Essa semana o homem que havia intermediado o trabalho análogo à escravidão, que atendia vinícolas da Serra Gaúcha – prefiro não chamar de empresário, porque isso seria injusto com aqueles que realmente o são –, publicou um vídeo seu nas redes sociais pedindo ajuda. Isso está virando moda. Não foi apenas o ex-presidente Jair Bolsonaro, supostamente em solicitação indireta feita em seu nome; nem o apelo com carinha triste feito por Carla Zambelli, para pagar multas: tem pipocado esse tipo de súplica, em geral feito por “injustiçados” divulgando suas chaves PIX. Esse, da falcatrua desumana descoberta em Bento Gonçalves, não foge à regra.

Com uma Bíblia na mão, em súbito e conveniente acesso de fé, diz ele que sua vida foi prejudicada, que não tem mais recursos nem para poder sustentar sua defesa e sobrevivência. Ou seja, pode estar agora em uma situação semelhante àquela que antes submeteu os 180 trabalhadores que havia aliciado. Pessoas que viviam longe de suas famílias, morando em alojamento precário, sem condições de higiene, consumindo comida azeda e sempre tendo dívidas para pagar, o que dilapidava seus parcos ganhos e impedia que fossem embora. As instalações elétricas dos dois locais superlotados que esses funcionários ocupavam também ofereciam risco à segurança, sendo outro agravante.

O aliciador Pedro Augusto Oliveira de Santana, baiano como quase todos que iludiu com falsas promessas, nunca foi ingênuo. Pode, isso sim, ter sido ignorante o suficiente para desconhecer que a corda rebenta sempre no ponto mais fraco. As três poderosas vinícolas denunciadas seguiram em frente, vendendo seus produtos e faturando muito alto. O refluxo nas vendas foi breve o suficiente para não abalar o justo prestígio que a qualidade dos produtos já havia amealhado, com o tempo de mercado. Mais do que isso: as duas primeiras receberam subsídios dados pelo Governo Eduardo Leite pouco antes da descoberta deste fato vergonhoso. E a terceira obteve ajuda posterior, de nada menos do que R$ 40 milhões. Além disso, numa demonstração de desagravo, apenas para se ter uma ideia do poder econômico, a maior rede de comunicação do Estado fez questão de realizar evento no qual vinhos e espumantes de pelo menos uma dessas marcas foram oferecidos aos presentes. O que ocorreu ainda no auge do escândalo.

Bastou que a fiscalização fosse melhor feita, o que ocorreu a partir de janeiro deste ano, para que aumentassem em muito os casos de trabalho análogo à escravidão, em nosso país. Até o mês de maio já eram 2.588 violações registradas. Lembremos que o combate havia sofrido um profundo corte de pessoal e recursos, em 2018, propiciando a volta à barbárie, ao círculo de precariedade. A lei prevê como criminosas ações como submeter o trabalhador a jornadas exaustivas, sujeitá-lo a condições degradantes, a trabalhos forçados, transportar para outras localidades para fins de sua exploração e restringir locomoção em razão de dívidas. Denúncias podem e devem ser feitas através do Disque 100.

Santana assegura que as acusações feitas contra ele são injustas e não procedem. Como se lá na Bahia cada um deles tivesse visto a oferta de emprego em algum classificado e se deslocado para o Sul por conta própria. Também deve ter sido obra do acaso que todos terminaram se “hospedando” naqueles dois únicos locais, assim como passaram por decisão própria a fazer suas compras – por valores superfaturados – na mesma quitanda. Além disso, não satisfeitos, eles mesmos contrataram os serviços de policiais militares de folga para aplicação de “corretivos” e uso de spray de pimenta em seus olhos, quando não obedeciam a certas determinações. Ou seja, era um bando não apenas de vagabundos como também todos masoquistas. Tem que ser muito crente mesmo para acreditar nessa hipótese. Haja Bíblia!

25.10.2023

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É inaceitável exploração de trabalhadores, submetidos a condições desumanas

O bônus de hoje é o áudio de Fábrica, canção de Renato Manfredini para o Legião Urbana.

Legião Urbana – Fábrica

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