Eu sempre fui obcecado por assuntos relacionados à percepção do que seja o tempo, assim como em temas ligados ao tempo e à memória. Leio tudo o que posso sobre isso e também me arrisquei a escrever, algumas vezes. Só o que se sabe, em termos conceituais e praticamente consensuais, é que ele – o tempo – se trata de uma quarta dimensão, que se soma às três outras que são físicas e nos permitem, todas juntas, que se tenha noção da realidade. Se bem que vemos apenas estas últimas citadas, enquanto a primeira apenas é sentida. Você olha um objeto e sabe que ele tem comprimento, largura e profundidade. Pode até saber quando o adquiriu e, portanto, dimensionar um período de convívio com ele. Mas não vê nem ouve, não pode tocar, sentir gosto ou cheiro do tempo. Ele escapa a todos os cinco sentidos, que são nossas portas de troca com o mundo material. Isso tudo o faz ser presença sem estar presente.

Os ponteiros dos relógios giram, se bem que hoje em dia quase todos são digitais. Nesse caso, os números se sucedem. Do mesmo modo, se pode observar a areia escorrendo entre os dois lados da ampulheta. Ou dolorosamente notarmos no espelho que de fato o tempo passa. Então, a noção exata desta quarta dimensão não existe, sobrando apenas uma projeção. O tempo deve estar aqui, porque deixa rastros. Deste modo, se não se pode ser totalmente conclusivo sobre as quatro dimensões, como seríamos com o nada, que se trata no fundo de dimensão nenhuma? Me refiro agora a isso porque seria a ausência também das outras três dimensões, aquelas que são palpáveis.

O Universo teve um início e sabe-se lá se terá um fim. Mas a condição humana não nos permite entender o que haveria antes dele. Fala-se que era o nada, mas este nada é impossível de ser interpretado pelos nossos sentidos – do mesmo modo que o tempo – e apanhado pelos nossos pensamentos. É ausência, mas falar que algo está ausente é ter antes a noção do que seja esse algo que se ausentou. Só que não havia o que se ausentar, uma vez que não existia a existência. Voltando ao tempo, o conhecimento científico aponta para um instante zero, que seria o que se convencionou chamar de “Big-Bang”. Religiões preferem chamar isso de “o momento da criação”. Por uma ou por outra ótica, aquele teria sido o instante zero do tempo e o surgimento da primeira matéria.

Seja uma ou outra a origem, ou podendo ambas serem na verdade a mesma, com Deus sendo o gatilho da grande explosão ou sendo Ele a própria, antes não havia nem espaço nem tempo. E se filosoficamente nos perguntamos “onde estava Deus até então”, a questão se perde porque o “onde” pressupõe lugar, que depende de espaço, que não havia sido criado. Hoje em dia a ciência até admite que o Universo não seja infinito. Mas, não sendo, o que existe além do seu final? E como dizer que há uma fronteira entre seu limite e o início do nada, se não entendemos o nada? Essa borda, essa linha separatória, também se torna impossível.

Não bastasse toda a ansiedade que tamanha ignorância nos traz, vem Albert Einstein e complica tudo. Com ele, o tempo que antes era absoluto se torna relativo. Fica provado que não passa de forma igual em lugares diferentes no cosmos. Ele tem variações conforme o campo gravitacional e a velocidade. Resta então como uma última abstração se discutir a razão pela qual em tese ele se desloca apenas e sempre adiante, sem a possibilidade de retorno. Se nas outras dimensões posso ir e voltar para a direita e para a esquerda, para a frente e para trás, para cima e para baixo, por que não existe a possibilidade de se recuar nele, mas apenas avançar?

Para o não enlouquecimento se aplicou números a ele. E também se tratou de associá-lo, por exemplo, ao movimento dos astros. Assim, só tenho xis anos de idade porque se arbitrou que cada translação da Terra ao entorno do Sol seria contada como um ano. E que os dias e as noites seriam divididos em 24 horas cada passagem somada de um e outra. Agora era a rotação do planeta a referência. Vejam que vira e mexe usamos esse termo, sem o qual as coisas ficam ainda piores, mais difíceis de serem compreendidas: referência. Só se sabe que algo é grande se comparado a outro menor; só se sabe o que seja antigo por existir o mais novo. Em ambos os exemplos, o espaço e o tempo estão referenciados.

Pelo que coloquei acima, notem que algo ou alguém só é porque existe o outro. Do mesmo modo que apenas nos deslocamos porque há aquilo que parece parado, mesmo que nada esteja de fato parado. Ocorre que tudo está sempre se deslocando, mas quando dois ou mais objetos se deslocam juntos e com mesma direção e velocidade, parecem estar imóveis. Para concluir, voltemos à memória, elemento citado lá atrás, no primeiro parágrafo. Tente lembrar de algo sem associar a lembrança a algum momento ou determinado local. É uma tarefa impossível. Tudo está ou esteve em algum lugar; tudo se passa ou se passou em algum tempo. Mesmo que nosso corpo seja tão concreto quanto as três dimensões do espaço e nossa mente tão abstrata quanto à dimensão chamada tempo, nisso transitamos e neste conjunto somos o que somos. Apesar de a ciência estar agora disposta a provar que existem ainda outras dimensões além dessas. Mas daí, nesse momento e aqui diante do computador, já seria loucura demais buscar entender isso.

17.06.2023

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1 Comentário

  1. Belo texto. Gostei muito, pois me faz pensar. Este é um assunto que me fascina. Mas também confunde minha cabeça! Gosto muito de ver aquelas imagens restauradas no YouTube de 1900, 1910, 1920, etc. New York, França, Alemanha, etc. Ali é que tenho uma noção que estou literalmente voltando no dempo, de verdade. Só não posso interagir, nem interferir naqueles registros, mas da a impressão que compreendo um pouco melhor este tema que tanto me funde minhacabeça. Quem não viu, procura no YouTube que existem registros fantásticos sobre um passado que fascina. Parabéns por abordar novamente este assunto. Grande abraço!

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