BALTHAZAR ERA INOCENTE

Uma produção da Globo Play, o filme Justiça 2 conta quatro histórias diferentes, todas relacionadas a questões ligadas ao judiciário em nosso país. Uma delas é a de Balthazar Gomes da Silva, um motoboy honesto que é preso e condenado a sete anos de prisão após ter sido acusado de assaltar seus ex-patrões Nestor e Silvana. Ele vive em Ceilândia, região administrativa conurbada com Taguatinga, no Distrito Federal. Localizada na porção oeste, é a mais populosa de todas e representa cerca de 10% do PIB de Brasília e arredores. Com cerca de 360 mil habitantes, o local tem altas taxas de pobreza e uma enorme desigualdade social, sendo um prato cheio para a criação do personagem.

O assalto ao restaurante realmente ocorreu, mas foi cometido por outro motoboy e ele acabou envolvido devido à armação de Nestor. Balthazar trabalhava para sustentar sua avó, Dona Regina, e para alimentar seus próprios sonhos de melhoria de vida. Tudo termina ceifado pela injustiça do sistema. Ele perde não apenas a liberdade e o emprego, como ainda a namorada e a própria avó, que morre e ele nem sequer consegue ir ao enterro. Convenhamos, razões suficientes para que ele busque pela verdade e pela justiça, ao final.

O argumento pode até ser pueril. Todos nós já vimos dezenas de filmes que mostram alguém sendo preso injustamente. Mas, não deixa de ser positivo expor que a luta por direitos e contra preconceitos – no caso o racismo evidente, uma vez que o motoboy é negro além de pobre – tem que ser de todos e constante. A transformação que acontece com uma vítima de acusação falsa sempre é terrível. E muitas vezes transfigura quem a sofre em alguém muito distinto do que era antes.

Juan Paiva está bem no papel do jovem de Sol Nascente, a comunidade onde ele residia antes da prisão e para onde retorna depois dela. Aliás, o jovem ator nasceu e foi criado no Vidigal, na cidade do Rio de Janeiro. Ele aos oito anos de idade ingressou no projeto Nós do Morro, dedicado a ensinar arte para carentes. Quanto ao texto, também tem importância ao bater na tecla do quanto é mesmo difícil para as pessoas de regiões periféricas, marginalizadas, acessarem a justiça. Para estas não vale de modo algum a máxima de que todos são inocentes até que se prove o contrário: são todos culpados e azar o seu se não conseguirem escapar do dedo que aponta.

As outras três partes do filme acompanham narrativas sobre as vidas de Jaime (Murilo Benício), um homem que vai para a prisão por suposto estupro; Geíza (Belize Pombal), manicure que comete um homicídio para salvar a vida de sua filha; e de Milena (Nanda Costa), uma aspirante a cantora presa por latrocínio. O número dois colocado após o título se deve ao fato de ser uma sequência da série brasileira indicada ao prêmio Emmy Internacional em 2017. Seu retorno ao streaming demorou oito longos anos. As histórias foram criadas e escritas por Manuela Dias.

Em entrevista à imprensa, Manuela revelou que sua inspiração vem da realidade. Que esta é plena de histórias brutais, plenas de contradições, violências e injustiças. Segundo ela, é dever da dramaturgia abordar assuntos delicados para a sociedade, como o racismo, na busca de provocar reações. Além dos atores e atrizes que vivem os protagonistas, Justiça 2 conta com atuações de Fábio Lago, Marco Ricca, Xamã, Maria Padilha, Alice Wegmann, Paolla Oliveira, Júlia Lemmertz, Danton Mello, Marcello Novaes e Filipe Bragança no elenco, entre outros nomes.

21.06.2025

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O bônus de hoje é o áudio do samba Justiça Social, de Bezerra da Silva.