Preciso iniciar apresentando a situação, para que se entenda melhor a história. O pequeno e fictício país chamado Fenwick – partindo a palavra inglesa em dois teríamos a tradução literal de Pavio de Feno – está em estado falimentar. Sua economia era baseada em um único produto de exportação, o vinho. Mas o principal comprador, os EUA, conseguiram um similar muito mais barato e deixaram de importar. A Duquesa Gloriana, então governante, termina sendo convencida pelo primeiro-ministro Mountjov a seguir um plano mirabolante. A ideia era declarar guerra aos norte-americanos, com o único propósito de perder e, posteriormente, obter financiamento que permitisse a “reconstrução” do país, que se trata de um grão-ducado que faz fronteira com a França e a Suíça.
A declaração, ao chegar ao Ministro das Relações Exteriores dos EUA é completamente ignorada, sendo até motivo de riso. Ele imagina se tratar de uma brincadeira de mau gosto, um trote. E a deixa perdida no meio da papelada rotineira do serviço diplomático. Entretanto, liderados pelo almirante Bascomb, 22 corajosos arqueiros já haviam partido, em navio mercante, para realizar o ataque. Quando chegam em Nova Iorque, se deparam com a cidade praticamente deserta, com a população ocupando abrigos subterrâneos devido a testes que estariam sendo feitos com uma nova e poderosa Bomba Q, com força capaz de destruir um continente inteiro.
Os invasores se encontram então com o criador do artefato, por puro acaso. E o sequestram, junto com a filha, alguns oficiais do exército americano e a arma mortal, levando todos para Fenwick. A população local os recebe com bandeirinhas cheias de listras e de estrelas, prontos para saudar quem deveria ter vencido a “guerra”. E fica incrédula diante do final inesperado, que foi atingido sem que sequer um tiro – ou uma flecha – fatal fosse disparado. Não resta outra alternativa ao Tio Sam a não ser a rendição. O menor país do mundo havia derrotado uma superpotência.
O que acontece daí em diante não vou contar, pois já dei spoilers em demasia. Mas a história, realmente muito imaginativa, está no filme O Rato Que Ruge, uma comédia britânica de 1959, dirigida por Jack Arnold. Ela é baseada no livro homônimo que havia sido escrito quatro anos antes pelo irlandês Leonard Wibberley. A obra literária integrava uma série que satiriza a política internacional e aborda outros temas que afligiam o mundo, naquela época. O ator Peter Sellers faz três dos papéis: a Duquesa, o Primeiro-Ministro e o Marechal. E o seu “par romântico” é a atriz Jean Seberg, que vive Helen Kokintz.
Quem distribuiu o filme foi a Columbia, empresa que terminou também sendo alvo de uma brincadeira da equipe de produção. Na abertura, a tradicional imagem da mulher que aparece em todos os seus filmes se assusta com a presença de um rato e sai correndo. O mesmo volta a acontecer quando da apresentação dos créditos, no final, só que as imagens são exibidas na ordem inversa. Evidente que pela época em que foi feito ele não usa os recursos que atualmente estão à disposição dos cineastas, em especial tratando-se de efeitos visuais. Mas o seu argumento é ótimo e os atores entregam boas interpretações. Com a ironia ao apresentar o que seja vencer ou perder, a força militar e a questão econômica como fatores de hegemonia, ele é completamente atual e merece ser visto. Há como encontrar DVDs em mercados na internet, baixar de clubes de cinema e quem sabe, com um pouco de sorte, ver na lista de algum serviço de streaming.
25.06.2021

No bônus de hoje a música Vencedor, com Los Hermanos, em gravação feita ao vivo em 2019.
História oportuna para uma reflexão sem sofrimento. Um bom momento para recarregar as energias sem apelar para a alienação. Estamos precisando disso.
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