Dezembro de 2010. O Ministério Público do Rio Grande do Sul passa a investigar o ex-coordenador da base do Grêmio, José Alzir Flor da Silva, após denúncia por assédio sexual, maus tratos e coação. Ele trabalhara por longos 25 anos no clube. A Vara de Infância e Juventude de Porto Alegre aprecia o caso e fica comprovado o crime contra pelo menos três dos meninos, com idades entre 11 e 13 anos. Em entrevista concedida ao Jornal da Globo, o promotor Alexandre Spizzirri afirma que José Alzir se aproveitava do uso comum dos alojamentos e, com essa proximidade e a condição superior que exercia, facilitavam os atos. Os casos apurados teriam ocorrido entre 2008 e 2009.

O então presidente do Grêmio, Duda Kroeff, faz o que deveria ser feito e o demite. Toda a estrutura é revista e melhorada, blindando os futuros craques gremistas e tomando as providências necessárias para que isso jamais se repita. Julgado e condenado a nove anos de prisão em regime fechado, ele fica foragido desde 2016 no Paraguai. Em 2019, acreditando ser difícil que ainda o procurassem, vem até o Balneário Pinhal e termina sendo capturado na casa de um familiar. Acontece que um jornalista do El País o havia localizado em maio do ano anterior, em Ciudad del Este. Por incrível que pareça, estava trabalhando como gerente de futebol no Club Atlético 3 de Febrero, de onde fugiu imediatamente depois. Mas, este foi o gatilho para que o monitoramento dos seus passos fosse feito, até resultar na sua prisão.

José Alzir atualmente move uma ação trabalhista contra o tricolor. Afinal, imaginem o “abuso” cometido pelo clube ao ter afastado um profissional pedófilo. Ele quer ser indenizado. Essa situação só não é pior e mais esdrúxula do que o fato da Federação Gaúcha de Futebol ter escalado o seu filho Douglas Schwengber da Silva para ser árbitro de vídeo no jogo decisivo entre Grêmio e Juventude, que aconteceu no último sábado, na Arena. É óbvio que ser filho do condenado não torna Douglas culpado de nada, previamente. Mas, o evidente conflito de interesses e o enorme risco que isso tornava claro, deveria ter sido o suficiente para que o fato fosse evitado. Não foi.

No desenrolar da partida, omissões e decisões tomadas por ele foram consideradas escandalosas por praticamente a unanimidade de todos os profissionais envolvidos na cobertura. A primeira foi não ter chamado o árbitro de campo, Jonathan Pinheiro – apelidado de Babalu – após o cometimento de um pênalti claríssimo. O zagueiro esmeraldino Abner chutou por trás Monsalve. A imprensa esportiva, incluindo a de fora do Estado e, portanto, aquela não contaminada pela disputa Grenal, foi unânime em apontar o erro crasso. Tem vídeo no final deste texto: vá conferir por conta própria. O Grêmio já vencia por 1×0 e poderia assim sacramentar a vitória, o que iria encaminhar a vaga para a final onde pretende lutar pelo octacampeonato. Depois disso, em pelo menos três outros momentos Douglas foi também infeliz ou incompetente – uma vez que não se pode afirmar ter havido má fé.

Me refiro à agressão sofrida por Cristian Olivera, que recebeu cotovelada no rosto e o adversário levou cartão amarelo. Ele não recomendou, como deveria, a reavaliação da cor do cartão. Braithwaite, antes disso, levara um soco direto no rosto, outra vez sem que ele chamasse a atenção do árbitro. E um terceiro gol do Grêmio foi anulado após ele ter chamado o juiz. Esta decisão, embora tenha sido acertada, serviu para agravar o erro maior, do pênalti não marcado. Isso porque foi o mesmo tipo de falta por trás: se viu a menor e mais sutil, no meio do campo, evidenciou ter fechado os olhos para a mais evidente e clara, dentro da área.

Tudo isso fica ainda potencializado pelo fato de, na mesma semana, o Internacional ter vetado Daniel Nobre Bins do comando do VAR, por ter ele indicado um pênalti a favor do Grêmio no último Grenal. Leandro Vuaden, estrelense e colorado, o afastou após veto público feito por D’Alessandro. O ex-jogador costumava apitar quando estava dentro do campo: segue fazendo isso, agora que é dirigente colorado. Com a justa “chiadeira”, há solicitação formal do tricolor por arbitragem de fora do RS, caso consiga superar o Juventude no jogo de volta, sábado próximo, no Alfredo Jaconi. Pedido que, obviamente, não será atendido. Mesmo que vise apenas a lisura da competição.

25.02.2025

P.S.: Logo mais à noite o Juventude estará jogando contra o Maringá, fora de casa, pela Copa do Brasil. Tem ele toda a minha torcida, do mesmo modo que eu fazia, quando menino, no seu estádio em Caxias do Sul.

Este foi o jogo com mais situações polêmicas do Gauchão 2025, até agora

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O bônus de hoje é o vídeo do pênalti surrupiado. E, depois dele, temos o áudio da música É Ladrão Que Não Acaba Mais, com o magistral sambista pernambucano de nascimento, Bezerra da Silva (1927-2005).

É Ladrão Que Não Acaba Mais (Bezerra da Silva)


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2 Comentários

  1. os caras erram por que são fracos! Não é porque vestem camisa vermelha, azul ou verde. A verdade é que o var erra pra todos! Provavelmente se tivesse errado no mesmo lance contra o juventude, você nem estivesse fazendo este post. Na final do gaúcho do ano passado, não marcaram um pênalti claro pro juventude, poderia ser 2×0 pro time de Caxias que já tinha 1×0 no placar. Isso aí dificilmente vai mudar. Sempre haverá um time ou outro inconformado com os erros do var. Infelizmente essa é a realidade. Menos mal é que o grêmio venceu o jogo, neste caso específico. Se der grenal na final, que é a tendência, imagina só o que teremos de bate boca em caso de pênaltis duvidosos. Abraços.

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    1. Erros são normais, sim. Mas, estatisticamente anda acontecendo algo bem estranho. E, no caso específico abordado no texto, não pode de modo algum ser escalado alguém que tem histórico familiar de problemas contra UM DOS LADOS. Abraço!

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