Mais de 600 obras originais de Andy Warhol (1928-1987), que foi um dos ícones mundiais da cultura da segunda metade do Século XX, estão expostas no Museu de Arte Brasileira, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), uma instituição de ensino superior privada, localizada em São Paulo. Trata-se de uma oportunidade ímpar para se conhecer um pouco do trabalho do criador da Pop Art, o homem que revolucionou a forma de se ver e conceituar o que deve ser identificado como arte. Compõem esse acervo inclusive as serigrafias conhecidas por todos, com as imagens de Marilyn Monroe e das latas de sopa da marca Campbell’s. Tudo veio diretamente do The Andy Warhol Museum, que fica em Pittsburgh, EUA, a cidade natal do artista.

Seu nome de batismo era Andrew Warhola Jr., tendo seus pais vindo da Eslováquia durante a Primeira Guerra Mundial. Profissionalmente, iniciou como ilustrador comercial. Depois concentrou seu trabalho como artista visual, ainda no final dos anos 1950. Era o começo de uma trajetória que ficou marcada pela polêmica, florescendo de vez ao longo da década de 1960. Sua técnica incluía pintura, fotografia, escultura e especialmente serigrafia, recurso do qual foi um dos precursores no meio. O estúdio que fundou em Nova York, o The Factory, se tornou ponto de encontro de intelectuais, celebridades e patronos abastados, do mesmo modo que acolhia drag queens e boêmios, gente de Hollywood e esportistas de enorme destaque.

Além das serigrafias já citadas Campbell’s Soup Cans (1962) e Marilyn Diptych (1962), também há outros trabalhos expressivos e marcantes, como os filmes experimentais Empire (1964) e Chelsea Girls (1966), que estão em São Paulo. Afinal, também na “sétima arte” ele andou pondo o seu talento. Multimídia por excelência, Andy ainda gerenciou e produziu a banda de rock The Velvet Underground – há várias referências ao grupo no local, como fotos e capas dos seus LPs – e fundou a revista Interview, muito presente na exposição.

Autor de vários livros, como The Philosophy of Andy Warhol e Popism: The Warhol Sixties, sua vida também teve inúmeros momentos que mais lembravam literatura e cinema. Como quando quase foi morto a tiros por Valerie Solanas, uma feminista radical, dentro de seu próprio estúdio, em junho de 1968. E também teve situações que exigiam coragem, como ao se assumir abertamente gay, muito antes do necessário movimento de libertação – o marco fundamental na luta pelos seus direitos foi em junho de 1969, com a chamada Rebelião de Stonewall (1).

Voltando a falar especificamente da exposição, há retratos de inúmeras personalidades ligadas ao cinema, indo de Sylvester Stallone até Alfred Hitchcock; a universos da música, com um passeio de Michael Jackson a Ludwig van Beethoven; do esporte, como Pelé e Muhammad Ali; e de gênios como Albert Einstein. Isso tudo junto a desconhecidos que, nas aparições, confirmam a máxima difundida pelo próprio Andy, de que no futuro todas as pessoas ainda teriam os seus “15 minutos de fama”. Aliás, mesmo que tal frase seja atribuída a ele, pesquisadores apontam para o fato do escritor brasileiro Lima Barreto a ter utilizado, ainda em 1911. De um ou de outro a originalidade, ela vale para descrever toda a efemeridade da fama nas sociedades moderna e contemporânea.

É possível aos visitantes observar pinturas que questionam os limites entre a vida e a morte, como a série com cadeiras elétricas. Ou todo o conjunto dedicado a personagens políticos da sua época, com destaque para Mao Tse-tung. Ou ainda as surpreendentes obras feitas com urina de convidados derramada sobre telas revestidas previamente com tinta metálica, que sofreram com isso reação química. Isso além do muito abstrato e enorme teste de Rorschach (2).

A verdade é que ninguém se arriscou tanto e simultaneamente em áreas tão distintas, como artista. Sua produção tinha volume industrial, sendo que ele de fato usava métodos mecânicos de reprodução. Ampliava ao máximo sua circulação. Tornava a arte banal, paradoxalmente sem que ela se tornasse trivial. Agora, ao mesmo tempo em que questionava de modo contundente a sociedade de consumo, tornava-se ele próprio um produto e um midas que convertia em ouro tudo em que tocava.

Após uma cirurgia na vesícula biliar, Andy morreu vitimado por arritmia cardíaca em fevereiro de 1987, aos 58 anos, na cidade de Nova York. Sua obra, como pode se ver, continua muito viva e atual. A exposição, que é a maior dedicada ao estadunidense já feita fora dos EUA, ficará na FAAP até o dia 30 de junho, com visitação entre 9 e 20 horas, de terça a domingo. Utilizando dois espaços amplos, localizados no térreo, ela ainda se desdobra pelas paredes que as une com várias reproduções de vacas cor-de-rosa. O artista teria gostado de ver como ela foi formatada.

19.06.2025

(1) A Rebelião de Stonewall foi tema deste blog em 27 de junho de 2023. Para reler, use o link https://wp.me/p1jFYb-1zq.

(2) O teste de Rorschach é um método de avaliação psicológica projetiva utilizado para analisar a personalidade. Consiste em apresentar para o paciente cartões com manchas de tinta simétricas e solicitar que seja descrito o que ele vê em cada imagem. Depois são buscados padrões e características para a interpretação.

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O bônus de hoje é o áudio da música Andy Warhol, que foi composta por David Bowie para o seu álbum “Hunky Dory”, de 1971. A interpretação é da banda californiana Stone Temple Pilots.


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