palavra não “é” isso ou aquilo, penso, do fundo de minha ignorância. Acredito que seu uso é que “é” isso ou aquilo. Num país em que há tantos tipos sociológicos das mais variadas estirpes, tantas personalidades distorcidas e lesadas, fica difícil não lembrar de uma delas que se vangloriava de não ter estudado e de não ter “saco” pra ler. Creio que o adjetivo destacado pode, sem nenhum pudor, ser associado a esta personalidade tão marcante na História do Brasil, Infelizmente, vilipendiada pelo contínuo processo de desmemorialização, tão caro às mentes superficiais e fúteis que insistem em povoar o planeta. Muito obrigado por sua postagem. Sempre gosto. Abraço.

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