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OS LÍDERES DO CAOS – Segunda parte

Vamos seguir o que aqui foi iniciado na crônica anterior, dando nomes não aos bois, mas aos ratos – se bem que por aqui um grande rato passou a ser seguido por grupo que depois foi chamado de “gado”. Quem não leu a primeira parte pode fazer na sequência inversa ou voltar à listagem das publicações e ler a anterior primeiro. Neste caso, a ordem dos roedores não altera muito o produto final.

Recomecemos por um espécime realmente exemplar: Steve Bannon. Este é tipo um mentor, figura endeusada por ser um estrategista de grande habilidade, o número um da alt-right mundial. Foi ele o fundador da Cambridge Analytica, uma empresa que provocou o vazamento dos dados de muitos milhões de usuários do Facebook, que coletou por meio de aplicativos dentro da própria rede social. Depois, fez uso ilegal destas informações para o disparo de mensagens pelo WhatsApp, direcionando conteúdos falsos conforme interesses seus e de clientes. Mais do que isso, tudo era específico conforme perfil do destinatário, para surtir maior efeito, havendo identificação e pertencimento. Desta forma ele se tornou uma espécie de criador da “pós-verdade”.

Suas primeiras experiências exitosas se deram durante a discussão sobre o Brexit, saída da Grã-Bretanha da União Europeia, em 2016; mesmo ano em que foi também responsável pela chegada de Donald Trump ao poder, nos EUA. Mas ele já fizera um teste prévio no Brasil, provocando as manifestações de rua, supostamente “espontâneas”, de 2013. Com a contribuição fundamental dada para o magnata chegar à Casa Branca, tornou-se seu assessor especial. E em 2018, outra vez em nosso país, facilitou a eleição de Jair Bolsonaro. Depois disso fundou o The Movement, uma rede de articulação da extrema-direita mundial, que prega uma paradoxal luta “antissistema”. Não por acaso é considerado um dos homens mais perigosos do mundo, alguém incapaz de ter limites para a sua ambição de poder.

Donald Trump foi quem mais poder angariou entre os ratos, nesta fase recente. Chegou a se tornar presidente da então mais poderosa nação do mundo, do ponto de vista militar. Sonegador de impostos e falso moralista, diz defender a família enquanto tem envolvimento histórico com prostitutas. Odeia latinos – pretendia erguer um muro para separar os EUA do México – e negros. Considera que mulheres são seres inferiores. Liderou uma tentativa de golpe, com a invasão do Capitólio, depois de perder as últimas eleições. Buscou sempre controlar a Justiça e a imprensa, usando a força do seu poder econômico. Corrupto e corruptor, conseguiu dominar o seu partido político conduzindo a posição da maioria para a extrema-direita. Ontem (09.05.2023) foi considerado culpado por crimes de abuso sexual e de difamação contra a escritora E. Jean Carroll, sendo condenado a pagar indenização de US$ 5 milhões.

Jair Bolsonaro sempre foi um político medíocre, habitante do “baixo clero” na Câmara dos Deputados. Seu maior ídolo na vida é Brilhante Ustra, um torturador sádico. É misógino, homofóbico e racista. Chegou até a presidência da República pelo somatório de fatores como uma campanha midiática anterior que demonizou o PT; por receber apoio de evangélicos; pelo disparo de milhões de mensagens falsas através das redes sociais; e principalmente porque o então favorito nas pesquisas foi afastado da disputa pela ação de um juiz corrupto. Usou slogans nazistas na campanha e no exercício do cargo, no qual se cercou de ministros incompetentes e militares. Negacionista, atrasou a compra de vacinas, causando milhares de mortes durante a pandemia.

Rato ligado a milícias do Rio de Janeiro, ele facilitou o acesso a armas. Financiado pelo agronegócio incentivou garimpo ilegal, invasão de terras indígenas e desmatamento. Liberou centenas de agrotóxicos que são proibidos em seus países de origem. Combateu duramente a educação, a ciência e a cultura. Aparelhou o Estado em tudo o que pode, tentando também controlar o Judiciário. Em mais de uma ocasião buscou apoio para dar um golpe e permanecer no poder, sem sucesso. Derrotado nas urnas, incentivou seguidores na prática de ações criminosas, como um atentado que quase deu certo, no qual explodiriam um caminhão tanque no Aeroporto de Brasília. Está sendo investigado por receber propina paga em diamantes por árabes – as joias ficaram retidas em ação de fiscal da Receita Federal – e por falsificação de documentos para entrar nos EUA. Está por trás também dos atos de 8 de janeiro, com a invasão dos palácios dos Três Poderes, na Capital Federal. E segue buscando ser referência para a extrema-direita brasileira.

Outros nomes que precisam ser citados: Nikolaos Michaloliakos é o rato grego fundador do partido Aurora Dourada, que usa símbolos nazistas e incentiva violência contra judeus, militantes da esquerda, muçulmanos, minorias sexuais e africanos. É contra a existência da União Europeia. Foi indiciado, junto com outros líderes, pela morte do rapper Pavlos Fissas, conhecido como Killah P. Rodrigo Duterte foi presidente das Filipinas até o ano passado. Sua filha Sara é a atual vice de Bongbong Marcos, filho do ex-ditador Ferdinand Marcos – a esposa de Ferdinand, de nome Imelda, era conhecida pela sua coleção de mais de dois mil pares de sapatos. Duterte agia como um “justiceiro”, chefiando um esquadrão da morte e tendo comandado mais de mil assassinatos em seu país. É contra o casamento homossexual e diz abertamente que o Vaticano é a “instituição mais hipócrita do mundo”.

Santiago Abascal é um espanhol que, mesmo sendo descendente direto de um antigo guerreiro muçulmano chamado Ab Hascal, se tornou ferrenho opositor ao que chama de “islamização da Europa”. Defende pautas moralistas em assuntos como aborto e casamento igualitário. Líder do partido Vox (Voz), surpreendeu ao vencer eleições na Andaluzia, um reduto histórico da esquerda. André Ventura é conhecido como o “Bolsonaro português”. Combate a existência de ciganos e afirma que seu país é tolerante demais com as minorias. Trata-se de mais um rato envolvido em investigações sobre fraude. É o líder maior do Chega, partido político da extrema-direita em Portugal.

Todas essas pessoas citadas, sem exceção alguma e nas duas crônicas publicadas, são contra a ciência e as artes; tentam empregar a educação para difusão ideológica; manipulam as redes sociais enquanto fingem ser defensoras da liberdade de expressão; combatem minorias; patrocinam extermínios; buscam armar as populações; desprezam a cultura;  são misóginas, homofóbicas e racistas; e fazem uso político da fé alheia se apresentando como cristãos que nunca foram de fato.

É imprescindível salientar que não haveria como descrever todo o pacote de maldades e o número de mortes que estes nomes/ratos citados causaram e causam, com suas ações e omissões, nas poucas linhas escritas sobre cada um deles. Elas servem no máximo como uma fotografia 3×4, que vem acompanhada da sugestão de que os leitores se informem mais. E, com essas informações, se deem conta do enorme risco que se corre com a radicalização fascista na atualidade.

10.05.2023

São os ratos seguidores que dão legitimidade e poder dos ratos líderes

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O bônus musical de hoje é Ode aos Ratos, de Chico Buarque e Edu Lobo, na voz de Marina Iris. No violão de oito cordas, Pedro Franco. E na percuteria, Carlos Cesar. O arranjo é de Pedro Franco.

OS LÍDERES DO CAOS – Primeira parte

Os ratos sempre estiveram aqui, no meio de nós. São uma verdadeira praga, que pode transmitir mais de 40 doenças diferentes para os seres humanos. As mais graves talvez sejam leptospirose, peste bubônica, raiva, tifo, hantavirose, triquinose e salmonelose. Mas podem ser ainda incluídas, por desagradáveis, coisas como a sarna e as micoses. Cálculos apontam para a existência de pelo menos três ratos para cada pessoa no planeta, o que significa uma população de 21 bilhões de roedores. O serviço público de saúde da capital paulista estima em 120 milhões os que vivem nas suas redes de esgoto, o que dá a razão de quase dez por um em relação aos paulistanos. E Nova Iorque recentemente criou um serviço especializado apenas para lutar contra esses habitantes que já nem mais conseguem viver tão ocultos quanto antes. O problema é que cada ratazana gesta entre oito e 12 filhotes, podendo se reproduzir de três em três meses.

Outros ratos que brotaram recentemente dos esgotos são bípedes. Mas causam tantas ou mais mortes quanto os anteriormente citados. Estes já haviam vivido na superfície em outros tempos, notadamente nas décadas de 1930 e 1940, quando um esforço global parecia tê-los exterminado. Ledo engano. De uns 20 anos para cá ressurgiram e foram tomando conta de espaços, sem nos darmos conta ou a importância devida. O resultado é que também estão requerendo um esforço coletivo para seu combate, algo que se revela não será nada fácil. Mesmo que se saiba os seus nomes e endereços, eles têm uma rede de proteção que permite sua permanência, além de espraiar a maldade que lhes é inerente. Ou seja, os “ratos mor” também se multiplicam com certa facilidade, passando a receber idolatria e anteparo dos roedores menores.

Citemos alguns deles, sem um critério muito definido de escolha além de sua notoriedade. O rato Viktor Orbán, por exemplo, fez uma aparição anterior à atual, entre 1998 e 2002, quando foi primeiro-ministro em seu país, a Hungria. Voltou em 2010 para o mesmo cargo, onde está até os dias de hoje. Ardiloso e manipulador, ele conseguiu o controle sobre a mídia e sobre o judiciário, tudo com aparência legal, aprovando leis que foram lhe dando poderes cada vez maiores. Lidera um partido feroz, de extrema-direita (Fidesz), e odeia quem mora fora de suas fronteiras e aqueles que não comungam seus pensamentos. Defende a construção de um muro que impeça a entrada de imigrantes. E expulsou do país a Universidade Centro-Europeia, que precisou mudar-se de Budapeste para Viena, na Áustria.

Outro imenso rato se criou na Ucrânia. Seu nome é Oleh Tyahnybok. Este saiu do bueiro no final de 2013, liderando protestos contra o então presidente ucraniano Viktor Yanukovych, que acabou destituído. Foi o que permitiu a chegada ao poder de Volodymyr Zelensky, que teve ainda o apoio dos EUA. Oleh ingressou no partido Svoboda (Liberdade), que tem sua origem no nazifascismo. Se declara desde sempre admirador de Stepan Bandera, um compatriota seu que atuou como colaborador direto de Hitler. Ele é antissemita e afirma, no melhor estilo das teorias da conspiração que são espalhadas pela internet, que existe um “plano judaico-russo” para dominação mundial. Apoiava a eliminação sumária de ucranianos pró-russos, nas regiões de Donbass e de Donetsk, onde mais de 14 mil pessoas foram assassinadas antes da guerra, por milícias e grupos paramilitares. Esse se tornou, ao lado dos riscos oferecidos pelas bases da OTAN, um dos dois motivos para a invasão promovida pela Rússia.

Um terceiro rato, do qual se ouve falar há mais tempo no Brasil, se chama Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense desde 2009. Líder do partido ultraconservador chamado Likud (União), é o maior opositor da proposta de criação de um estado palestino, única alternativa para que a paz de fato ocorra na região. Apenas em 2014, em uma das tantas ofensivas que costuma determinar que ocorram em Gaza, morreram mais de dois mil “inimigos” seus, sendo pelo menos 500 crianças. Seu governo chegou a bombardear um hospital da ONU. Mantém uma política de ampliação de colônias israelenses no território palestino, contra todas as advertências e apelos internacionais. Foi indiciado por corrupção e fraude, em virtude de benefícios que deu a empresários em troca de propina. Será candidato nas eleições marcadas para setembro e, como principal promessa de campanha, está dizendo que atacará militarmente a Cisjordânia, em caso de vitória.

Para mostrar que não existe restrição de gênero – apesar dos homens todos envolvidos nisso serem misóginos –, há também ratazanas neste grupo. Marine Le Pen é a líder do partido Frente Nacional, da França. Ela é uma das figuras de expressão na “nova direita” europeia. Rígida, é tão extremista quanto seu pai também político, que afirmou em 2015 que as câmaras de gás utilizadas pelos nazistas no holocausto tinham sido apenas um “detalhe” sem real importância. Le Pen quase venceu as eleições presidenciais em 2017, quando chegou ao segundo turno e acabou derrotada por Emmanuel Macron.

Citemos mais alguns, brevemente: Matteo Salvini é o principal líder do Lega (Liga), partido contra a imigração e de estrutura neonazista. Foi autor de um tuíte com slogan de Mussolini, no aniversário do ditador. Se recusou a participar das comemorações da derrota do nazifascismo e também negou a entrada de navios com imigrantes, quando era ministro do Interior. Ainda na Itália temos Giorgia Meloni, que começou sua carreira em movimento estudantil que tinha como símbolo uma cruz celta, o mesmo do movimento supremacista branco. Ex-deputada e ministra no governo de Sílvio Berlusconi, defende uma direita que chama de “pura e dura”. Atual primeira-ministra, chegou ao posto usando em sua campanha o lema “Deus, Pátria e Família”.

A lista está longe do fim, o que me obriga a antecipar que a próxima crônica dará continuidade na sistematização do nome destes “líderes do caos”. Não importa que pelagem eles tenham, em que ponto do planeta estão agindo: conhecer um pouco mais de cada um deles é o primeiro passo para que se identifique e trate as doenças altamente contagiosas que eles têm transmitido. Isso tem que ser feito com urgência, antes que a epidemia fique incontrolável.

08.05.2023

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O bônus musical de hoje é o rock dos Titãs, Bichos Escrotos. Nesta gravação, feita ao vivo em São Paulo, temos Nando Reis e Arnaldo Antunes.