São raros os frutos piores do que aquele resultante do cruzamento da saudade omissa com o arrependimento. Lembrar de um tempo que passou e no qual não se fez algo que deveria ter sido feito. Não ter apostado em alguém que merecia e muito o nosso apoio; não ter pedido desculpas por algum erro e a pessoa não estar mais entre nós; ter posto fora, seja por descaso ou por descuido, algumas amizades sinceras.
A saudade por si só já é um sentimento carregado de nostalgia, o que não significa que seja necessariamente algo triste. Ela registra ausência e isso tem melancolia sempre, sem que precise existir um combo dela com algum tipo de dor. Usei associado o termo “omissa” porque, nesta abordagem, a referência que faço é sobre o não feito. De um modo bastante simplificado, em geral ela relembra – ao contrário desta minha proposta – aquilo que houve de bom, podendo ou não voltar a existir, jamais evocando algo de ruim, que tomara nunca mais aconteça. Entretanto, quando é sobre algo que não houve, o sentimento é distinto e pode até ser mais intenso. O que não se tem como negar é que ela, a saudade, se trata de uma das tantas filhas das nossas lembranças. Não existiria sem memória.
O arrependimento, por sua vez, é um sentimento que sempre traz junto consigo pesar, contrição, remorso e lamentação. Ele é um dos filhos da consciência, que teima em nos apontar algo que se fez – ou deixou de fazer – de modo errado. Ou seja, podemos nos arrepender por ações ou também devido a omissões. Ele nos cobra por falha, por equívoco em alguma decisão. Agora, pior do que a escolha mal feita, que pode talvez ser refeita ou atenuada por outra, é a que não foi feita.
A saudade é um vazio pela falta; o arrependimento é um recipiente cheio de presença – física ou não – indesejada. Na saudade que não é omissa se quer aquele alguém ou algum fato de volta; no arrependimento desejamos que nunca tivesse existido ou que o acontecido fosse outro.
A saudade leve acalenta o coração. Aquece mesmo. É um reviver suave e agradável. Mas, quando ela nos pesa, pode se tornar patológica, ferir nossa existência, abalar nosso dia-a-dia. O arrependimento também tem essa possibilidade ruim. Em ambos os casos, se faz necessário que se enfrente a situação com seriedade. Porque as consequências podem ser graves, tanto psicológicas quanto físicas. Dependendo da pessoa, ocorre irritação ou apatia, dificuldade para dormir ou aquele desânimo de querer ficar o tempo todo na cama. Pode alterar nossa produção de cortisol, o tal hormônio esteroide que estabiliza o metabolismo, nos prepara para que se responda a ameaças e ajuda a lidar com o estresse. Ou seja, aquele que regula humor, motivação e medo, sendo produzido pelas glândulas adrenais.
Não existe como ser uma pessoa “normal” sem que se enfrente tanto saudade quanto arrependimento, em vários momentos da vida. A grande questão reside em como encarar as situações. Um conselho básico para essas duas ocasiões é dividir o fardo. Falar sobre, com alguém de nossa absoluta confiança ou recorrer a um profissional da psicologia, se estiver tudo além de limites aceitáveis. É nos descobrirmos humanos, com pleno direito ao choro e ranger de dentes, eventuais gritos e outros tipos de extravasamento.
Esses fatos também podem auxiliar no autoconhecimento. No descobrir de habilidades para quem se livra deles com arte, convívio, música, ar livre ou atividade física – distração também ajuda. Porque de tudo se pode tirar ensinamentos, se pode ampliar a aprendizagem. O que, no fundo, se trata da razão de estarmos aqui.
28.04.2025

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